Non-Stop, em análise
Cada vez será mais penoso realizar um filme de acção. Qualquer analista, crítico, público que aprecie partilhar a sua opinião sobre as suas visualizações cinéfilas terá, com certeza, esta sensação. Não me encontro dentro do meio da realização e script, mas não creio que seja, de todo, “a walk in the park” construir um argumento inovador, simultaneamente inteligente, com incríveis doses de originalidade e complementá-lo com uma direcção, no mínimo, ao mesmo nível.
Razões? O desgaste dos recursos, quer no que respeita a enredos, quer no que concerne a técnicas de realização. Mas, acima de tudo, o elevado grau de exigência de todos nós. Este é, inevitavelmente o nosso maior inimigo. Ou amigo, se o nosso intuito for o do incessante aperfeiçoamento. Exige-se cada vez mais qualidade. Condena-se de forma crescente qualquer película que nada acrescente ao patamar no qual colocámos a melhor anteriormente visionada.
Liam Neeson é Bill Marks, um dos passageiros – embora especial; é um ‘air marshal’ – de um voo transatlântico cuja tarefa árdua para as próximas horas fica, desde logo, designada, quando começa a receber, no seu telemóvel, mensagens de um desconhecido cujas afirmações se traduzem em ameaças dirigidas às cento e quarenta e seis pessoas que integram o voo Nova Iorque – Londres. Aparentemente e em teoria, as ameaças poderão cessar, caso aceda ao pedido que lhe é feito.
“Non-Stop” sofre, manifestamente, do que aqui designo por ‘síndrome nada de novo”. Uma espécie de ‘no surprises’. O público cinéfilo já viu a generalidade do que compõe “Non-Stop”. Não há mais-valia nesta produção. Em jeito de trocadilho com o título do filme, “Non-Stop” não susta para nos maravilhar. Avança, embora suspenso, numa catadupa de interacção tecnológica – aquelas mensagens do tipo “WhatsApp” não resultam em nada de espectacular e a sua visualização imediata em português retira algum do ‘glamour’ que as cenas poderiam conter.
Se o ‘síndrome nada de novo’ estivesse presente em grande parte dos filmes cujas estreias se vão sucedendo no mundo da 7.ª Arte, o desinteresse pelo cinema já se havia propagado de forma avassaladora. E “Non-Stop” presenteia-nos com alguns lugares-comuns, tiradas com ausência de criatividade e uma ligeira falta de sentido, e um elenco de actores aqui um tanto ou quanto subvalorizado. Necessitamos, nos dias que correm, de algo mais, de muito mais, num filme de acção e ‘suspense’. Mesmo com o peso de Liam Neeson, há simplesmente transatlânticos que não descolam.
Jaume Collet-Serra é o pai de “Unknown”, “Orphan” e “House of Wax”. Essencialmente apontando para a primeira referência, cedo percebemos que este é um criador sobejamente interessado na identidade e sua fácil usurpação/manipulação. O tema, poderoso, é uma base cheia de potencialidades e não se duvida das capacidades e mestria de J. Collet-Serra.
Exactamente pelo seu talento, estava em crer numa aptidão para o menos óbvio, abstraindo de clichés de herói nacional, previamente suspeito de terrorista, subitamente convertido em filho pródigo da nação.
“I’m not hijacking this plane. I’m trying to save it!”, “Non-Stop”, personagem Bill Marks
Não duvido que fique a salvo na nossa televisão.
Sofia Melo Esteves