© Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved. (Editado por Vitor Carvalho, © MHD)

Looney Tunes: Daffy e Porky Salvam o Mundo – Análise

Looney Tunes sempre foi sinónimo de caos criativo, mas nunca imaginei que em 2025 estaria a escrever sobre o regresso triunfal de Daffy e Porky aos cinemas numa aventura completamente original.

Depois de décadas de Space Jams questionáveis e compilações de episódios antigos mascaradas de filmes, as nossas queridas personagens da Warner finalmente receberam o tratamento que mereciam: um filme feito de raiz, animado à mão, e com tanto amor pela fonte original que quase nos faz esquecer os anos de negligência corporativa. “Daffy e Porky Salvam o Mundo” não é apenas um filme, é uma declaração de guerra contra quem pensa que a animação 2D morreu.

Lê Também:
O segredo por trás do sucesso dos filmes de animação em Portugal

O milagre cinematográfico que quase não existiu

Looney tunes - O Filme
© Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved.

A história por trás deste filme é quase tão dramática quanto a própria trama. Originalmente pensado para a HBO Max, “The Day the Earth Blew Up” (título original) foi praticamente abandonado pela Warner Bros Discovery durante a infame gestão de David Zaslav, que parecia determinado a transformar tudo em baixas fiscais. Foi preciso uma distribuidora independente, a Ketchup Entertainment, comprar os direitos para que pudéssemos finalmente ver esta obra-prima nos cinemas.

Assim, Pete Browngardt, o realizador por trás da excelente série “Looney Tunes Cartoons”, conseguiu algo que parecia impossível: criar o primeiro filme original dos Looney Tunes completamente em 2D na história. Não é compilação, não é live-action híbrido, é puro, genuíno, desenho animado clássico transportado para 2025 com uma energia que nos faz lembrar porque nos apaixonámos por estes personagens em primeiro lugar.

Mas, o mais impressionante é que este filme existe numa era onde tudo tem de ser CGI para ser levado a sério pelos estúdios. Ver animação 2D no grande ecrã tornou-se um evento tão raro que quase nos esquecemos da magia única que só esta arte consegue proporcionar. Portanto, cada frame respira com a personalidade inconfundível da era dourada da animação americana.

Uma aventura alienígena dos Looney Tunes

Looney Tunes
© Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved.

A narrativa é deliciosamente simples: um meteoro contamina uma fábrica de pastilha elástica, transformando quem mastiga em zombies, tudo parte de um plano alienígena para dominar a Terra. Daffy e Porky, agora irmãos adotivos criados pelo memorável Farmer Jim, têm de salvar o mundo enquanto tentam juntar dinheiro para reparar o telhado da sua casa. É exatamente o tipo de premissa absurda que os Looney Tunes sempre fizeram melhor que qualquer um.

Pub

O que surpreende é como o filme consegue dar profundidade emocional às personagens. A relação entre Porky (o irmão mais velho sensato) e Daffy (o caos incarnado) funciona, aproveitando décadas de dinâmica estabelecida mas acrescentando camadas genuínas de afeto fraternal. Quando Jim aparece no ecrã,  com uma criação visual hilariante que parece ter saído de uma pintura a óleo, percebemos como Browngardt compreende profundamente o ADN dos Looney Tunes.

A inclusão de Petunia Pig como cientista de sabores é inteligente. Em vez de criar uma personagem feminina de raiz, os guionistas pegaram numa figura praticamente esquecida do universo e deram-lhe personalidade e propósito. Eric Bauza, a voz de ambos Porky e Daffy, entrega uma performance que honra os originais enquanto traz algo fresco e moderno.

Lê Também:
Morreu Ricardo Neto, lenda da animação portuguesa

Pub

Animação que faz os olhos dançar

Looney Tunes
© Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved.

Visualmente, este filme é uma carta de amor à era de Bob Clampett dos Looney Tunes. As expressões são extremas, os movimentos fluidos, e há uma energia maníaca em cada cena que nos lembra porque a animação desenhada à mão continua a ser superior ao CGI para este tipo de comédia física. Quando Daffy estica o bico ou o Porky gagueja, cada frame foi criado por um artista que sabe o que está a fazer.

Pub

Os cenários conseguem esse equilíbrio perfeito entre nostalgia dos anos 40 e sensibilidade moderna. Sim, há smartphones, mas o mundo ainda respira com aquela inocência atemporal que fazia os originais funcionarem tanto para crianças como para adultos. Há uma sequência com um monstro de pastilha que é genuinamente assustadora, de uma boa maneira, que nos faz rir nervosamente enquanto nos escondemos ligeiramente atrás das mãos.

A paleta de cores e o design de produção conseguem algo notável: parecem simultaneamente clássicos e contemporâneos. Mas não é nostalgia barata, é evolução respeitosa. Logo, cada elemento visual, desde os fundos pintados à mão até aos efeitos de partículas, serve a narrativa e a comédia de forma orgânica. É animação como arte, não como produto comercial descartável.

O regresso que não sabíamos que precisávamos

Looney Tunes
© Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved.

“Daffy e Porky Salvam o Mundo” é mais que um filme, é uma demonstração de que ainda existem pessoas na indústria que compreendem o que torna os Looney Tunes especiais. Não precisa de celebridades famosas a fazer vozes (*cof cof* Zendaya *cof cof*), não precisa de referências culturais datadas, não precisa de se desculpar por ser um desenho animado. É puro, é divertido, e é feito com tanto amor que até perdoamos alguns momentos que arrastam a narrativa.

Assim, o filme funciona em múltiplos níveis. As crianças vão rir-se das palhaçadas e caos constante, enquanto os adultos vão apreciar as referências aos clássicos e a sofisticação técnica da animação. É essa universalidade que sempre definiu os melhores trabalhos dos Looney Tunes, entretenimento genuíno que não condescende com a audiência.

Nota Final: 8/10 gaguejos do Porky que nos lembram porque ainda vale a pena ir ao cinema

Num mundo onde a Warner Bros parece determinada a transformar todas as suas propriedades em sagas cinematográficas, este filme representa uma resistência criativa. É uma prova de que ainda há lugar para animação feita com alma, onde cada segundo no ecrã foi pensado por pessoas que genuinamente se importam com o resultado final. Quando foi a última vez que saíste do cinema a rir-te, sem cinismo, apenas com a alegria pura de teres visto algo verdadeiramente divertido?

Looney Tunes: Daffy e Porky Salvam o Mundo - Análise

Movie title: Looney Tunes: Daffy e Porky Salvam o Mundo

Movie description: Daffy Duck e Porky Pig estão de volta ao grande ecrã numa comédia animada repleta de caos e gargalhadas. Entre explosões, desastres impossíveis e piadas tão absurdas quanto geniais, a dupla, agora acompanhada por Petúnia Pig, embarca numa missão improvável: salvar o mundo de uma ameaça alienígena. É o regresso em grande estilo do humor desenfreado que só os Looney Tunes conseguem entregar.

Date published: 21 de August de 2025

Country: EUA

Duration: 91'

Director(s): Peter Browngardt

Actor(s): Eric Bauza, Candi Milo, Peter MacNicol, Wayne Knight

Genre: Comédia, Aventura, Sci Fi

[ More ]

Conclusão

  • “Daffy e Porky Salvam o Mundo” prova que a animação 2D ainda tem um lugar vital no cinema, oferecendo uma experiência criativa, ousada e emocionalmente rica que honra a tradição dos Looney Tunes sem cair em nostalgia vazia.

  • Mais do que um regresso, é um manifesto artístico contra a homogeneização do entretenimento, lembrando-nos que rir com desenhos animados pode ser tão genuíno e especial em 2025 como foi na era dourada da animação. Nota Final: 8/10 gaguejos do Porky que nos lembram porque ainda vale a pena ir ao cinema

Overall
8/10
8/10
Sending
User Review
0 (0 votes)

Pros

  • Filme animado totalmente em 2D, feito de raiz, com amor e respeito.

  • Premissa absurda e divertida, fiel ao espírito clássico dos Looney Tunes.

  • Relação emocional bem construída entre Porky e Daffy.

  • Inclusão inteligente de Petunia Pig, reaproveitando uma personagem esquecida.

  • Animação vibrante, expressiva e fluida, inspirada em Bob Clampett.

  • Sequências memoráveis (como o monstro de pastilha elástica).

  • Humor universal: funciona tanto para crianças quanto para adultos.

Cons

  • Alguns momentos da narrativa arrastam, podendo diminuir o ritmo da comédia e da história.
  • Risco de ser visto como um caso isolado em vez de reiniciar uma tradição consistente de animação 2D.
  • Pode não agradar quem prefere CGI moderno ou efeitos visuais mais “polidos”.
  • Referências à era clássica podem não ressoar com públicos muito jovens que não conhecem os Looney Tunes originais.

About The Author


Leave a Reply