The Replacements (foto de ©Daniel Corrigan)

O rock alternativo em exposição no Pavilhão Carlos Lopes

Este fim-de-semana, do timbre inconfundível ao lirismo dilacerado, o rock alternativo será visto como salvaguarda da pessoa na modernidade, na exposição A Nossa Banda Podia Ser a Tua Vida.

Nos dias 9 e 10 de novembro, no Pavilhão Carlos Lopes (Parque Eduardo VII, Lisboa), a exposição A nossa banda podia ser a tua vida mostrará o rock, particularmente na sua versão alternativa, como resposta quer ao entusiasmo, quer à solidão e desumanização da modernidade. Curada pela equipa de música da Magazine.HD, a exposição terá lugar na VII edição do Meeting Lisboa, subordinada ao tema “Quem me dera ouvir de alguém a voz humana”, e inclui uma conversa com Roberto Caetano, vocalista e guitarrista da banda First Breath After Coma, no dia 10, às 14h30.

Se o desejo de ouvir de alguém a voz humana é inerente a cada um de nós, seres dotados de uma capacidade de amar profundamente o outro e de estabelecer redes de relações afectivas firmadas na experiência de comunhão e libertação, então a ânsia pela descoberta de um rosto singular e autêntico no meio das grandes massas ergue-se enquanto resposta ao clima de homogeneização sociopolítica e, paradoxalmente, de alienação e solidão, desde sempre gerado nos centros citadinos. Este incessante estado de desconforto existencial e a demanda por círculos afetuosos nos quais nos possamos reconhecer inteira ou parcialmente, encontram no rock alternativo um poderoso aliado.

Mais do que uma vulgar forma de arte, o rock alternativo é uma forma de vida, um reduto da salvaguarda do indivíduo e da sua história e a procura de um sentido ou uma proclamação de existência. Logo, um dos objectivos basilares da exposição relaciona-se precisamente com a demonstração de que pessoas concretas, com os seus timbres únicos e inconfundivelmente humanos, continuamente recorreram à visceralidade da manifestação artística para dialogar com um outro igualmente assoberbado por perplexidades, reflexões aparentemente idiossincráticas e pela permanente vivência com o sofrimento, convertendo a sua inquietação silenciosa num grito audível por todos e comprovando que, no fim de contas, A nossa banda podia ser a tua vida.

A exposição encerrará com uma conversa com o músico Roberto Caetano, representante da banda pós-rock de Leiria, First Breath After Coma, que no início do corrente ano lançou o seu terceiro álbum de estúdio, Nu (2019), seguindo-se a Drifter (2016) e The Misadventures of Anthony Knivet (2013). O grupo nacional não só é célebre pela sua experimentação com distintas atmosferas sonoras e pela primazia com que alcançam a conversão de um género de música tão hermético quanto o pós-rock em algo facilmente penetrável e desfrutável por parte do público geral, como por darem a ouvir a voz humana através de um intenso jogo de contrastes entre estados de espírito inevitavelmente conectados à teatralidade da sua música, a combinações sonoras específicas e ao modo como estas se fundem ou divergem ao longo do tempo. Em Março, o quinteto finalmente “respirou”, após três anos de puro mutismo. Agora, Roberto Caetano terá uma palavra a dizer sobre esta sua mais recente exploração dos conceitos de nascimento, vida e morte do ser-humano e de que forma o conteúdo musical e visual que integra Nu (2019) se pode enquadrar dentro dos tópicos abordados em A nossa banda podia ser a tua vida.

FIRST BREATH AFTER COMA | AO VIVO NA CASOTA

O Meeting Lisboa é uma iniciativa cultural inaugurada em 2012, tendo decorrido já em diversos espaços da capital, como o Campo Pequeno, a Tenda do Centro Cultural de Belém (CCB) e agora o Pavilhão Carlos Lopes. Desenvolvendo-se cada edição em torno de um tema relevante para a existência humana, transversal aos diversos âmbitos de vida, o Meeting Lisboa procura o diálogo entre todas aquelas perspectivas e pessoas que se empenham seriamente em levantar e responder às questões implicadas no tópico focado.

Descrito pelo Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, na sessão de abertura da edição de 2016, como um contributo para a construção não só do país como, acima de tudo, da pessoa, o Meeting Lisboa tem sido lugar de encontro entre várias personalidades relevantes para a vida pública portuguesa (e não só), desde as mais discretas às mais visíveis. A edição deste ano retira o seu título de um verso de Álvaro de Campos, “Quem me dera ouvir de alguém a voz humana”, e, levando a sério o anseio nele expresso, procura discutir questões tão pertinentes como o mistério do sofrimento, o desejo de amor ou a afeição à pessoa concreta nos seus traço únicos e irredutíveis. O programa integral pode ser consultado aqui.

Meeting Lisboa - Rock alternativo em exposição

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