Photo by Melinda Sue Gordon - © 2014 Warner Bros. Entertainment, Inc. and Paramount Pictures Corporation. All Rights Reserved. (Editado por Vitor Carvalho, © MHD)

Matthew McConaughey revela o dia mais memorável das filmagens de Interstellar

Antes de sabermos o que Matthew McConaughey fez naquela segunda-feira de manhã, é preciso recordar que Interstellar não é apenas um filme sobre buracos negros e fórmulas quânticas. É um filme sobre o tempo e sobre o que ele nos rouba quando não olhamos.

No meio de toda a grandiosidade cósmica de Christopher Nolan, houve um momento que se tornou mais humano do que qualquer planeta habitável: aquele em que um pai, sozinho no espaço, vê os anos passarem pelos olhos da filha.

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Qual foi o processo de Matthew McConaughey em Interstellar?

Interstellar
Photo by Melinda Sue Gordon – © 2014 Warner Bros

Em entrevista à Vanity Fair, McConaughey revelou que a famosa “cena das cassetes” de Interstellar foi filmada à primeira tentativa, sem ensaios nem segundas chances. “Lembro-me de que era uma segunda-feira de manhã, a primeira cena do dia. Tinha dormido bem no fim de semana, tinha estado com a família, estava tranquilo”, contou o ator, com aquele tom texano que consegue transformar até o caos existencial em algo zen.

Quando Nolan sugeriu um ensaio, McConaughey recusou. “Pedi para gravar de imediato. De repente, puseram tudo a funcionar, as câmaras estavam prontas, tocaram o vídeo… e foi esse primeiro take que ficou no filme.” Sem filtros, sem rede, sem aviso. Portanto, foi ali, ao ver as versões envelhecidas de Tom (Casey Affleck) e Murph (Jessica Chastain), que Cooper e McConaughey se tornaram um só em Interstellar. A dor foi tão real que o realizador decidiu nem repetir.

Assim, segundo o ator, “não precisei de me forçar a ir a lado nenhum. Quando vi o Casey Affleck e a Jessica Chastain como os filhos adultos, percebi o que a minha personagem tinha perdido… e reagi. Foi puro instinto.”

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Porque é que o primeiro take foi o mais verdadeiro?

Interstellar (2014)
Photo by Melinda Sue Gordon – © 2014 Warner Bros. Entertainment

Há algo quase espiritual na ideia de que a emoção pura só acontece uma vez. “Podemos melhorar tecnicamente no segundo take”, explicou o ator, “mas emocionalmente o primeiro é o mais honesto. Não queria saber o que vinha a seguir. Apenas relaxei e reagi.”

É uma filosofia quase anti-Hollywood. Num mundo obcecado pela perfeição, McConaughey optou pela vulnerabilidade. Nolan, conhecido pelo controlo cirúrgico de cada detalhe (como se vê em Oppenheimer ou Tenet), cedeu-lhe o leme de Interstellar e o resultado foi um dos momentos mais genuínos da sua filmografia.

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Mas o detalhe curioso é que Nolan só viu a reação completa do ator quando as câmaras já estavam a gravar. Logo, não houve “ação” nem “corta” pomposos, apenas o som seco da cassete a rodar, seguido de um homem a desabar lentamente. Um take. Um instante. Um colapso controlado. E o público sentiu-o. A cena de Interstellar tornou-se não só icónica, mas também uma das mais parodiadas da internet, em memes onde Cooper reage a tudo, de resultados de futebol a trailers da Marvel.

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O que nos ensina esta cena sobre o cinema?

Matthew em Interstellar
© 2014 Warner Bros

Mais do que um exercício de interpretação, a “cena das cassetes” é uma aula sobre confiança: na história, no realizador, e no poder da primeira reação. Assim, há uma verdade crua no olhar de McConaughey que nem o melhor guião conseguiria escrever.

Desde então, Interstellar continua a dividir teorias, mas há consenso numa coisa, esta é a alma do filme. O resto são fórmulas, planetas e paradoxos. O coração está naquele quarto metálico, entre lágrimas e luzes azuis, onde o tempo deixa finalmente de ser uma abstração científica e volta a ser o que sempre foi: perda.

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O cinema vive destes momentos que não se podem repetir. Da coragem de um ator em dizer “não” ao ensaio, e de um realizador em deixar o acaso fazer arte. Talvez seja por isso que Interstellar continua a orbitar nas nossas memórias, uma década depois. Mas agora, depois de saberes que aquela lágrima foi verdadeira, diz-me, também te apanhou de surpresa, não foi?


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