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Missão Impossível 7: Tom Cruise ajusta contas com Ethan Hunt | Crítica

Após o enorme sucesso de “Fallout ”, a missão de Christopher McQuarrie e Tom Cruise era superar o anterior. Será que foi cumprida ou era mesmo missão impossível?

A série de filmes “Missão: Impossível” foi ganhando uma enorme relevância ao longo dos anos, tendo conseguido reinventar-se de filme para filme e alcançado o feito de não só ser constante e bem-sucedida, mas também ir-se superando a cada novo capítulo.

No entanto, com “Missão: Impossível – Fallout”, a série de filmes chegou a um ponto de qualidade e recepção mais alto que o Evereste, imperando uma simples questão: Há mais por onde subir?

McQuarrie e Cruise sabem perfeitamente o peso que têm nas costas e triunfam ao distanciar este novo capítulo do rumo tomado pelos seus antecessores.

Desde os primeiros minutos que este se estabelece mais como um thriller de espionagem, com algumas sequências de ação do que o espetáculo visual e de proporções épicas visto anteriormente.

Ao apostar num ambiente onde reina a paranoia e a desconfiança, o filme consolida muito bem a sua ameaça, uma identidade omnipresente, o que atribui impacto e faz-nos valorizar o que está, realmente, em jogo, mantendo-nos investidos nas várias reviravoltas do enredo. Não dá para confiar totalmente em ninguém nem em nada do que vemos, um pânico que é palpável e muito em dia com os temas da atualidade.

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Missão Impossível
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Este é também o filme mais próximo do primeiro “Missão: Impossível”, onde Brian De Palma imprimia o seu estilo vincado num thriller sofisticado e tenso, que apostava nesse clima de paranoia para funcionar. Podemos dizer que “Missão: Impossível – Ajuste de Contas: Parte Um” não é McQuarrie a tentar perseguir o sucesso de “Fallout”, como podíamos esperar, mas encontra sim o realizador a tentar emular De Palma.

Vale destacar que as expetativas, e a realidade da saga, mudaram drasticamente desde o seu início e por isso mesmo, estas tentativas de intimismo do realizador não funcionam tão bem quanto se esperava, principalmente no uso de planos de ângulos holandeses durante uma conversa entre Ethan Hunt e Kitteridge (Henry Czerny), onde procurava homenagear a clássica cena de confronto entre os dois personagens no restaurante.

Outro dos elementos que fizeram a saga crescer, foi perceber que apostar numa dinâmica de equipa não enfraquece Tom Cruise e o seu Ethan Hunt, já que ao criarmos empatia pelas pessoas que o acompanham, as missões tornam-se mais pessoais e permite-nos criar uma maior envolvência com as situações, ajudando-nos a perceber quem é esta personagem e o que a motiva. É aquela ideia de Hunt como uma pessoa que se preocupa tanto com a vida de uma pessoa quanto a de milhões, expressa em “Fallout”, que ajuda a tornar o nosso herói em alguém mais complexo e relacionável.

Todavia, a dinâmica de equipa fica deixada para segundo plano com a introdução de Grace (Hayley Atwell). Carismática e altamente charmosa, Hayley mostra, desde cedo, ao que veio, tendo uma ótima química com Cruise.

Este é o filme da série mais engraçado e muito isso deve-se ao tipo de relação que abraça entre os nossos protagonistas, que aproveitando alguns elementos da chamada screwball comedy. Cruise é o Cary Grant para a Katharine Hepburn de Atwell, uma dinâmica deliciosa e relativamente original no panorama atual. A comédia está ainda presente numa das sequências de ação, envolvendo um carro inusitado, e ainda em vários momentos no diálogo e na imagem, de forma sempre muito natural e bem-vinda.


Por querer entregar um thriller de paranoia com um inimigo incerto, a ação fica um pouco prejudicada, não é que ela não exista, simplesmente as sequências são mais reduzidas e com uma relevância muito menor.

A set piece do comboio que foi vendida como o grande momento do filme, embora tenha a sua adrenalina e energia, não entra para um TOP de sequências da série, nem é algo tão memorável, criativa, original ou impactante a nível de construção como aquilo a que McQuarrie e Cruise já nos habituaram.

O cineasta opta ainda por investir em cenas de combate corpo a corpo entre os personagens, em que toda a pirotecnia e aparato desaparecem para dar lugar a um realismo mais puro e duro, uma diferença na abordagem, mas que prospera graças ao trabalho de câmara que posiciona-nos na ação, de forma eficiente e cativante.

Outro elemento que surpreende é a aposta em explorar o passado de Ethan Hunt e a própria mitologia envolta com a Impossible Mission Force. Até aqui, nunca nos tinha sido dito como o processo funcionava, mas agora sabemos que está relacionado com uma escolha que é dada aos membros da equipa, e estão lançadas as bases para que seja mais explorado na segunda parte do filme.

A apresentação de Gabriel (Esai Morales) como o mensageiro da entidade, e figura do passado de Ethan Hunt, nunca é realmente convincente. Morales faz o que pode com um antagonista que bebe dos piores vícios de Missão: Impossível na forma como constrói os seus vilões, homens sem grande razão para serem quem são e por isso, desinteressantes enquanto personagem propriamente dita.

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Missão Impossível - Ajuste de Contas Parte Um 1
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Não deixa de ser de lamentar também que a série de filmes volta a incorrer no uso do tropo “Women in Refrigerators”, ao apresentar mais uma perda de uma mulher como motivação do nosso herói. É algo primário, repetitivo e desnecessário, principalmente porque a série até foi aprendendo a entregar personagens femininas com relevo e profundidade.

Neste filme, elas voltam a ser o destaque, para além da já mencionada Hayley Atwell, temos o regresso da misteriosa Alanna Mitsopolis vivida com muita elegância e à vontade por uma fascinante Vanessa Kirby e a adição de Paris, uma capanga interpretada por Pom Klementieff que entrega na fisicalidade e atribui alguma profundida à sua personagem.

Por outro lado, o tratamento dado a Ilsa Faust, a personagem de Rebecca Ferguson, é um dos grandes pontos negativos do filme que a descarta como uma criança que tem um brinquedo novo. No caso, a sensação que fica é que com a apresentação de Grace, os guionistas ficaram sem saber o que fazer com a outra mulher da vida de Ethan, desperdiçando aquele que era o grande destaque dos últimos dois filmes.

Não seria justo falar de destaques e regressos, sem mencionar Henry Czerny que volta a encarnar Kitteridge, esta dúbia figura de poder relacionada com o IMF que regressa à vida de Ethan depois de o ter perseguido no filme de 1996. Czerny surge persuasivo, charmoso e muito seguro de si, aproveitando todas as suas cenas para abocanhar o material. O peso de Kitteridge é sentido no filme, não só ouvimos a sua voz firme como forma de iniciar e fechar o filme, mas também a revelação da sua presença na reunião inicial é tratada como um evento pela câmara.

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Confirma-se esta reverência de McQuarrie pelo filme original, algo que até aqui nunca tínhamos visto e que traz frescura a este novo capítulo, ainda que faça o cineasta tentar ser um artista que ele não é, e perder alguma das qualidades que o tornaram o par perfeito para Tom Cruise e para esta série de filmes que resiste ao tempo.

Missão: Impossível - Ajuste de Contas: Parte Um, em análise
Missão Impossível - Ajuste de Contas Parte Um poster final

Movie title: Missão: Impossível - Ajuste de Contas: Parte Um

Movie description: Ethan Hunt e a sua equipa IMF embarcam na missão mais perigosa de sempre: localizar uma nova e terrível arma que ameaça toda a humanidade, evitando que caia nas mãos erradas. O destino do mundo está em jogo. Com o controlo do futuro em risco e forças obscuras do passado de Ethan a aproximarem-se, começa uma corrida mortal à volta do globo. Confrontado por um inimigo misterioso e todo-poderoso, Ethan é forçado a considerar que nada pode ser mais importante do que a sua missão - nem mesmo as vidas daqueles com quem ele mais se preocupa.

Director(s): Christopher McQuarrie

Actor(s): Tom Cruise, Hayley Atwell, Henry Czerny, Rebecca Ferguson

Genre: Acção, 2023

  • André Sousa - 85
85

Summary

“Missão Impossível: Acerto de Contas Parte Um” constitui uma satisfatória primeira parte que não é tão épica nem memorável como os seus antecessores, mas sucede em consolidar uma ameaça credível e pertinente. Não usa tão bem o seu elenco quanto os últimos dois, no entanto a dinâmica comédia romântica de Ethan Hunt e Grace é um grande acerto. Um filme que se distingue dos outros pela sua inédita reverência ao primeiro filme de De Palma e pela busca de saber mais sobre a mitologia deste universo.

Pros

  • Os elementos de paranoia atribuem mistério e interesse aos desenvolvimentos da trama;
  • A aposta no humor é bem conseguida e doseada;
  • Hayley Atwell e Tom Cruise têm ótima química e a sua relação é uma lufada de ar freso.

Cons

  • A forma como descarta Ilsa Faust.
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