Margin Call: O Dia antes do Fim – DVD em análise

Título original: Margin Call

Realizador: J.C. Chandor

Atores: Zachary Quinto, Kevin Spacey

Pris | 2012 | 1.78:1 | Dolby Digital 5.1 | 102 min

Classificação:

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Muitos de nós, comuns mortais, não estão familiarizados com os trâmites do funcionamento de Wall Street (ou “A Rua”, como é enigmaticamente chamada), o centro financeiro do mundo que, não vamos colocá-lo por menos, é um dos grandes responsáveis pelo (bom e mau) funcionamento da sociedade humana.

Desde o café que tomamos pela manhã até ao jantar apressado que compramos em take-away, o preço de tudo o que consumimos depende destes homens que das oito da manhã às seis da tarde não largam o telefone e não descolam o olhar de gráficos e números aparentemente incompreensíveis no ecrã de um computador.

E hoje, na situação cada vez mais deteriorada e crítica em que nos encontramos, é cada vez mais importante olhar para lá do nosso umbigo e tentar compreender o que se passa com o mundo. Afinal, o que podemos fazer para que a história não se repita? E ainda mais primário do que isso – o que aconteceu realmente em 2008, que despoletou um dos maiores tsunamis financeiros da história?

Uma das respostas possíveis, como se fosse dada a entender a um Golden Retriever a pedido de um dos personagens da trama, é simples. Primeiro, os bancos atraíram pessoas a empréstimos que não poderiam pagar, por exemplo, para comprar uma casa. O passo seguinte e decisivo, era um tiro cego mas financeiramente suculento: bem embonecadas, essas hipotecas arriscadas eram então vendidas a investidores incautos e desprevenidos.

Margin Call segue uma firma que trava conhecimento com as inevitáveis repercussões deste cenário (ter prejuízos que excedem o capital da empresa) por um dos seus mais jovens e brilhantes trabalhadores. A avalanche eminente desafia as leis de newton caminhando num sentido vertical, de baixo até acima.

Eventualmente, chegamos ao elo mais forte da cadeia. O CEO John Tuld (cujo nome é um piscar de olho pouco discreto a Richard Fuld – antigo CEO da Lehman Brothers) é chamado de urgência  e, depois de surgir num dispendioso helicópetro, reúne a artilharia mais pesada da firma às duas da madrugada para delinear uma estratégia desesperada e, bom, desesperante quando lhe conhecemos os traços: livrar-se rapidamente da “maior pilha de excrementos malcheirosos na história do capitalismo” na manhã seguinte, vendendo tudo a preço de saldo antes que os investidores descubram que estão a comprar… bom, trapos.

E como infelizmente vimos por experiência própria, esta enchente de trapos no mercado salvou de facto algumas cabeças de rolarem pelo chão, proporcionando-lhes um resto de vida bastante cómodo, mas trouxe aos restantes 99% da população o encarar de um sistema paralisado e profundamente fragilizado.

Se desejam ficar ainda mais assustados e encolerizados com o sistema dos colarinhos brancos, corram já para assistir a Inside Job. Se o que pretendem é uma versão ficcional que dê uma perspectiva do ponto de vista das grandes cabeças de Wall Street, bom, não têm de ir mais longe: Margin Call é um dos melhores filmes sobre Wall Street alguma vez feitos, e talvez também um dos mais amigáveis ao espectador comum, que como eu, não está muito ao corrente da maquinaria d’A Rua.

A transferência para DVD foi efetuada com um aspect ratio de 1.78:1 e a paleta de cores (branco/azul/cinza/preto) escurece gradualmente com o acrescento das sombras decorrentes das cenas noturnas e que assentam particularmente bem no todo de temática. O detalhe é forte, a imagem é clara e praticamente não há sinal de grão na imagem.

Apesar de não ter grandes meios para se mostrar a trilha Sonora em Dolby 5.1 é bastante eficiente, tanto no universo silencioso mas intenso dos diálogos que povoam Margin Call, como nas suas incursões exteriores que retratam e forma fiel a cidade que nunca dorme.

Por fim, e ainda que não sejam particularmente entusiasmantes, os extras incluem entrevistas, um trailer e um spot televisivo do filme.

Margin Call é um olhar intenso perante o abrir portas da crise de 2008 a partir da perspectiva de uma empresa sem nome (cof… Lehman Brothers… cof) que em vésperas de um furacão financeiro, tenta safar-se o melhor que pode enchendo os bolsos de dinheiro sujo mas precioso à sobrevivência. Somos colocados em cima do acontecimento, justamente no momento em que decisões baseadas na ganância e no medo são tomadas, e a mensagem que nos fazem passar é simultaneamente lúcida e assustadora.