Esta série com 89% no Rotten Tomatoes quase destronou O Senhor dos Anéis
Senhor dos Anéis é mais do que uma saga, é uma fronteira mítica que poucos ousaram atravessar e menos ainda chegaram a ameaçar.
A televisão, durante décadas, limitou-se a tratar a fantasia como um parente distante e excêntrico da ficção “séria”. Dragões, elfos, espadas encantadas, tudo isso parecia demasiado infantil ou escapista para merecer o selo de prestígio como Senhor dos Anéis.
Até que um certo fenómeno televisivo, com intriga política, moralidade ambígua e personagens mortais como qualquer um de nós, decidiu provar o contrário. Não, não foi apenas uma série: foi uma experiência global que fez as audiências sentirem-se cúmplices e, por vezes, vítimas, do que viam no ecrã.
O único rival que desafiou Tolkien
Na sua fase áurea, Game of Thrones foi, sem sombra de dúvida, a série que mais perto esteve de destronar O Senhor dos Anéis como referência suprema da fantasia. Logo, com uns impressionantes 89% no Rotten Tomatoes, conseguiu transformar a televisão num palco onde o género deixou de ser visto como nicho e passou a ser assunto de conversa nos cafés, nos jantares de família e nas redes sociais.
O segredo estava na forma como lidava com o próprio género: em vez de se apoiar apenas em magia e feitos heroicos, mergulhava nas zonas cinzentas da moral humana. Não havia heróis intocáveis nem vilões unidimensionais. Assim, uma personagem podia libertar um povo num episódio e cometer atrocidades no seguinte. Ao contrário do mundo moralmente definido do Senhor dos Anéis de Tolkien, Westeros vivia do imprevisto e da fragilidade humana.
Este foco na política, na sobrevivência e na complexidade emocional fez com que a fantasia deixasse de ser apenas escapismo e passasse a ser também um espelho das tensões do mundo real. Assim, Game of Thrones provou que não era preciso um anel para governar todos, bastava uma boa história para prender milhões.
Senhor dos Anéis não caiu
O problema começou quando a série ultrapassou o material escrito por George R.R. Martin. A cadência que caracterizava as primeiras temporadas, lenta, calculada, quase cruel na espera pelo clímax, deu lugar a uma pressa evidente. Logo, arcos narrativos que antes se desenvolviam ao longo de anos passaram a ser comprimidos em episódios.
A descida de Daenerys Targaryen para a tirania é talvez o exemplo mais citado: sim, as sementes estavam lá desde cedo, mas a transição pareceu mais uma ordem de guião do que uma consequência inevitável. E o mesmo se pode dizer da coroação de Bran Stark, que soou mais a conveniência narrativa do que a desfecho orgânico.
Ao contrário do final de O Senhor dos Anéis, que encerra com a melancolia e a paz merecida de um mundo salvo, Game of Thrones terminou com instituições partidas e feridas abertas. Foi um final de era… mas sem a sensação de eternidade que só Tolkien parecia dominar.
Um legado que ainda ecoa
Mesmo com um final que deixou muitos espectadores divididos, Game of Thrones mudou para sempre o panorama da fantasia televisiva. Portanto, graças ao seu sucesso, séries como The Witcher, The Wheel of Time e, o spin-off do Senhor dos Anéis, The Rings of Power não só se tornaram possíveis como receberam investimentos colossais, elencos de peso e campanhas publicitárias à altura de um blockbuster de cinema.
Mas, mais importante ainda, provou que a fantasia podia estar lado a lado com dramas de referência como The Sopranos ou Breaking Bad. Assim, a televisão deixou de ver dragões como um risco e passou a vê-los como ouro em bilheteira.
Qual dos dois mundos escolheria visitar, se só pudesse entrar numa dessas histórias uma vez na vida? Deixa a tua opinião nos comentários.