T2 Trainspotting, em análise
Escolhe a vida.
Escolhe os anos 90.
Escolhe a irreverente injeção de adrenalina na coroa de Sua Majestade.
Escolhe a Escócia como o microcosmo do desespero e da autodestruição.
Escolhe uma banda sonora eclética que sorve Joy Division, Iggy Pop, Underworld, Bowie e Reed com igual afeto e reverência na mais doentia efervescência.
Escolhe a heroína em ingestão e a polémica em objeção, os posters nos quartos dos miúdos, as tatuagens nos braços dos graúdos.
Escolhe a profanidade do impiedoso e a eloquência da exuberância.
Escolhe as gargalhadas nas situações indescritíveis e circunstâncias impensáveis sem esquecer as traições imperdoáveis.
Escolhe as contradições, o choque, o horror, o enjoo desnorteado na casa de banho e o último shot que parece sempre o primeiro.
Escolhe a atitude, o estilo e a urgência de uma sensação da cultura pop, da pérola contemporânea de uma juventude perdida e uma sociedade desencontrada.
E depois… respira fundo. És um viciado, por isso vicia-te. Mas vicia-te noutra coisa.
Escolhe a sequela.
Escolhe um follow-up introspetivo e um epílogo monetizado.
Escolhe o terror da desilusão e o entusiasmo da reconciliação.
Escolhe a tristeza do que não muda e a alegria do que se mantém.
Escolhe o serviço aos fãs que nem sempre dá conta do recado mas nunca destrói o legado.
Escolhe o enredo incidental para o reencontro sentimental.
Escolhe a energia, menos explosiva, mais madura, de quem navega por um futuro macambúzio onde não escapa ao confronto com o passado inebriado.
Escolhe a cobiça insaciável um like, um tag, um share, pela pornografia tecnológica e pela tecnologia pornográfica.
Escolhe os lugares comuns e familiares, a relatabilidade da fraqueza de Renton, a imprevisibilidade violenta de Begbie escarrapachada na sua tóxica masculinidade, o apego inabalável de Spud à heroína e à tragédia do tempo que corre vais veloz do que as pernas, as entradas oxigenadas de Sick Boy nos esquemas dementes de uma geração perdida.
Escolhe o engenho de Danny Boyle, serpenteando freneticamente pelo hilariante e o grotesco sem quebrar o ritmo, ou a memória, ou o coração, ou a alma.
Escolhe a nostalgia que permeia a lembrança sem cópias baratas sem pés e cabeça.
Escolhe a euforia de um velho amigo e a melancolia de um sofrimento antigo.
Escolhe a passagem do tempo, os seus efeitos e trejeitos, os seus resultados melancólicos e os desfechos diabólicos.
Escolhe a sequela sem culpas, mas o original sem desculpas.
Escolhe o teu futuro.
Escolhe a vida.
Título Original: T2 Trainspotting
Realizador: Danny Boyle
Elenco: Ewan McGregor, Ewen Bremner, Jonny Lee Miller, Robert Carlyle
NOS | Drama | 2016 | 117 min
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