As Rainhas do Drama, a Crítica | Um musical pop extravagante no IndieLisboa
“As Rainhas do Drama” é um musical francês melodramático com duas ícones pop no centro da ação. Estreou em Portugal no IndieLisboa 2025.
A secção Rizoma do IndieLisboa 2025, responsável por apresentar filmes que abordam temas da contemporaneidade, acolhe “As Rainhas do Drama”, a estreia em longa-metragem do realizador Alexis Langlois, um musical queer ambicioso. O filme é uma montanha russa emocional carregada de referências culturais ao mundo pop, mas também politicamente ambíguo e algo cansativo, em certos aspetos.
O ponto de partida é pertinente e familiar, por ser reminiscente de inúmeros “ensaios visuais” sobre cultura popular que vemos na Internet. Começamos num futuro próximo (o ano 2055) onde Steevyshady (Bilal Hassani), uma Youtuber, narra a história dos altos e baixos, ao longo de décadas, da relação romântica entre duas ícones pop fictícias na França. Falamos de Mimi Madamour, estrela da música dos anos 2000, e Billie Kohler, uma rebelde da música punk e uma figura controversa.
Alexis Langlois tenta apontar aqui para a forma como o culto da personalidade de celebridades na era digital molda a memória cultural dos nossos ícones, mas aquilo que verdadeiramente sustenta “As Rainhas do Drama” é mesmo a relação entre Mimi e Billie – um laço tóxico, mas também profundamente humano e cativante. Com flashbacks até 2005, Langlois constrói com as duas protagonistas uma química explosiva, feita de desejo, ciúme, admiração e fúria. É um romance condenado desde o início, mas que pulsa com intensidade emocional em cada cena.
O melodrama, no que toca à construção da relação entre Mimi e Billie, é longe de ser um defeito. Aqui, é uma linguagem estética que enaltece a experiência de assistir ao filme através do exagero sentimental. Louiza Aura (que interpreta Mimi) e Gio Ventura (que interpreta Billie), apesar de serem figuras até agora desconhecidas, são brilhantes e instantaneamente icónicas. Encarnam com carisma duas figuras que são fictícias, mas que, ao fim de contas, permanecem na consciência como se fossem cantoras reais. Entregam-se ao exagero com performances corajosas e potentes.
Melodrama e amor queer condenado no mundo da pop
Langlois demonstra assim não ter medo do excesso. Pelo contrário, parece venerá-lo. Visualmente, o filme é um turbilhão de cores néon e poses dramáticas, com outfits e coreografias a meio caminho entre o videoclip dos anos 2000 e um cabaret distópico. O filme recusa sobriedade e realismo, e, por momentos, essa abordagem funciona. Os números musicais e as trocas de afetos são memoráveis (as músicas que viajam entre o punk e o hyperpop são especialmente “catchy”!) e há faíscas de emoção genuína no meio do histerismo.
No entanto, nem tudo em “As Rainhas do Drama” sobrevive à prova da reflexão. O filme propõe-se muitas vezes a criticar a “stan culture” online, mas acaba por escorregar perigosamente para uma caricatura de um lado da cultura queer que se aproxima do cruel.
Uma personagem como Steevyshady, embora vibrante, é por vezes reduzida a estereótipos gritantes. A sátira, que deveria provocar pensamento, por vezes resvala também para o insensível. Há momentos em que parece que o realizador está apenas a rir-se desta cultura, o que deixa o espectador num lugar incerto: envolver-mo-nos no amor incandescente entre Mimi e Billie, ou levar tudo para o gozo com caricaturas simplistas?
Já foram ao IndieLisboa? Digam-nos o que têm achado da seleção deste ano do festival!