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Queer Lisboa 2025 | My Sweet Child – Análise

Do holandês Maarten de Schutter, e na Competição de Documentários do Queer Lisboa 29, encontramos “My Sweet Child”, um bonito e sincero pedaço de memória em formato de filme.

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“My Sweet Child” ou no original “Mijn Lief Kind” é um documentário de 2025 que, um pouco aquém da marca dos 60 minutos, recupera a vida de Martine de Schutter, uma antropóloga e ativista de VIH/SIDA. O filme teve estreia mundial no Docudays – UA International Documentary Human Rights Film Festival, na Ucrânia, e chega agora à competição documental do Queer Lisboa.

Antes de mais, há que dizer que esta breve longa-metragem se eleva através do cunho muito pessoal da sua história e narração. Com este pequeno documentário, o realizador Maarten de Schutter tenta recuperar as memórias difusas que tem da sua mãe, 10 anos depois desta ter sido tragicamente assassinada durante um ataque russo a um avião que se deslocava para a International Aids Conference.

Documentário como memória no Queer Lisboa

My Sweet Child no Queer Lisboa 25
©The Netherlands Film Academy

Na base de “My Sweet Child” encontramos o laço familiar forte entre Martine e o seu filho Maarten, que procura ativamente (e consegue com sucesso) reconstituir as memórias da sua mãe. Fá-lo através da recuperação de clipes de vídeo amadores, com muitos registos VHS dos anos 90 e início da década de 2000. Fá-lo também recorrendo a objetos pessoais e, claro, a entrevistas cara a cara com algumas das pessoas que privavam mais de perto com esta mãe e filho.

Maarten filma-se também, ele próprio como um pedaço de resistência contra o esquecimento da sua mãe, uma super-mãe solteira extraordinária (a certa altura é dita, com orgulho, a frase “Mommies Can Be Daddies Too”).

O realizador deste filme nasceu em 1999, sendo que a sua mãe era uma funcionária da ONU e ativista dos direitos da SIDA desde o ano de 2001, tendo inclusive feito oposição direta ao regime de Putin através de publicações nas redes sociais.

Não se fala muito sobre a forma como o avião em que circulava foi abatido pela Rússia, numa altura em que sobrevoava a Ucrânia, zona de guerra ativa, no ano de 2014, mas antes da influência que Martine teve na luta contra a SIDA na Europa, como primeira coordenadora executiva do programa europeu. Contudo, uma publicação oficial do Aids Action Europe recorda-nos que os culpados pelo ataque não foram, uma década depois, trazidos à justiça.

Uma vida recuperada em My Sweet Child

 

Todavia, este documentário extremamente pessoal e triste não pretende colocar o foco na morte de Martine, mas antes na sua vida e na sua ligação muito especial ao filho. O jovem Maarten de Schutter exalta a memória entre a sua recuperação de objetos e entrevistas, exibindo o arquivo de vídeo de uma vida completa – inclusive com filmagens corrompidas da sua mãe prestes a embarcar no avião onde perderia a vida.

Assim, é impossível não torcermos por este “My Sweet Child” e pelas suas motivações, tão puras e bonitas. Não obstante, é difícil não constatar que este documentário não é lá grande conquista do ponto de vista técnico. É basicamente uma colagem de fotos e vídeos caseiros que não exige grande perícia e que não se destaca, de todo, no campo da edição. A certa altura, ouvimos duas vozes em off e limitamo-nos a olhar, prolongadamente, para um plano estático de um pôr do sol.

Simples, “Mijn Lief Kind” pode ser, sem malícia, descrito como um filme bastante simples. Um filme-missão, com um objectivo claro bem-sucedido – recuperar uma vida e um laço maternal mais forte que a passagem do tempo.

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Até ao próximo dia 27 de setembro acompanhamos o Queer Lisboa 2025, o mais antigo festival de cinema da capital. Fiquem por aí!

CONCLUSÃO

“My Sweet Child” é um filme muito simples, despojado de grande pretensão técnica, mas que vence pela capacidade de emocionar e de se tornar um pedaço de memória viva.

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