Má Vizinhança, em análise

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  • Título Original: Neighbors
  • Realizador: Nicholas Stoller
  • Elenco: Seth Rogen, Rose Byrne, Zac Efron, Dave Franco, Christopher Mintz-Plasse
  • Género: Comédia
  • ZON | 2014 | 96 min

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‘Venha mais uma comédia despropositada, já estávamos com saudades’. Não tem mal nenhum pensar desta forma numa primeira instância, senão vejamos: Um jovem casal está em dificuldades em se adaptar a novos hábitos e rotinas por força do nascimento da sua filha. A mudança de uma República de Estudantes Universitários para a casa ao lado vai ainda piorar a situação. Barulho, festas e outras transgressões vão fazer com que este casal relembre tudo o que tiveram de abdicar com a chegada da bebé e lutem pela serenidade e idoneidade do bairro de volta.

O humor roça o brejeiro, os personagens são tão aparvalhados quanto a premissa e os seus melhores momentos têm por base inúmeras piadas de forte cariz sexual. E a julgar por um primeiro olhar menos preocupado com enquadramentos sociais e deficiências geracionais, “Má Vizinhança” parece ser apenas mais uma inconsequente comédia onde a parvoíce é o prato forte. No entanto, por mais estranho que possa parecer, essas ideias pré-concebidas são o rotundo falhanço que o filme acaba por não ser.

Má Vizinhança (3)

Má Vizinhança” torna-se gradualmente num retrato bastante fiel – embora racionalmente hiperbolizado – de uma geração, onde se aborda de forma ironizada as diferentes fases da vida de um homem, mesmo que o espectador não seja capaz de observar essa evolução temporal. Isto porque as personagens de Zac Efron e Seth Rogen, embora não coexistam no tempo corrente, parecem ser a evolução uma da outra se analisarmos as suas tendências comportamentais. Tudo é, portanto, um confronto intergeracional entre um estudante de boa reputação (entenda-se, estudante baldas, musculado e pronto para farras) e um segundo sujeito com vida feita que podia perfeitamente representar o rotineiro futuro do primeiro, que demostra a inevitabilidade das mudanças que o envelhecimento perpetua e o saudosismo da adolescência.

Má Vizinhança” pretende sobretudo que o espectador se divirta tanto ao ponto de chorar devido ao próprio riso, mas não se limita a exibir um festim de piadas descaradas. Oferece uma visão ampla sobre uma pequena porção da sociedade que se diverte como ninguém e não aproveita as oportunidades dadas pela vida – estudar e ser alguém é uma oportunidade mais do que válida.

Se quisermos ir um bocadinho mais longe, é também uma análise vincada à forma como a sociedade se comporta sob circunstâncias desconfortáveis mas para isso recorre a piadas de mau gosto e humor corriqueiro que resultam sempre melhor do que esperávamos.

Má Vizinhança (2)

Apesar de todas essas leituras secundárias que se possam realizar a posteriori, o que realmente importa é aquela curtíssima hora e meia onde não é possível conter o riso. E por muito convencional e, a espaços, até completamente aleatória que a narrativa se possa tornar, o humor extravagante e louco não nos permite pensar em mais nada.

Zac Efron e Seth Rogen dominam o ecrã da javardice (querem melhor exemplo que aquela cena absurdamente genial onde eles se socorrem de dois preciosos objetos para se agredirem?). Se para Rogen, esta é apenas mais uma etapa da sua longa corrida para a imbecilidade, já Zac Efron prova que talvez tenha encontrado a sua praia. Quanto a Rose Byrne, pode-se dizer que é uma revelação, roubando as cenas onde surge e preenchendo a tela com aqueles seus jeitos e dizeres tão hilariantes quanto imundos.

Má Vizinhança (4)

Está-se perante o cúmulo do absurdo e do patético, sem que isso seja uma qualidade forçosamente má. É que apesar de ser percetível uma quantidade avultada de clichés, previsibilidade e golpes baixos de humor, há sempre a consciência de que grande parte desses momentos de pura puerilidade são situações controladas e especificamente trabalhadas para parecerem absurdas. É aqui que o absurdo ganha uma outra dimensão.

Se fosse possível fabricá-lo em laboratório, “Má Vizinhança” teria forçosamente de ser uma mistura homogénea entre a ousadia, extravagância e (a)moralidade de “Spring Breakers” e o carácter aleatório, apatetado e cómico de “A Ressaca”.

Só há que lamentar um facto transversal à maioria dos filmes do género: é tão fácil rir com ele quanto esquecê-lo. É aproveitar enquanto dura.

DR


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2 thoughts on “Má Vizinhança, em análise

  • Adorei o filme, e a critica, além do filme também exibir um assunto em voga em Portugal, a praxe.

    “querem melhor exemplo que aquela cena absurdamente genial onde eles se socorrem de dois preciosos objetos para se agredirem?”

    Também me fartei de rir nessa parte!

  • “Má Vizinhança”: 4*

    “Má Vizinhança” é um filme bastante divertido e irreverente, gostei de ver este alegre filme.
    “Neighbors” tem momentos hilariantes, mas não é perfeito pois também partes deveras parvas.

    Cumprimentos, Frederico Daniel.

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