The Gilded Age ressuscita artista real conhecido por um dos retratos mais escandalosos da história
The Gilded Age volta a pintar a elite americana, mas quem é mesmo o pintor por detrás do retrato que marca o início da nova temporada?
Num tempo em que os gestos valem mais do que palavras, um quadro pode falar mais alto do que qualquer baile. The Gilded Age prova, mais uma vez, que por detrás dos colares de pérolas e dos salões reluzentes se escondem batalhas sociais. Além disso, jogos de poder são cuidadosamente coreografados. Mas é agora, com o arranque da terceira temporada, que uma pincelada subtil — ou talvez nem tanto — faz estremecer o verniz desta sociedade dourada.
John Singer Sargent entra em cena
No episódio de estreia da nova temporada em The Gilded Age, “Who Is in Charge Here?”, a jovem Gladys Russell, outrora prisioneira nas sombras do domínio da mãe, surge sob uma nova luz. Irônicamente, essa luz vem de um pintor real. O nome é John Singer Sargent, figura histórica do mundo da arte, aqui interpretado por Bobby Steggert. Bertha Russell contrata-o para pintar o retrato da filha. Esta decisão, como tudo o que Bertha faz, está longe de ser inocente.
Para os que não estão familiarizados com o nome, Sargent foi um dos retratistas mais requisitados da sua época. Ele é conhecido pelo seu estilo elegante. As controvérsias que algumas das suas obras provocaram, também são bem conhecidas. Nascido em Florença, filho de americanos, Sargent foi formado na tradição europeia e construiu uma carreira internacional.
No entanto, uma das suas obras mais célebres — Portrait of Madame X (1884) — causou verdadeiro alvoroço. A modelo, Virginie Amélie Avegno Gautreau, envergava um vestido preto de alças finas que, para os padrões da época, parecia quase indecente. Assim, a receção foi tão negativa que o pintor acabou por mudar-se para Inglaterra. Mas qual o seu propósito em The Gilded Age?
O poder simbólico de um retrato
Bem, é precisamente essa ousadia que atrai Bertha. O retrato de Gladys ainda em fase inicial no episodio já promete ser um marco. Porque representa a sua entrada na idade adulta. Além disso, serve os planos ambiciosos da mãe para posicioná-la entre as elites — mais precisamente, ao lado de Hector, Duque de Buckingham. A escolha de Sargent em The Gilded Age é uma declaração. Se o seu nome escandalizou, o seu traço poderá agora impressionar a velha guarda nova-iorquina.
Gladys, por sua vez, mostra sinais de querer controlar o seu próprio destino. Assim, já não é apenas uma peça no tabuleiro da mãe — a sua vontade de lutar pela própria escolha romântica indica isso. Contudo, é difícil escapar à maquinaria social montada por Bertha, e o retrato será inevitavelmente um símbolo desse conflito: entre o que se quer ser e o que se é moldado para parecer.
Neste jogo de aparências em The Gilded Age, há uma ironia deliciosa em escolher Sargent. Um artista cujo talento era por vezes ofuscado por escândalos. As suas obras provocavam reações violentas — exatamente como Bertha, que joga com as regras da sociedade apenas para melhor as contornar.
Mais do que um quadro
Este momento da série não é apenas uma curiosidade artística ou um nome lançado para agradar aos fãs de história da arte. É inegavelmente uma ponte entre mundos — o real e o ficcional, o passado e o presente. Também é uma afirmação do cuidado com que The Gilded Age costura os seus enredos.
Assim, tal como Sargent desafiava os cânones da sua época com elegância e ousadia, também The Gilded Age escreve personagens femininas que, mesmo dentro das restrições do seu tempo, encontram formas subtis de resistir, de manipular e de vencer.
E tu, se fosses pintado por John Singer Sargent, que versão tua ele retrataria? Partilha a tua opinião nos comentários.