Paixão, em análise

Passion (4)
  • Título Original: Passion
  • Realizador: Brian De Palma
  • Elenco: Rachel McAdams, Noomi Rapace, Karoline Herfurth
  • ZON | 2013 | Thriller/Crime/Drama | 105 min

Classificação:

[starreviewmulti id=9 tpl=20 style=’oxygen_gif’ average_stars=’oxygen_gif’]

 

 

Depois de uma ausência prolongada no que toca à realização de longas-metragens, perguntávamos a nós mesmos o que levaria Brian de Palma a voltar ao plano cinematográfico com um remake de um thriller erótico de Alain Corneau, Crime D’amour. E depois de vermos o seu novo trabalho, “Paixão”, constatamos que de Palma não faz mais do que um espelho do seu próprio cinema dos últimos anos. O remake é o termo que vem confirmar a teoria de que estamos na presença de um autor inconstante e inconsistente, e que se apega a este novo trabalho como um refúgio para a sua atual desinspiração.

Agora muito longe dos trabalhos que o aclamaram como “Scarface”, “Carrie”, “The Untouchables” e até “Vestida Para Matar”, Brian de Palma traz-nos um filme onde lhe falta sobretudo alguma solidez e concordância no argumento, o que não lhe permite voar mais alto do que aquilo que ambicionava. É que apesar de não ser um mau trabalho é, ainda assim, um trabalho frouxo que tenta muitas vezes ser mais do que aquilo que realmente é.

Passion (1)

A sinopse oficial fornecida pela ZON Audiovisuais diz-nos que Christine (Rachel McAdams) possui uma elegância natural e a espontaneidade de quem tem uma relação saudável com o dinheiro e o poder. Inocente, adorável e facilmente enganável é Isabelle (Noomi Rapace) a sua protegida, cheia de ideias inovadoras que Christine decide roubar sem qualquer escrúpulo. Afinal de contas, elas estão ambas na mesma equipa… Christine sente prazer em controlar a jovem Isabelle, conduzindo-a passo a passo num profundo jogo de sedução e manipulação, dominação e humilhação. Mas quando Isabelle acaba na cama com um dos amantes de Christine, começa uma guerra.

No último terço do filme, Brain de Palma expõe a cena que define o filme. Um rasgado split screen separa duas realidades simultâneas. Enquanto Isabelle se encontra hipnotizada pelo bailado sensual, reconfortante e apaixonado, do lado oposto há um impactante e engenhoso crime. A opção de Brian de Palma pelo split screen traduz a dificuldade de unir esses dois mundos que ele tenta a todo o custo juntar na tela: de um lado, um filme sonhador, belo e magnético, do outro, um thriller erótico tenso e claustrofóbico. Não tenhamos dúvida que os dois universos, quando existem de forma separada, funcionam de forma bastante satisfatória, mas as incoerências no argumento e algumas cenas mais incautas não permitem que estes coexistam. E é uma pena porque os valores desta obra são nitidamente condicionados por uma narrativa algo atabalhoada.

Passion (2)

No entanto, e apesar de todas essas condicionantes, não nos podemos abstrair dos seus pontos fortes. A fotografia de José Luis Alcaine transmite, curiosamente, uma maior tensão sexual do que o próprio enredo. Os tons de vermelho dos lábios das protagonistas e das roupas de Christine são um foco de atenção para nossos olhos, mas os subtis contrastes com cores escuras bem enquadradas revelam a ambivalência da obra.

Brian de Palma, apesar de toda a sua desinspiração, não se esquece como se filma. E a forma como filma e enquadra as protagonistas na tela é a marca de um grande cineasta. A câmara conta uma história de mentira, ascensão e queda, sedução e crime sem serem necessárias palavras. O suspense Hitchcockiano, combinado com algumas revisitações do passado erótico de Brian de Palma, é revelado na sua câmara misteriosa e bela, sendo este um dos apontamentos mais fortes de “Paixão”.

Passion (3)

A magnética Rachel McAdams apresenta uma das suas melhores interpretações da carreira encarnando uma personagem feminina com sensualidade fatal e capaz eliminar todos os alvos que lhe surgem no caminho para ter sucesso. Por contraste, Noomi Rapace é progressivamente reveladora na sua personagem inicialmente insípida mas poderosa no fim. Duas prestações que mereciam um filme maior.

É no fundo uma “Paixão” pouco apaixonada que nos deslumbra nos seus rasgos de genialidade e beleza técnica e interpretativa, mas que no momento seguinte nos desilude com sua ingenuidade.

DR



Também do teu Interesse:


About The Author


One thought on “Paixão, em análise

  • Eu gostei do filme!
    Só o final que é desanimador!
    É um filme controverso, muito ame ou odeie!
    Eu gostei principalmente pela atuação da Rachel Mcadams que foi maravilhosa!!!!

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *