©Queer Lisboa

Queer Lisboa 2025 | Cherub – Análise

“Cherub”, a estreia do canadiano Devin Shears no campo das longas-metragens chegou à Competição Queer Art do 29.º Queer Lisboa, onde foi muito bem-vindo com uma exibição única no Cinema São Jorge.

A 24 de setembro, exibiu-se “Cherub”, uma longa-metragem breve de 74 minutos que encara o seu protagonista com bondade e empatia, conseguindo assim um resultado muito positivo, contra a fobia contra pessoas obesas e a favor da auto-aceitação.

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Cherub compete no Queer Art 2025

Como é aliás já da praxe, na secção Queer Art encontramos algumas das obras mais bem-conseguidas deste festival, ano após ano, obras que não se preocupam com o “respeito” pelas regras mais cliché de representação das suas personagens, optando antes por expandir as directrizes da sua realização.

Por exemplo, no caso de “Cherub”, este filme generoso e empático é praticamente desprovido de diálogos, expressando as suas intenções antes através da imensa expressividade do protagonista, o ator e realizador Benjamin Turnbull, no papel de Harvey, um homem hetero muito solitário e que um dia decide submeter uma foto sua para a publicação gay “Cherub” – dedicada a “homens grandes e seus admiradores”.

Poster Cherub
©York University

A não inclusão de diálogos é muito importante para a jornada de Harvey, uma personagem profundamente solitária e que, através desta opção criativa, acaba por estar ainda mais excluída da interação com o mundo. O seu emprego é solitário, vive sozinho e a sua companhia mais frequente é uma pessoa em coma.

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Medos e linguagens universais no Queer Lisboa

Sentimos uma profunda capacidade de relacionamento, pois por muito particular que seja a jornada de Harvey, os seus receios são universais, assim como, claro está, as suas motivações. Como uma intervenção que vê na televisão nos recorda, o medo de humilhação é um motivador intenso para o comportamento humano, moldado-nos, a nós e às nossas hipóteses.

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Harvey sente estes medos na pele, receando mostrar-se, petrificado perante a hipótese do ridículo. Mas eis que a publicação Cherub lhe permite encontrar uma nova capacidade de amor próprio, um novo prisma empolgante que lhe diz que talvez possa afinal ser suficiente.

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Sem nada dizer, “Cherub” diz muito sobre a experiência humana e acaba em altas, ao exaltar a importância dos pequenos gestos de ternura e aceitação.

Benjamin Turnbull é verdadeiramente uma revelação na pele de Harvey, e não sentimos sequer falta das suas palavras. Diz tudo com a sua expressão – vulnerável e aberta, curiosa e atenta, imersiva.

Destaque ainda para a banda sonora, simples mas pujante, e capaz de acompanhar na perfeição a jornada do nosso herói, apresentada com cores vibrantes e um formato fílmico mais fechado – acentuando um pouco mais o “fechamento” da personagem principal e contribuindo também para um visual retro encantador que se reforça também com os intertítulos frequentes.

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Depois de ter sido feito por apenas 10.000 dólares como projeto universitário, e sido exibido em vários festivais de relevo, como o Vancouver International Film Festival ou o londrino BFI Flare, também dedicado a cinema queer, eis que “Cherub” chega a Portugal para uma primeira exibição no Queer Lisboa. Esperamos que não a sua única!

Quanto ao festival mais antigo de Lisboa, o Queer continua na capital, com sessões no Cinema São Jorge e Cinemateca Portuguesa até ao dia 27 de setembro. Cá estaremos para acompanhar a programação.

Conclusão

Neste “Cherub”, Benjamin Turnbull  habita com sucesso a pele do protagonista Harvey, e expressa algumas das emoções mais universais e humanas de uma forma atípica e empática.

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