Plano Nacional de Cinema: Ver e Aprender Cinema (em Português).

Criado em 2013, o Plano Nacional de Cinema (PNC) vai dando pequenos passos mas com um objectivo bem delineado de levar as escolas e os jovens a ver mais cinema nas salas e sobretudo a conhecerem melhor o cinema português. A MHD falou com a Professora Elsa Mendes, a coordenadora nacional, e foi aprender tudo sobre o PNC, e saber do interesse das escolas em adoptá-lo já que não está nos programas dos alunos.

Plano Nacional de Cinema

MHD: Qual o objectivo em concreto do PNC? Levar mais os alunos ao cinema ou combater uma certa ‘iliteracia cinematográfica’ em relação ao cinema em geral ou em particular ao cinema português?

EM: O PNC é um protocolo entre a Direção-Geral da Educação, o ICA-Instituto de Cinema e Audiovisual e a Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema, e, de entre os seus objetivos, destaca-se a intenção de formar públicos jovens para o cinema. Neste âmbito, defende-se a prioridade em divulgar o cinema português junto dos jovens e respetivas comunidades educativas. É um aspeto que valorizamos muito, a divulgação do cinema português e em Língua Portuguesa junto das crianças e dos jovens portugueses.

Vê Entrevista com a Coordenadora Nacional

MHD: Existe uma lista base de filmes, como é feita a escolha desses filmes, quais são os principais critérios (idades dos alunos, programas, temas, formatos, géneros, nacionais e internacionais). Quem faz esta seleção, esta escolha?

EM: A Lista de Filmes recomendados é atualizada todos os anos e constitui-se como uma referência. Procura propor um conjunto diversificado de filmes considerados significativos para serem estudados a nível nacional, razão pela qual a lista é idêntica para todas as escolas, sem prejuízo do visionamento de outros filmes além dos que constam dela, no caso de escolas que, apesar de integrarem o PNC, já tenham programas anteriores de educação para o cinema e/ou planos de atividades aprovados e/ou parcerias com associações e/ou organismos nacionais e/ou internacionais que incluam o visionamento de outras obras cinematográficas de interesse pedagógico relevante. Todos os anos a Lista é enviada para várias entidades ligadas à área do cinema, para que sejam integradas outras sugestões. Posteriormente, as sugestões são ponderadas e integradas na Lista pela equipa nacional do PNC (que integra elementos das três instituições envolvidas).

Plano Nacional de Cinema
Pedro Mexia com Elsa Mendes, coordenadora nacional do PNC.

MHD: Onde se fazem as projecções dos filmes nas salas de aula ou nas salas de cinema?

EM: As projeções são realizadas em espaços próprios para ver cinema: cineclubes, auditórios municipais, cineteatros, salas dos cinemas NOS. Há mais de 50 salas com auditórios a colaborar com o PNC. As sessões podem também ser realizadas em contexto escolar, nos próprios estabelecimentos de ensino, onde, por vezes, a análise dos filmes pode ser incentivada de formas muito interessantes.

MHD: Nessas projecções há uma apresentação dos filmes (ou uma preparação dos alunos para o que vão ver) e discussão depois no final?

EM: Sim, o modelo das projeções inclui, sempre que possível, uma preparação prévia e/ou uma apresentação dos filmes aos alunos, e, posteriormente, um debate ou conversa, que pode ocorrer ainda na sala de cinema, ou, posteriormente, na escola. É de todo o interesse que os alunos possam contactar diretamente com cineastas, críticos e historiadores de cinema, atores, entre outros.

Plano Nacional de Cinema
Uma formação de professores na Cinemateca Portuguesa.

MHD: Existe igualmente uma formação dos professores para este efeito ou seja preparar os alunos?

EM: O PNC, através da Direção-Geral da Educação, tem dinamizado um programa de formação de professores nesta área, com uma Ação de Formação que é implementada em vários distritos do país, e, a médio prazo, esperamos que seja possível dinamizar mais modalidades de formação neste âmbito, em articulação com diversas entidades, nomeadamente de Ensino Superior.

MHD: Em que âmbito ou disciplina curricular o PNC é integrado? Faria mais sentido nas disciplinas de artes visuais ou deve ser mais abrangente?

EM: O PNC é bastante transversal. Nas escolas, o projeto está mais vulgarmente associado às áreas de Artes e Humanidades, mas as equipas de professores a nível de escola incluem, frequentemente, professores de várias áreas científicas, o que, à partida, é muitíssimo bom. Naturalmente que o cinema continua a ser apropriado como uma ferramenta de auxílio para diversas disciplinas, mas o que defendemos é que ele deve ser trabalhado de forma mais integral, o filme pode e deve ser abordado a partir da(s) linguagem(s) que ele utiliza, e os alunos e professores podem e devem ter um maior conhecimento sobre essas linguagens.

MHD: O PNC é facultativo ou obrigatório nas escolas? Depende fundamentalmente da vontade dos alunos ou de um grupo de professores cinéfilos?

EM: Uma vez que a área de cinema não se encontra diretamente integrada no currículo do ensino não superior, o projeto não pode ser obrigatório. As escolas participam de livre vontade, em função dos seus projetos educativos e interesses definidos no sentido de desenvolverem atividades no âmbito do cinema para os alunos.

Plano Nacional de Cinema
O Plano em acção em Vouzela.

MHD: Em Lisboa cidade (e se calhar no Porto também) há poucas escolas aderentes. Fico com ideia que há um maior interesse por exemplo das escolas da periferia das grandes cidades e mesmo do resto do País?

EM: Começámos com cerca de 23 estabelecimentos de ensino a nível nacional, em 2013, mas, em 2017, estão integrados cerca de 200 estabelecimentos de ensino. No concelho de Lisboa há cerca de 11 escolas envolvidas e, no total do distrito de Lisboa, há mais de 33 estabelecimentos envolvidos. Várias destas escolas tem atividades muito sistemáticas relacionadas com o visionamento de cinema, e as experiências que são desenvolvidas são extremamente positivas, porque é inegável que o cinema alarga os horizontes cognitivos e culturais dos jovens. E é muito importante percebermos que, além do cinema mais vulgarmente visualizado, os jovens das escolas que estão integradas no PNC veem filmes de cineastas portugueses, quer se trate de ficção, cinema documental ou cinema de animação. Isso, para nós, é extremamente importante, e devia ter uma visibilidade cada vez maior nas escolas, porque é fundamental que as crianças e jovens valorizem os criadores portugueses e conheçam o património fílmico português.

MHD: Há alguma integração do Plano Nacional de Cinema com o programa ‘Cinema e Movimento’? Quem são os parceiros do PNC?

EM: Essa articulação ainda não existe, mas, atendendo ao facto de o ICA-Instituto de Cinema e Audiovisual ser parceiro integrante do PNC, acreditamos que possa vir concretizar-se.

MHD: Não seria interessante também incentivar a criação de Cine Clubes nas escolas? 

EM: Ela é incentivada, e algumas escolas têm implementado clubes de cinema, no entanto temos de ter presente que essas dinâmicas têm de ser sustentadas, ou seja, é preciso que, nas escolas, existam horas e tempos para o desenvolvimento destes projetos com alunos. Isso depende, naturalmente, da criação de condições a vários níveis.

Lista de Filmes de Referência Ano Letivo 2016-2017

MHD: O PNC tem sido aplicado ao ensino secundário, porque não está igualmente ao ensino superior?

EM: Sendo dinamizado pela Direção-Geral da Educação (em parceria com o ICA e a Cinemateca Portuguesa), o PNC incide sobre a formação de públicos jovens de todos os ciclos de ensino não superior para o cinema. É uma opção clara. Trata-se de um universo já de si muito abrangente, e, para já, todos os esforços estão concentrados na ideia de que é absolutamente prioritário criar condições e fazer alguma coisa pelo cinema relativamente a estes ciclos de ensino.

JVM

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *