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Martin Scorsese não entendeu o amor do público por este filme de Quentin Tarantino

Quando Scorsese viu este filme de Tarantino lançado em 1994 demorou a perceber qual o motivo de ser tão amado pelo público

Tarantino surgiu durante os anos 90 como um autêntico furacão em Hollywood, mudando para sempre a indústria. Com filmes recheados de diálogos com referências à cultura pop, narrativas fora do normal e uma estética visual própria, o realizador rapidamente impôs-se como um dos mais inovadores da sua geração.

Imediatamente após o lançado do seu primeiro grande filme “Resevoir Dogs”, Tarantino começou a conquistar o respeito de grandes realizadores como, por exemplo, Martin Scorsese. Contudo quando o realizador de “Goodfellas” viu pela primeira vez aquele que viria a ser considerado o grande marco de Tarantino, teve dificuldade em compreendê-lo.

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“Pulp Fiction”: o filme de Tarantino incompreendido por Scorsese

Tarantino foi desde jovem um amante de filmes de série B, isto é, filmes que tinham um orçamente menor e eram exibidos em sessões duplas. Por exemplo, Ronald Reagan participou em diversas obras deste género e foi um dos atores B com mais sucesso. Foi com “Pulp Fiction”, que o realizador assinou uma carta de amor a estes género de projetos, mas também revistas pulp e à cultura urbana dos anos 70 e 80.

A estrutura narrativa não-linear, com histórias que se cruzam como peças de um quebra-cabeças, o humor negro e os diálogos aparentemente banais, mas carregados de personalidade, tornaram-se imagem de marca do realizador. Os personagens falavam sobre hambúrgueres, massagens nos pés e programas de televisão enquanto apontavam armas, o que representava uma rotura total com a tradição de diálogos exclusivamente funcionais em Hollywood.

Pela primeira vez em muito tempo, os protagonistas pareciam viver num mundo paralelo ao nosso, ou, talvez, demasiado próximo dele. Contudo, Martin Scorsese, o realizador de clássicos como por exemplo “Taxi Driver”, “Touro Enraivecido” e não ficou imediatamente rendido a “Pulp Fiction”.

O Problema de Pulp Fiction

Numa conversa com Roger Ebert em 1995, o cineasta confessou: “O que adorei foi a estrutura, a forma como ele conta a história… mas aquele fundo de cultura pop americana deixou-me baralhado ao início.”

Scorsese é um contador de histórias visceral, que mergulha na humanidade dos seus personagens com crueza e empatia. O seu cinema é emocionalmente autêntico, mesmo quando estilizado, e raramente funciona em modo irónico. Assim, a abordagem de Tarantino, onde tudo tem aspas, onde nada é totalmente sério ou literal, obrigou Scorsese a repensar as suas expectativas.

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Contudo, Roger Ebert, o lendário crítico norte-americano não partilhou da mesma opinião de Scorsese quando viu o filme pela primeira vez no Festival de Cannes. “Sabia que era ou um dos melhores filmes do ano ou um dos piores.” Acabou por dar-lhe a pontuação máxima, considerando-o uma obra profundamente cinéfila, um filme em diálogo com outros filmes, mais do que com a realidade.

“Abordei o filme como sendo realista, de certa forma. Não naturalista, mas realista na forma como aquelas pessoas existiriam. Quem são estas pessoas? Nunca conheci gente assim nos anos 90”, disse. Foi Ebert quem sugeriu que, talvez, Tarantino estivesse precisamente a falar de uma geração marcada pela ironia — uma era em que até as emoções vinham com aspas.

Do respeito mútuo à divergência artística

Apesar da confusão inicial, Scorsese acabou por reconhecer a genialidade de Tarantino, sobretudo na sua ousadia formal e narrativa. Ainda assim, deixou claro que jamais poderia fazer um filme semelhante: “Não consigo. Tenho de me sentir atraído pelo material. O que me interessa é a moralidade das personagens e como lidam com ela no mundo atual.”

Essa distinção diz muito sobre os dois artistas. Enquanto Tarantino olha para o cinema como um espaço onde tudo pode ser remixado, uma celebração do próprio ato de ver filmes, Scorsese encara-o como uma forma de entender o mundo e a condição humana.

Duas visões, uma paixão

Se há algo que une Tarantino e Scorsese, é a sua devoção absoluta ao cinema. Ambos cresceram a ver filmes obsessivamente, ambos se tornaram enciclopédias vivas da sétima arte e ambos transformaram esse amor em obras que influenciaram gerações.

A diferença está no filtro: Scorsese filma a partir das suas vivências e das suas preocupações morais; Tarantino filma a partir da memória coletiva de filmes, sons, cheiros e citações. Um olha para dentro, o outro olha para os ecrãs. E mesmo que nem sempre falem a mesma linguagem cinematográfica, ambos falam com a mesma paixão.

Já viste este filme de Tarantino?



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