Melhores guarda-roupas

Os 25 melhores guarda-roupas do cinema de 2017

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Farsas francesas com canibalismo à mistura, histórias de super-heroínas inspiradoras, intrigas eróticas em terras exóticas, dramas históricos das mais variadas épocas e musicais contemporâneos cheios de cor e romance são alguns dos filmes que merecem lugar na lista dos melhores guarda-roupas de 2017.

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Chegado o píncaro da Awards Season, chegou também altura de olhar para trás, para o ano anterior, e averiguar quais foram os melhores guarda-roupas a agraciar o grande ecrã durante os últimos doze meses. A Academia de Hollywood já se pronunciou e escolheu como filmes merecedores de competir pelo Óscar de Melhores Figurinos “A Bela e o Monstro”, “A Forma da Água”, “A Hora Mais Negra”, “Linha Fantasma” e “Vitória e Abdul”.

Tendo em conta que não estrearam em Portugal durante 2017, “A Forma da Água”, “A Hora Mais Negra” e “A Linha Fantasma” não terão sequer hipótese de entrar na nossa lista. Contudo, alguns dos filmes nomeados para este Óscar no ano passado talvez apareçam aqui, nomeadamente “Jackie” e “La La Land – Melodia de Amor”.

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Linha Fantasma

É importante esclarecer isto pois, neste momento, caso “Linha Fantasma” tivesse estreado, certamente estaria no topo desta lista. Se a Academia for justa, o filme de P.T. Anderson sobre a relação de um designer de moda dos anos 50 e sua amante e musa deverá valer a Mark Bridges o seu segundo Óscar. Uma coisa é certa, já valeu ao filme uma posição nesta lista para o ano que vem.

Se seguires as setas aqui presentes, poderás descobrir os vários guarda-roupas selecionados para este top 25, assim como uma justificação da sua presença. Atenção que bons figurinos não são somente caracterizados por glamour e opulência, pelo que não estranhes alguns filmes contemporâneos e pouco vistosos aparecerem em alguns lugares da lista.

Com isto dito, se existir algum filme que pensas que merecia estar na lista mas não está, por favor deixa a tua sugestão nos comentários.

 




25. TOM OF FINLAND

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O aspeto mais estranho de “Tom of Finland”, o filme biográfico sobre um dos criadores de arte erótica homossexual mais célebres de sempre, é quão acessível, mainstream e convencional o projeto acaba por ser, não obstante o seu tema e desavergonhado teor sexual. De certo modo, essa dinâmica torna o material arriscado ainda mais deliciosamente subversivo, pois é apresentado à audiência como somente mais uma parte de um biopic de prestígio. Esta dinâmica estende-se a vários aspetos do filme, mas nunca isso é mais notório que nos figurinos concebidos por Anna Vilppunen.

Em primeiro lugar, a figurinista teve o desafio de ilustrar evoluções estilísticas e mudanças de moda desde a Europa mergulhada na tormenta da 2ª Guerra Mundial até à América dos anos 80. Sem chamar demasiada atenção para o seu trabalho ou apoiar-se somente em clichés desinspirados, Vilppunen faz isso mesmo e, com alguma ajuda de fabulosa maquilhagem, tal contribuição é indispensável para a verossimilhança temporal da narrativa. Nesse aspeto, “Tom of Finland” é como muitos outros filmes de época minimamente bem executados. No entanto, a tal reconstrução histórica junta-se outro desafio, o de telegrafar a construção de iconografia queer através de roupa.

A questão de como imagética militarista nazi veio a tornar-se numa das bases iconográficas para a cena leather e sadomasoquista gay é algo que tem vindo a interessar pessoas há décadas, sendo que já nos anos 70, Susan Sontag publicou um texto sobre essa mesma questão. Os figurinos de “Tom of Finland” traçam esse fenómeno com estonteante clareza, definindo certas linhas estilísticas como provenientes de traumas do protagonista durante a guerra e significantes de domínio. Depois lentamente tornam-nas numa fantasia que é tornada iconografia queer e depois, chegado o final, é usada como figurino erótico dentro do próprio filme.

 




24. O MEU BELO SOL INTERIOR

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Pode um figurino ser subversivo? Pode um figurino ser subversivo usando a mesma conflagração de ideias e argumentos apresentados num modelo literário? Em “O Meu Belo Sol Interior”, o novo filme de Claire Denis que nem sequer tem um figurinista creditado, tal pergunta recebe uma valente resposta afirmativa sob a forma do guarda-roupa da sua protagonista.

Isabelle é uma pintora francesa que é interpretada por Juliette Binoche e cuja constante procura por felicidade amorosa se torna no meio pelo qual Denis desconstrói e explora ideias sobre o discurso amoroso, mais tipicamente dissecadas em ensaios de autores como Roland Barthes. Esta personagem é assim tanto pessoa como uma mistura de conceitos teóricos em forma humana.

Tal como Denis faz com a criação da personagem e seus dilemas, os figurinos de Isabelle parecem, acima de tudo, basear-se em clichés, particularmente em ideias pré-concebidas de sensualidade feminina e provocação obscena. É por isso que ela veste minissaias de cabedal e botas de cano alto, t-shirts decotadas e rasgos de vermelho aqui e ali. Os figurinos vestem o conceito de mulher sexual à procura de amor, mas depois há a especificidade socioeconómica em que ela se insere, o privilégio das elites intelectuais e seu contraste com algumas figuras menos abastadas. Tudo isso é traduzido nas roupas que as pessoas vestem em cena. Tudo isso faz deste um dos melhores guarda-roupas do ano, mesmo que não seja de todo vistoso ou particularmente belo.

 




23. PADDINGTON 2

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O mundo em que decorre “Paddington 2” é parecido com o nosso, mas não o mesmo em que vivemos. Com uns toques leves de fantasia e uma pitada de inocência infantil, a história do urso peruano mais famoso do mundo decorre numa Londres de contos-de-fada modernos, onde todas as ruas parecem saídas de postais, onde as prisões são como dioramas de um filme de Wes Anderson e a casa de um vilanesco ator inclui um sótão escuro que serve de camarim e sala de preparação para os seus planos diabólicos.

Esta dinâmica de realidade contemporânea adocicada pela sonhadora perspetiva de uma história de crianças nota-se muito nos cenários e argumento de “Paddington 2”, mas os figurinos não escapam. Aliás, algumas das imagens mais deliciosas desta sequela são particularmente encantadoras devido aos esforços de Lindy Hemming.

A figurinista, que também assinou as roupas de “Mulher-Maravilha” em 2017, concebeu um visual eclético e ligeiramente tresloucado para todas as personagens, fazendo até da personagem do vilão uma fonte de humor visual, tanto pelos seus disfarces estrambólicos como pelos seus fatos axadrezados e ridiculamente ostentosos. Mesmo assim, não há figurino mais adorável neste filme do que o uniforme prisional tingido de rosa que Paddington e seus companheiros na cadeia envergam depois de um acidente na lavandaria. Com presidiários da cor de macarrons, uma família excêntrica em malhas e padrões exóticos e um ator enlouquecido vestido de freira, “Paddington 2” é um dos melhores festins visuais do ano passado.

 




22. KINGSMAN: O CÍRCULO DOURADO

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Arianne Phillips é uma das figurinistas de Hollywood com mais presença no mundo da moda exterior ao cinema. Por exemplo, apesar de ser uma figurinista já por múltiplas vezes indicada para o Óscar, Phillips deve a sua relativa fama ao seu trabalho como estilista pessoal de grandes estrelas da música como Madonna, Justin Timberlake, Courtney Love e Lenny Kravitz. Tais conexões influenciam o seu trabalho em cinema, onde a figurinista já trabalhou com Tom Ford, Madonna e em filmes sobre música punk e country.

Em ambos os filmes sobre os Kingsmen, Phillips trouxe a irreverência do seu estilo rock n’ roll para o mundo de ação e espiões britânicos que se vestem em roupas feitas à medida em Saville Row. Nesta sequela do primeiro filme, esta tresloucada e hiperviolenta reinvenção do mundo de espiões à la James Bond incluiu alguns desafios acrescidos para a figurinista como, por exemplo, uma agência americana e uma vilã obcecada com uma imagem nostálgica da América dos anos 50.

Alguns dos melhores destaques deste guarda-roupa incluem os fatos usados pelos agentes especiais durante uma sequência de ação na neve, o casaco de smoking em veludo cor-de-laranja com que Egsy conhece os pais da sua namorada, os muitos chapéus de cowboy que Jeff Bridges e companhia envergam e, é claro, os conjuntos fantasticamente coloridos de Julianne Moore no papel vilanesco de Poppy, suprema baronesa da droga e fã de Elton John.

 




21. BLADE RUNNER 2049

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“Blade Runner”, estreado originalmente em 1982, é um dos filmes que mais influenciou a moda na recente História do Cinema. Os figurinistas Charles Knode e Michael Kaplan inspiraram-se em silhuetas dos anos 80, subvertendo a imagem do film noir, e a elas trouxeram toques tirados da alta-costura avant-garde japonesa da época e alguns ares de punk britânico. Essa combinação ainda hoje parece moderna assim como uma plausível moda de um futuro distópico não muito distante.

Segundo a figurinista Renée April, o seu processo de trabalho para a construção do guarda-roupa de “Blade Runner 2049” não podia ter estado mais distante das passerelles. Aliás, apesar de tentar estabelecer uma ligação estilística ao primeiro filme, a figurinista tentou excisar elementos muito vistosos, impondo quase sempre uma noção de austeridade geral e praticabilidade acima de tudo. O casaco com uma gola cilíndrica de Ryan Gosling, o traje quase monástico de Jared Leto e as linhas limpas e severas nos fatos de Sylvia Hoeks seguem todos esse mesmo princípio.

Apesar disso, a inclusão de personagens como a namorada virtual idealizada chamada Joi ou um grupo de prostitutas de intenções revolucionárias exigiu alguma cor e extravagância. Nesses casos, April seguiu as linhas vagamente nipónicas da arquitetura e moda do filme anterior e foi buscar inspirações à banda-desenhada e animação japonesa. O casaco em riscas de pelo e plástico que Mackenzie Davis enverga como a prostituta Mariette é particularmente memorável e já veio a influenciar designers como Raf Simons nas suas mais recentes coleções, uma mostra da relação entre cinema e moda que a própria April acha um tanto ou quanto bizarra.

 




20. GHOST IN THE SHELL – AGENTE DO FUTURO

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Outro filme estreado em 2017 que deve muito ao original “Blade Runner” foi “Ghost in the Shell – Agente Especial”, um remake do famoso filme de animação japonês estreado em 1995. Na verdade, a relação de influência mútua entre anime e o clássico de Ridley Scott é bastante próxima e historicamente intensa. No entanto quando, no novo “Ghost in the Shell”, os visuais são transpostos a efeitos especiais fotorrealistas e cenários palpáveis, é difícil não ver o filme de 2017 como uma espécie de reconstrução pretensiosa do universo do clássico de 1982.

Enfim, os cenários podem ocasionalmente parecer uma cópia modernizada de “Blade Runner”, mas os figurinos conseguem parecer originais. Aliás, como mostra esta lista, os figurinos são alguns dos melhores do ano, sendo que os figurinistas Kurt & Bart conseguiram traduzir a estética do anime original sem sacrificarem originalidade ou espetáculo visual.

Os figurinos que representam colaborações próximas entre os figurinistas e a equipa de efeitos visuais são de especial destaque. Referimo-nos, principalmente, ao quimono futurista emparelhado com uma máscara robótica que serviu para criar as gueixas robóticas que são, sem sombra de dúvida, a imagem mais perturbadora desta história. O fato de corpo inteiro que representa o corpo desnudo da protagonista mecânica é também impressionante, nem que seja devido à complexidade da sua construção.

 




19. SORTE À LOGAN

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Há quem tenha a errónea ideia que conceber figurinos para narrativas contemporâneas é de algum modo menos complicado ou merecedor de mérito que fazer o mesmo para projetos de época, fantasia ou ficção-científica. Tais preconceitos tendem a manter filmes passados nos nossos dias de serem reconhecidos pelos seus figurinos, o que é especialmente infeliz para figurinistas como Ellen Mirojnick que, apesar de alguns esporádicos projetos de época, é uma perita em guarda-roupas contemporâneos.

Ela é a figurinista predileta de Steven Soderbergh e, este ano, o cineasta propôs-lhe um desafio invulgar. O projeto em questão é “Sorte à Logan”, um thriller cómico passado no interior empobrecido dos EUA e com ocasionais momentos passados ora no mundo das corridas automobilísticas, ambientes prisionais ou no universo dos concursos de beleza infantis. Como seria de esperar, Mirojnick esteve à altura do desafio e concebeu aqui uma soberba coleção de figurinos, definindo personagens coloridas com admirável precisão, tanto em termos de caracterização como em termos de potencial cómico.

O seu grande triunfo, no entanto, é a autenticidade da sua recriação sardónica deste ambiente intrinsecamente americano sem tornar as personagens em caricaturas. Aliás, para evitar o que ela considera um erro do cinema contemporâneo, Mirojnick tentou replicar a situação económica das personagens e evitou roupas novas, construindo guarda-roupas individuais através de peças dos últimos vinte anos, gastando peças novas e conferindo a tudo uma pátina de vivência materializada.

 




18. UMA MULHER FANTÁSTICA

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A primeira vez que vemos Marina, a protagonista de “Uma Mulher Fantástica”, ela está em palco e, enquanto espetador, observamo-la através dos olhos do seu devoto namorado. Ela enverga um vestido preto e vermelho e é sedutora, charmosa, classicamente feminina. Depois, seguimo-la para um jantar de aniversário, onde ela veste um vestido amarelo e de linhas soltas, um raio de sol e felicidade que, após a morte inesperada do seu companheiro, se torna num objeto simbólico de alegrias perdidas usado e desrespeitado pela família intolerante do falecido.

Tal mestria no uso de cor e linhas simples, mas carregadas de significado, é uma constante nos figurinos deste filme sobre uma mulher transgénera a enfrentar a crueldade do mundo e da sociedade. Repare-se, por exemplo, no contraste entre os azuis, ganga e cabedal enlutados de Marina e a pomposidade pseudoboémia da família do seu namorado. Ela não é só olhada com condescendência pela sua identidade sexual, é claro desde início que a sua classe é também repugnante para estas pessoas, assim como a sua juventude em comparação com a do seu parceiro romântico.

Os figurinos realçam tudo isto, sendo que a saia de cabedal usada para o cemitério e a fantasia prateada e doirada de um sonho acordado representam também a revolta e resiliência da protagonista. No final, Marina está de volta aos palcos e, pela primeira vez neste filme marcado pela morte e pela perda, ela veste preto. Trata-se de um fato com calças, de uma elegância sóbria, mas não austera que lhe confere o aspeto de alguém confiante e poderosa. Nenhuma destas escolhas de figurino é muito gritada ou vistosa, mas representam um belíssimo discurso visual de mão dada com o estudo de personagem em cena.

 




17. STAR WARS: OS ÚLTIMOS JEDI

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Odiado por alguns fãs da saga, adorado por outros, aclamado pela crítica e encarado com indiferença por muitos outros, o novo filme da Star Wars foi um dos mais controversos e divisivos capítulos da saga. Com isso dito, algo com que quase todos concordaram foi a qualidade visual em evidência, desde o uso de efeitos visuais práticos até à criação de planetas com dinâmicas cromáticas de um dramatismo quase operático. Os figurinos, como seria de esperar, também não dececionaram.

O figurinista Michael Kaplan continuou a evolução estilística no franchise que havia iniciado ao lado de J.J. Abrams em “O Despertar da Força”. No entanto, devido a pedidos específicos do realizador Rian Johnson e a algumas sugestões do elenco (Carrie Fisher exigiu que houvesse mais joalharia, por exemplo), Kaplan alterou um pouco a sua visão original, desenvolvendo uma coleção de figurinos mais dramáticos e opulentos, assim como mais independentes da iconografia da trilogia original.

Segundo o próprio figurinista, os melhores figurinos no filme são as armaduras vermelhas de inspiração nipónica que a guarda pretoriana de Snoke enverga na sala do trono. No entanto, daríamos ainda mais destaque ao traje lavanda de Laura Dern, cujo desenho inspirado na elegância vagamente grega dos vestidos dos anos 30 foi uma das exigências de Johnson. Continuando alguns temas presentes no próprio texto do filme, este figurino é uma subversão de expetativas, rejeitando a habitual correlação de feminilidade e glamour com fraqueza de caráter que franchises modernos como “Os Jogos da Fome” têm evidenciado. A Vice-Almirante Holdo, a General Leia e Rey não têm de ser masculinizadas para merecerem respeito ou serem heroínas estupendas.

 




16. A VIDA DE UMA MULHER

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Por muito empolgante que seja assistir a festins visuais cheios de glamour, figurinos espantosos e cenários opulentos, o cinema de época por vezes exige contenção e austeridade. Quando se trabalha num registo que oscila entre o realismo e o minimalismo cinematográfico, tal rejeição do fausto normalmente associado à expressão “costume drama” é particularmente necessária. Em “A Vida de Uma Mulher” de Stephane Brizé, tais escolhas de design estão amplamente manifestas.

Neste filme, passado ao longo de várias décadas da primeira metade do século XIX, a figurinista Madeline Fontaine optou por uma estética de autenticidade desprovida de romantismo artificial, realçando a qualidade vivida das roupas e sua existência enquanto extensão de uma realidade passada. O que queremos com isto dizer é que, apesar de raramente trair os ditames da moda histórica com anacronismos deliberados, Fontaine construiu aqui um guarda-roupa de época que nunca parece ser composto por figurinos, mas sim por roupas que as personagens em cena vestem na sua vida fora dos limites da história.

O melhor de tudo é que, para estudiosos da evolução da moda ao longo da História, este filme é uma pequena maravilha, traçando as mudanças de gosto desde 1819 até à década de 40 do século XIX com nuance e brio. A forma como as diferentes classes sociais e estilos de vida das personagens se refletem no seu modo de vestir é outra mais valia deste estupendo trabalho.

 




15. JACKIE

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Para além de “A Vida de Uma Mulher” houve outro filme com figurinos de Madeline Fontaine a estrear em Portugal no ano passado. Aliás, foi mesmo este outro filme que valeu à figurinista francesa a sua primeira indicação para o Óscar. Juntamente com a banda-sonora de Mica Levi e a estonteante prestação de Natalie Portman no papel titular, os figurinos de Fontaine valeram a “Jackie” as suas míseras três nomeações, nenhuma das quais resultou numa vitória. Infelizmente para esta figurinista, mesmo que tenha ganho o BAFTA, o óscar escapou-lhe.

Enfim, o sucesso na Awards Season pouco ou nada tem que ver com a real qualidade dos filmes na maioria dos anos, e a ausência de galardões dourados a premiá-lo não retira qualquer qualidade a este guarda-roupa. Tal como no filme de Brizé, Fontaine optou aqui pelo realismo, desta vez levado a extremos insanos pois, como bem se sabe, existem poucas pessoas cujo estilo está mais bem documentado e presente na psique popular do que o de Jackie Kennedy.

Para ser autêntica, Fontaine chegou mesmo a pedir botões à Chanel para a reconstrução do famoso fato cor-de-rosa manchado com o sangue de JFK, para além de ter criado duas versões diferentes do vestido vermelho com que Jackie fez a Visita filmada à Casa Branca. Este último detalhe foi feito para que as câmaras capturassem o tom correto de cinzento nas ocasiões em que o filme nos mostra a recriação das filmagens a preto-e-branco que tanto maravilharam o público americano. Para um filme que é tanto sobre a construção de uma persona pública e sobre o modo como lendas e História são fabricadas em tempo real, a construção da imagem de cada indivíduo através das roupas que usa é um elemento crucial.

 




14. A FEBRE DAS TÚLIPAS

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Filmes passados na década de 30 do século XVII, durante um período de transição entre as modas do Renascimento e o Barroco, são extremamente raros. Ainda mais raro é ver tal época ser reconstruída com o verismo histórico e qualidade com que o figurinista Michael O´Connor fez em “A Febre das Túlipas”. Verdade seja dita, os figurinos de época em evidência no filme são de tal ordem ostentosos e reminiscentes de outros sucessos de Awards Seasons passadas, que é de admirar a ausência de O’Connor da lista de nomeados para o Óscar. Não fosse, é claro, este um dos últimos filmes a ser abertamente promovido por Harvey Weinstein. No final, “A Febre das Túlipas” não foi sequer incluído na lista de títulos elegíveis aos prémios da Academia e o trabalho deste figurinista foi esquecido.

Enfim, ninguém quer celebrar mais nenhuma obra com o nome de Weinstein associado e, verdade seja dita, o filme em si é um relativo desastre, mas os figurinos merecem reconhecimento. Tirando inspiração das pinturas da época, mas também do romance histórico que deu origem ao filme, O’Connor recriou a Amsterdão do início do século XVII com uma extraordinária atenção ao detalhe e às texturas da vida, tanto de nobres como de burgueses e indivíduos menos abastados.

Poder-se-ia criticar negativamente aqui uma certa falta de atenção ao desenvolvimento de personagem ou dinâmicas concetuais e narrativas através dos figurinos, mas é tão raro ver estes estilos reproduzidos, que é difícil encontrar razões legítimas para denegrir estas criações. A diferenciação entre o vestuário do dia-a-dia, sua formalidade enegrecida, e o fausto colorido do traje para se posar para retratos é um dos detalhes mais belos deste trabalho.

 




13. THOR: RAGNAROK

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Os trailers e posters de “Thor: Ragnarok” prometeram uma reinvenção do super-herói da Marvel influenciada pela nostalgia dos anos 80 e o sentido de humor muito particular do cineasta neozelandês Taika Waititi. Felizmente, para audiências em todo do mundo, a promessa do material promocional provou-se justa e o filme é um dos capítulos mais deliciosos e divertidos do MCU. Tal dinâmica não se ficou somente pelo nível de texto e prestações dos atores, sendo que a criação do mundo visto na narrativa é uma parte tão importante do seu humor como as muitas piadas improvisadas.

Misturando influências psicadélicas com a estética pseudo medieval com toques de futurismo maximalista que os outros filmes com Thor edificaram, a figurinista Mayes Rubeo consegiu conceber aqui aquele que é possivelmente o melhor guarda-roupa da MCU. A certa altura, Thor descobre Asgard sobre o domínio do seu irmão disfarçado de Odin e depara-se com uma encenação teatral do suposto heroísmo de Loki. Somente essa cena, onde toques de hedonismo grego se fazem denotar, é um triunfo de comédia através do vestuário que merece aplausos.

O melhor de tudo é que esse momento ocorre bem cedo no filme e que, se possível, alguns dos melhores figurinos ainda estão para vir. Afinal, é difícil escolher entre o figurino meio gótico de Hela, a armadura arraçada de bola de espelhos vestida pela Valquíria, a vestimenta de arena de Thor e, é claro, as estrambólicas construções usadas pela população de Sakaar, incluindo Jeff Goldblum em longos roubos doirados que parecem saídos de um delicioso filme de série B de 1986.

 




12. A CIDADE PERDIDA DE Z

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A Cidade Perdida de Z” pode parecer um híbrido entre um filme de aventuras na selva à moda antiga e um drama histórico de prestígio, mas a realidade está bem distante de qualquer uma dessas classificações. Para fãs do realizador James Gray, isso não será nenhuma surpresa visto que subversões de géneros clássicos e estéticas antigas são a sua especialidade. Aqui, a história verídica de um explorador inglês torna-se na base para Gray explorar temas de colonialismo, obsessão e o que é que afinal significa o conceito de civilização.

Enfim, trata-se de um filme denso em ideias e ainda mais denso em imagens de estonteante beleza e complexidade. Muito do crédito pertence ao genial diretor de fotografia Darius Khondji, mas seria erróneo menosprezar a contribuição da figurinista Sonia Grande, cujos figurinos têm de referenciar os géneros cinemáticos acima referidos assim como a realidade histórica da narrativa.

Os figurinos de Grande são sempre ricos em detalhes e texturas interessantes, sem nunca chamarem demasiada atenção para si, independentemente de se tratarem de uniformes da Primeira Guerra Mundial, traje de explorador, vestidos de noite do final do seculo XIX ou um conjunto de luto dos anos 20. Há que, no entanto, dar particular destaque aos figurinos envergados por uma trupe de atores que, a certa altura, aparecem no meio da selva a encenar uma ópera setecentista. Filtrar concetualmente a moda do século XVIII após mais de cem anos de História, diferenças culturais e os limites logísticos de uma produção teatral desamparada no meio do Amazonas não terá certamente sido tarefa fácil, mas Grande fez com que tudo funcionasse com bizarra beleza.

 




11. ARRANHA-CÉUS

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Arranha-Céus” é um filme sobre códigos de estratificação social. Baseando-se num romance de J.G. Ballard, o realizador britânico Ben Wheatley explora esta dinâmica sobretudo através da metáfora de um edifício onde a posição dos seus habitantes é ditada pela sua classe social – nos andares inferiores ficam os pobres, no meio a classe média, e no topo habita somente a elite das elites. Como seria de esperar, tal estrutura rígida resvala em caos absoluto de luta de classes e abusos de poder, uma evolução espelhada por todos os aspetos técnicos do filme, desde os cenários arquitetónicos até aos figurinos.

Tomando a moda dos anos 70 como ponto de partida, a figurinista Odile Dicks-Mireaux levou o jogo metafórico do filme aos seus limites estilísticos. Algumas das suas escolhas são óbvias e gritantes, como se pode ver numa cena em que se observa uma festa de máscaras dos habitantes superiores, onde todos os convidados envergam figurinos setecentistas, como que invocando os espectros da aristocracia dizimada pela Revolução Francesa.

Noutras ocasiões, os jogos de Dicks-Mireaux são mais subtis e perniciosamente precisos. O melhor exemplo disso é o modo como Tom Hiddleston passa o filme vestido em três fatos de corte idêntico, dois deles feitos para o dia em cor de cimento e o outro de veludo escuro. O fato, completado com uma gravata de Saville Row, é um símbolo de estatuto e de uma ordem social que vai sendo tão destruída como os interiores do edifício. Pelo final, o fato está coberto de tinta, meio destruído, mas Hiddleston não se separa dele, como se fosse ele mesmo uma extensão do edifício, assimilado pela hierarquia que o subjuga, mas, ao mesmo tempo, lhe dá poder sobre os seus inferiores económicos. Figurinos enquanto arquitetura da sociedade, brilhante!

 




10. VITÓRIA E ABDUL

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O mais recente filme de Stephen Frears “Vitória e Abdul” propõe-se a contar a história da amizade entre a Rainha Vitória e o servo indiano Abdul Karim, que floresceu durante os últimos anos do seu reinado. Um filme sobre esta relação deveria, supostamente, interessar-se também pelas ramificações históricas e políticas do domínio inglês sobre a Índia ou, pelo menos, retratar com sagacidade as dinâmicas de poder envolvidas na amizade titular. Contudo, o resultado final é mais uma elegia banal, sem grande densidade ideológica, que prefere celebrar o carisma de Judi Dench no papel da monarca do que realmente explorar o seu caráter e autoridade.

Enfim, é o tipo de filme de época que se espera do mercado inglês, mas nem todos os elementos do filme seguem a mesma linha de mediocridade passiva do seu argumento, realização e interpretações. Referimo-nos, pois claro, aos figurinos de Consolata Boyle que, para além de recriar com verismo a corte vitoriana e a icónica figura enlutada da rainha, ilustra dinâmicas de poder entre o indiano e sua imperatriz e o domínio cultural inglês sobre a Índia que o resto do filme prefere ignorar.

Isso vê-se, por exemplo, nas roupas de Abdul que, inicialmente, são uma paródia inglesa do traje indiano pois a realidade não era exótica o suficiente para a aristocracia pomposa. Mais tarde, ele é forçado a vestir versões em lã axadrezada dos seus trajes de servo exótico e, quando alcança poder para se vestir como quer, o seu traje é visto como insultuosamente ostentoso. Outra dinâmica interessante são os paralelismos entre o luto permanente de Vitória e a burka envergada pela mulher de Abdul ou mesmo a relação entre a família real e sua matriarca. Boyle é uma das melhores figurinistas do Reino Unido e este é um dos seus maiores triunfos.

 




09. SILÊNCIO

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Apesar de ser principalmente conhecido como o lendário cenógrafo responsável por criar os mundos dos filmes de Pasolini, Zefireli, Fellini e Scorsese, Dante Ferreti ocasionalmente também arrisca aventurar-se pelo mundo dos figurinos. “Silêncio”, o mais recente filme de Martin Scorsese, é somente a terceira vez que isto acontece e, honestamente, tal facto é uma tragédia. Não se diz isto devido a qualquer falta de qualidade. Bem pelo contrário, pois os figurinos de Ferreti são tão ou mais impressionantes que os seus cenários.

Para recriar o ambiente histórico de um Japão feudal visto da perspetiva de dois padres portugueses em busca do seu mentor perdido, Ferreti fez um trabalho de pesquisa monumental e acabou por ser responsável pela construção de um guarda-roupa de mais de dois mil figurinos individuais. Desde camponeses empobrecidos em trajes remendados até à ostentação de mercadores holandeses no prólogo do filme, o trabalho de Ferreti é sempre esplendoroso, historicamente preciso e dramaticamente perfeito,

O melhor de tudo são os figurinos envergados pela elite nipónica, especialmente Issei Ogata no papel do impiedoso Inoue. Com um pé na realidade histórica e outro na expressividade dos figurinos tradicionais de teatro Noh e Kabuki, Ferreti concebeu peças em sedas rígidas que possibilitam e orientam a movimentação dos atores enquanto figuras quase sobre-humanas. Numa cena merecedora de destaque, Ogata parece mesmo encolher, à medida que a sua postura se altera e as linhas rígidas do seu traje mantém-se de pé, como um edifício de tecido que existe independentemente do corpo que o usa.

 




08. PERSONAL SHOPPER

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Apesar de o seu título sugerir uma orgástica coleção das últimas tendências da moda atual à la “O Diabo Veste Prada”, “Personal Shopper” é uma peculiar meditação sobre a perda, desconstruindo e pervertendo códigos cinematográficos em nome da experimentação meio enlouquecida de Olivier Assayas. Apesar disso, o filme não deixa de ser sobre uma personal shopper cujo trabalho envolve a escolha e curadoria do estilo pessoal de uma celebridade, pelo que peças de algumas das melhores casas de moda da atualidade marcam presença obrigatória.

Através da presença de Kristen Stewart no papel principal, o figurinista Jürgen Doering teve mesmo acesso ao espólio de algumas marcas com as quais a atriz tem acordos promocionais, nomeadamente a Chanel. As escolhas de Doering, emparelhadas com uma abordagem de Assayas que varia entre a observação clínica e sensualismo material, ajudam a traduzir para a audiência o prazer de vestir algumas destas peças, de sentir as texturas metálicas de um vestido Chanel ou um par de botas assinadas por Christian Louboutin.

Apesar disso, o estilo pessoal da protagonista pouco ou nada tem que ver com a elegância da passerelle parisiense. Contudo, quando ela veste as roupas da sua cliente, a sensualidade da indumentária e as texturas e beleza que Doering conjurou desencadeiam um jogo de perverso erotismo. As roupas deixam de ser roupas e tornam-se na pele de outra pessoa, no figurino da identidade cuja violação é algo quase obsceno. Tais dinâmicas devem-se ao trabalho de Doering que, por tratar-se de um filme contemporâneo, foi praticamente ignorado por todas as associações de prémios, incluindo os César.

 




07. LADY MACBETH

lady macbeth

Um figurino pode fazer todo um filme. Em “Lady Macbeth” de William Oldroy, um vestido azul envergado por Florence Pugh no papel principal torna-se numa espécie de materialização sedosa dos temas e dinâmicas dramáticas da obra. Na sua silhueta rígida, cor invulgar e traços de elegância oitocentista, a figurinista Holly Waddington concebeu esta peça como uma síntese das relações de poder subjacentes à protagonista, sua vitimização e simultânea capacidade para ser monstruosamente opressora.

A peça segue linhas historicamente corretas, mas Waddington excisou decorações frívolas ou sugestões de delicadeza, realçando a austeridade do vestido e a construção de armações e espartilho que moldam o corpo de quem o utiliza à sua forma sobre-humana. A protagonista detesta esta peça e o seu desconforto é palpável em postura e expressão. Na verdade, ela apenas utiliza tal confeção de elegância espartilhada devido às vontades dos homens que a veem como pouco mais do que propriedade. Quando está sentada, em composições simétricas, num sofá de veludo, Pugh parece quase uma peça de mobília.

Mas o génio deste figurino e de todo o restante guarda-roupa do filme está na multiplicidade de ideias contidas numa só imagem. Este vestido é objeto de tortura e opressão, mas é também armadura. É colete de forças e é símbolo de estatuto. É um escudo da cor de anfíbios venenosos que está forrado a espinhos metafóricos dos dois lados, ferindo quem o usa e quem o enfrenta. Waddington e Oldroy, que realçam as diferenças sociais e de estatuto de todas as figuras em cena com violento minimalismo, usam assim os figurinos não só para ilustrar o percurso da história e personagem, mas também para propor um discurso paralelo e totalmente não-verbal sobre os mesmos e difíceis temas do argumento.

 




06. A CRIADA

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Há poucos filmes tão obcecados com o toque como “A Criada” de Park Chan-wook. Tal obsessão não se restringe somente ao registo documental da ação de tocar em algo ou em alguém, mas engloba a realidade sensorial de sentir o toque, o erotismo do contacto de pele com pele, a delicadeza e capacidade destruidora de uma mão numa página ou de um espartilho coberto de renda a pressionar os seios de uma mulher.

A figurinista Jo Sang-gyeong salientou esta dinâmica de uma série de maneiras. O seu uso de materiais cuja qualidade tátil é sugerida mesmo em imagens bidimensionais projetadas foi uma dessas técnicas e este é, de facto, um filme cheio de sedas lustrosas, rendas de aspeto comichoso, cabedais frios e andrajos de algodão e serapilheira. Em simultâneo, o uso de luvas pela protagonista aristocrática e seu maquiavélico tio ajudam a criar mais um apontamento visual que destaca o toque, ao mesmo tempo que conjura um jogo simbólico onde mãos desnudas e mãos cobertas são significantes de classe social, vulnerabilidade emocional e performance.

Para além disso e do erotismo nascido da obsessão com o toque e as texturas luxuriantes da roupa de outros tempos, o guarda-roupa de “A Criada” tem ainda muitos outros aspetos que merecem admiração. Veja-se, por exemplo, a mistura de estilos ocidentais e orientais que também é refletido na arquitetura da casa onde se passa a maior parte da intriga, ou a relação entre silhuetas japonesas e coreanas, entre traje masculino e feminilidade delicada. Este é um feito do mais alto gabarito.

 




05. MA LOUTE

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Para “Ma Loute”, uma das mais recentes loucuras do realizador francês Bruno Dumont, a figurinista Alexandra Charles teve de desenhar roupa apropriada tanto para um ambiente Normando de 1910, como para o universo tresloucado em que todos os filmes deste autor têm lugar. Trata-se de um mundo onde as pessoas incham e flutuam no ar, onde todos se comportam como cartoons macabros, onde a aristocracia só tem ar entre os ouvidos e uma família costeira empobrecida se alimenta com os corpos desmembrados de turistas estúpidos.

Acima de tudo, é um mundo de onde tudo o que é belo é também grotesco. Falamos, por exemplo, de um tableau numa praia, onde o contraste entre a silhueta rotunda de um inspetor da polícia e a figura ornamentada de uma senhora vestida em pastéis amarelados serve de base para uma perseguição despropositada. Referimo-nos também ao uniforme de marinheiro da personagem titular, cujo azul escuro parece uma mancha de tinta no meio da brancura da tela que é a praia francesa.

O melhor de tudo, no entanto, são os trajes dos aristocratas incestuosos. Aqui, Charles leva os cânones da moda Eduardina até aos seus limites cómicos, fazendo de Juliette Binoche uma palhaça melodramática coberta de plumas e xailes e tornando Valeria Bruni-Tedeschi num monte de rendas vivas a cambalear sem rumo por uma história de amor, homicídio, identidade sexual e canibalismo.

 




04. MULHER-MARAVILHA

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Para pessoas interessadas em História da Moda e narrativas de super-heróis, não deverá ter havido um momento mais prazeroso em todo o ano cinematográfico que a sequência onde a protagonista de “Mulher-Maravilha” tenta encontrar um traje mais apropriado à Londres da 1ª Guerra Mundial que a sua armadura de Amazonas. Desde o instante em que Diana julga que um espartilho é uma couraça, passando pelo desfile de absurdas modas históricas e terminando na sua escolha de um fato elegante de linhas masculinas, esta sequência é puro Nirvana estilístico.

Os figurinos deste blockbuster foram desenhados por Lindy Hemming, uma veterana de grandes franchises que já concebeu vestuário para Harry Potter, James Bond e para o Batman de Christopher Nolan. Apesar disso, os figurinos de “Mulher-Maravilha” são alguns dos seus mais fabulosos trabalhos, unindo fantasia icónica ao requinte do cinema de época.

Infelizmente para fãs de bom cinema e bons figurinos, Hemming não esteve a cargo do guarda-roupa de “Liga da Justiça”. A armadura que Hemming tinha alterado para ser mais colorida, utilitária e glamourosa, perdeu a cor, por exemplo. O traje das amazonas passou de prático a forçosamente sexy e irracional. Esperamos, portanto, que Hemming volte juntamente com Patty Jenkins e Gal Gadot para a sequela de “Mulher-Maravilha”.

 




03. LA LA LAND – MELODIA DE AMOR

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Entre as suas 14 nomeações para os Óscares, “La La Land” arrecadou uma indicação para o prémio de Melhores Figurinos pelo trabalho de Mary Zophres. Apesar da excelência em evidência no guarda-roupa híper colorido deste musical original, Zophres perdeu o galardão para Colleen Atwood. No final, até houve quem dissesse que, como as roupas de “La La Land” eram contemporâneas e simples, não mereciam ser celebradas. Quem diz isso obviamente não sabe muito de figurinos.

Tal como o cenógrafo David Wasco, Zophres construiu os figurinos do filme com um pé na realidade das personagens e outro na fantasia de Hollywood de outros tempos, fazendo referência a estilos clássicos e silhuetas retro. Para além disso, o modo como ela usa a cor para traçar a evolução das personagens e sua relação amorosa é algo de estonteante beleza e nuance.

Citando as palavras que já tínhamos usado no início do ano, quando se escreveu em detalhe sobre estes figurinos: “Para Zophres, os figurinos de La la Land não são um mero elemento decorativo, mas sim um instrumento visual que complementa o espetáculo dos números musicais, ajudando a criar a peculiar atmosfera escapista do filme.” Mary Zophres bem merecia ter ganho o Óscar. Talvez tenha mais sorte para a próxima.

 




02. ATOMIC BLONDE – AGENTE ESPECIAL

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Não houve, em 2017, um filme com mais estilo ou irreverência que “Atomic Blonde – Agente Especial”, uma orgia de pancadaria e música dos anos 80 que nos deu uma das melhores cenas de ação das últimas décadas, quando Charlize Theron protagoniza uma luta que engloba todo um prédio e é capturada num só plano de monumental complexidade técnica. Este é um filme em que os prazeres audiovisuais suplantam tudo, mesmo a narrativa que é uma confusão e a racionalidade que nunca aqui marca presença.

Por conseguinte, o papel principal dos figurinos concebidos por Cindy Evans é oferecer deleitosas imagens de glamour dos anos 80 sem quaisquer limites pragmáticos. Um bom exemplo disso é o guarda-roupa da protagonista que chega a Berlim com uma pequena mala de viagens, mas que, ao longo do filme, enverga múltiplos conjuntos por dia, incluindo vestidos de noite e uma coleção impressionante de casacos. Para além do mais, ela veste-se só de preto-e-branco, mas, por milagre, nunca uma única gota de sangue mancha a sua indumentária.

Para tornar a situação ainda mais deliciosa, Evans não descurou os figurinos das outras personagens e figuras deste pesadelo da Guerra Fria. Uma viagem por Berlim é como que um desfile do melhor das modas punk e rock daquela década, enquanto as cenas entre espiões em Londres são uma explosão de alfaiataria do mais alto gabarito.

 




01. A FEITICEIRA DO AMOR

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Depois de termos falado dos guarda-roupas de 24 outros filmes, chegou a altura de revelar que, segundo a Magazine.HD, “A Feiticeira do Amor” tem os melhores figurinos de 2017. Se por nenhuma outra razão, este filme merece destaque pela coesão diabólica da sua visão autoral. Dizemos isto pois Anna Biller realizou, escreveu, desenhou os cenários, construiu os adereços, compôs a banda-sonora, produziu, editou e concebeu os figurinos para o seu filme. Por conseguinte, todos estes elementos existem em absoluta harmonia estética e tonal, contribuindo igualmente para a criação de um filme cujo estilo é extremamente difícil de descrever.

Trata-se de um pastiche dos filmes sexploitation dos anos 70 que subverte os códigos desse género com uma perspetiva feminista contemporânea. É um filme em que nada é realista, em que tanto cenários como figurinos são deliberadamente falsos e onde tudo é filmado num estilo que realça o artificialismo através de cores lúridas e iluminação deliberadamente feia. Para quem espere algo convencional, este filme é um pesadelo, mas para quem se deixar levar pelo seu feitiço, é uma experiência sem igual.

Afinal, é bem difícil resistir aos encantos de um filme onde uma feiticeira em busca de amor usa o forro arco-íris do seu casaco como método de hipnose, onde um salão de chá aparece recheado de mulheres que parecem bolos de noiva dos anos 70 que ganharam vida, onde um passeio no parque se torna num interlúdio musical com figurinos pseudo medievais inspirados nos filmes de Jacques Demy. É difícil imaginar maior delícia cinematográfica de estilo, cor e simples audácia. Enfim, é difícil não coroar este guarda-roupa como o melhor do ano e, no fim, para quê resistir?

 

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Não percas as nossas restantes listas do que de melhor se fez no ano cinematográfico de 2017!

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