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Tens ossos no congelador? Não são restos, são ouro puro

O teu congelador pode estar cheio de lixo ou cheio de ouro. Tudo depende de como olhas para os ossos.

Durante anos, olhei para os ossos no prato como se fossem lixo biológico. O prato está limpo, a refeição acabou, segue-se a reciclagem ou o balde do lixo orgânico. Mas havia uma verdade escondida na tradição dos nossos avós, uma prática discreta e agora quase extinta que transforma restos esquecidos num elixir dourado: o caldo de ossos.

Esta é a história de como deixei o Caldo Knorr na prateleira e abracei a alquimia ancestral do que hoje alguns chamam de “ouro líquido”.

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Sim, devias guardar os ossos

Caldo de Ossos
Foto de Vítor Carvalho © MHD

A ideia é simples, quase óbvia, mas regularmente ignorada: os ossos, peles, cartilagens e restos da carcaça de frango (ou de outros animais) têm mais para dar depois da refeição principal. Portanto, quando fervidos durante horas, libertam gelatina natural, minerais, colagénio e um sabor profundo que não consegues replicar com cubos desidratados comprados no supermercado.

O caldo caseiro tem benefícios reais: é mais nutritivo, mais barato, mais saboroso e respeita o animal inteiro. É cozinha de raiz, feita com tempo e respeito. Além disso, fazer caldo é como abrir a porta a um novo mundo dentro da cozinha. Dá-te base para sopas mais ricas, risottos que sabem a abraços que precisavas na tua infância , molhos com alma. E tudo isto vindo do que, até então, era lixo.

Não há, hoje em dia, tradição universal em Portugal de fazer caldo com regularidade. Nem a minha mãe fazia. Assim, só depois de tropeçar num vídeo do canal britânico Atomic Shrimp, onde o autor vive durante uma semana com um orçamento ridiculamente baixo, é que percebi o poder transformador deste gesto culinário. De repente, um saco de ossos congelados parecia mais valioso do que um frango inteiro.

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Como fazer caldo de ossos

Caldo de Ossos
Foto de Vítor Carvalho © MHD

É quase ridículo como é fácil. E não, não precisas de equipamento especial ou de uma receita específica. A ideia é simples: tempo, água, ossos e um pouco de acidez para extrair o colagénio. Se tiveres ervas aromáticas, restos de cebola, cenoura ou alho francês — ótimo. Mas mesmo sem isso, resulta. A magia está na paciência.

  • Junta todos os teus ossos de frango, vaca ou porco, com ou sem restos de carne, numa panela grande.
  • Cobre com água, adiciona um fio de vinagre (ajuda a libertar os minerais) e, se quiseres, legumes que iriam para o lixo: cascas de cebola, folhas de aipo, topos de cenoura.
  • Ferve e depois deixa cozer em lume muito brando durante pelo menos 4 horas, idealmente 8 a 12. Quanto mais tempo, mais rico o caldo.
  • Coa, guarda em frascos no frigorífico ou congela. Quando arrefece, deve gelatinar — esse é o sinal de que tens colagénio puro ali dentro.

E sim, é normal parecer estranho no início. Mas depois da primeira sopa feita com caldo caseiro, nunca mais vais querer voltar ao cubo. Portanto, vais sentir o sabor profundo, o calor que reconforta, e a sensação de que cozinhaste com sabedoria ancestral.

Porque é que o caldo está a fazer um regresso

Num mundo onde falamos cada vez mais de sustentabilidade, desperdício alimentar e saúde, o caldo de ossos surge como a resposta prática a todos esses temas. É zero desperdício. É respeito pelo alimento. E é inegavelmente uma forma acessível de cozinhar melhor, com mais sabor e mais consciência.

Assim, a ciência não nega os benefícios: para quem tem problemas nas articulações, pele seca, digestões difíceis ou imunidade em baixo, o stock é uma arma nutritiva e funcional (National Geographic). E, sejamos francos: não é só saudável, é delicioso.

Vais continuar a deitar os ossos fora, ou vais juntar-te aos iniciados do grande e glorioso caldo de osso? Deixa a tua escolha nos comentário.



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