O Rapto de Freddy Heineken, em análise

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 FICHA TÉCNICA

  • Título Original: Kidnapping Mr. Heineken
  • Realizador: Daniel Alfredson
  • Elenco: Jim Sturgess, Sam Worthington, Ryan Kwanten
  • Género: Action, Drama, Crime
  • 2015 | 95 min

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Daniel Alfredson, que não se importou de brincar com o fogo com a adaptação ao cinema das obras de Stieg Larsson (“Millennium 2: A Rapariga que Sonhava com uma Lata de Gasolina e um Fósforo” e “Millennium 3 – A Rainha no Palácio das Correntes de Ar”), arrisca pouco, nada acrescenta ao cinema actual – que tanto depende de criatividade e qualidade para não se perder nas malhas do óbvio e desgastado – e, lamentavelmente, promete um rebuçado a uma criança, para, logo de seguida, retirar essa promessa. Onde? Em Anthony Hopkins.

Se esta produção não teve como único propósito razões de caracter comercial, é de árdua percepção o que mais terá conduzido D. Alfredson a dirigir de forma um tanto ou quanto desleixada, e sem considerável vínculo afectivo ao argumento. 

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Nada o impede de filmar por filmar. Nem a ele, nem a ninguém. Mas este foi simplesmente mais um fósforo, como tantos outros, sem lata de gasolina por perto. Nos dias que correm, anseia-se por mais, muito mais. O grau de exigência eleva-se exponencialmente, sem complacência.

Jim Sturgess, Sam Worthington, Ryan Kwanten, Mark van Eewen e Thomas Cocquerel são, respectivamente, Cor, Willem, Jan, Spikes e Brakes, co-autores do crime quase perfeito, pessoas de emoções e atitudes todas divergentes, movidas por princípios também eles sem grande similitude, e é esta uma das notas satisfatórias da película. O retrato das personalidades. A caracterização de homens distintos, atirada aos nossos olhos, para que os possamos analisar. Satisfatória. Nada mais. Pois não existe chama neste tratamento.

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Hopkins é a vítima do delito, uma acção criminosa baseada em acontecimentos que efectivamente sucederam – o rapto do magnata Freddy Heineken, em Amsterdão (1983) cujo desfecho se traduziu num montante pago de resgate na linha dos $20 milhões.

Quase do início ao fim da história enclausurado – não que estranhe ser confrontado com estas recepções de boas vindas por parte dos realizadores -, a verdade é que a qualidade artística de Hopkins pertence a um patamar onde poucos se encontram. Das duas uma: ou Alfredson não orientava a história por este prisma e, inversamente, atribuía mais foco a Hopkins, explorando toda a sua capacidade de hipnotismo em jeito de monólogo perturbador, ou tinha feito incidir a sua escolha num outro actor. O processo, todo ele, da forma como correu, deixou-nos com fome de mais. Muito mais. A lembrança de um talentoso Hopkins está lá, realmente, e por momentos; mas a confiança que depositámos é abalada. Não por ele. Mas por quem não lhe dá o grande plano. E quase acreditámos nisso. Nessa exploração da sua magnífica empatia enquanto prisioneiro. E afinal, eis que se torna numa gota no oceano, mar este consubstanciado em cinco actores que, sem margem para dúvidas, estão longe de pegar fogo às cenas.

O Rapto de Freddy Heineken, no geral, é um fraco momento cinéfilo, e, não sendo um desastre, pode dar graças, quer à aparição de Hopkins, quer à análise – embora superficial – da carga emocional dos cinco executores. Valha-lhe isto.

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Sofia Melo Esteves

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