Missão: Impossível – O Ajuste de Contas Final: A última missão de Ethan Hunt ou apenas mais uma corrida contra o tempo? | Diário do Festival de Cannes 2025 (Dia 4)
Missão: Impossível – O Ajuste de Contas Final, teve ontem a sua estreia oficial e para a imprensa só esta manhã por causa dos embargos. Tom Cruise regressa como Ethan Hunt para mais uma volta alucinante no carrossel da ação e da espionagem internacional. Mas será que esta nova missão está à altura da herança da série ou apenas já corre em piloto automático?
Missão: Impossível – O Ajuste de Contas Final, com Tom Cruise o oitavo capítulo da saga, lançado quase três décadas depois do original de Brian De Palma, procura encerrar (ou prolongar?) uma das mais resistentes e espetaculares franquias de Hollywood. Desde 1996 que a saga Missão: Impossível tem oscilado entre obras-primas do entretenimento e experiências puramente estilísticas.
O Ajuste de Contas Final chega com o peso simbólico de ser o capítulo conclusivo — embora o próprio filme, deixe mais uma vez essa questão em aberto. Com Christopher McQuarrie novamente ao leme e Tom Cruise a fazer acrobacias que desafiariam agentes secretos com metade da sua idade, o espetáculo está garantido. A profundidade emocional e a frescura narrativa, nem tanto. Mas lá chegaremos…
A (oportuna) ameaça digital
Desta vez, em Missão: Impossível – O Ajuste de Contas Final a ameaça é digital, invisível e omnipresente: uma inteligência artificial chamada “A Entidade”, com a capacidade de manipular dados, sistemas e realidades e mais uma vez provocar uma guerra global. Ethan Hunt, esse eterno pária institucional e salvador do mundo não oficializado, tem de impedir que esta arma sem rosto caia nas mãos erradas — tudo enquanto corre por túneis, salta de penhascos e pilota aviões vintage como se fosse domingo à tarde.
O filme tem momentos de pura adrenalina. A perseguição automóvel num túnel, uma arriscada e enorme sequência submarina que leva Hunt quase ao fim e um confronto final aéreo de fazer suar as mãos, e Hunt a correr, sempre a correr, que nem um desalmado, prestam bem o tributo ao legado de cenas icónicas da saga. Mas entre explosões e saltos mortais, surge também um bocadinho a sensação de déjà vu, num filme interminável de precisamente 2h45. Há uma tentativa clara de capitalizar o sucesso dos capítulos anteriores, sobretudo Fallout e Dead Reckoning – Parte Um, mas sem a mesma urgência ou tensão. Mas vamos lá, aguenta-se bem…
Um salvador global
O que também pesa em Missão: Impossível – O Ajuste de Contas Final é a quase devoção religiosa ao protagonista e muito auto-centrado nele, aliás é ele que paga mais uma vez como produtor executivo e nota-se nas fotografias de promoção do filme. Hunt é retratado como o único ser humano capaz de distinguir o bem do mal, o salvador inquestionável, o mártir global, um quase super-homem.
Os personagens secundários — mesmo com talentos como Hayley Atwell, Simon Pegg, Ving Rhames ou a exótica Pom Klementieff — servem, na maioria dos casos, para realçar a grandeza moral de Cruise/Hunt. És o maior Hunt! Embora diga-se, as mulheres também tenham desta vez, um papel importante na salvação do mundo.
Um discurso redundante
É certo que a saga sempre se construiu em torno de acrobacias reais, (pobres dos duplos ou de Tom Cruise, que se candidata a inaugurar uma nova categoria nos Oscar) e O Ajuste de Contas Final honra essa tradição. No entanto, quando a narrativa serve apenas de ponte entre cenas de ação, a estrutura começa a revelar fissuras.
A duração prolongada (as tais mais de duas horas e meia), aliada a exposições exaustivas sobre a ameaça global e discursos redundantes sobre confiança e sacrifício, dilui o impacto do filme. Não obstante, Missão: Impossível – O Ajuste de Contas Final tem méritos visuais e técnicos notáveis. A montagem é eficaz, a fotografia sabe tirar partido das paisagens globais e a banda sonora mantém o pulso da missão em constante aceleração. Ainda assim, a questão permanece: estamos perante um final digno ou apenas mais um capítulo que se recusa a fechar o livro? Veremos?
O eterno sorriso de Hunt
Resumindo, Missão: Impossível – O Ajuste de Contas Final é um colosso de ação que não deixa ninguém indiferente, mas que também não surpreende como outrora, quando as tarefas eram mais feitas por grupo de tipos especiais que quando acabavam a sua impossível missão iam para o anonimato e cada um par seu lado.
Neste caso Cruise continua sozinho, a desafiar as leis da física sempre com um sorriso nos lábios, e McQuarrie está do seu lado, já que sabe construir sequências de cortar a respiração. No entanto, quando a forma ultrapassa consistentemente o conteúdo, a missão deixa de ser impossível — e passa a ser previsível, resta saber se continua eficaz em termos de bilheteiras. Os próximos dias o dirão?
JVM