The Colors Within, em análise | O anime de Naoko Yamana na MONSTRA 2025
“The Colors Within” ou “As Cores Interiores” é a mais recente obra da autoria de Naoko Yamada (“A Silent Voice”) e uma vez mais é uma longa-metragem que se centra em afetividades. Abraçamo-la como destaque na Competição de Longas Metragens desta vigésima quinta edição da MONSTRA – Festival de Animação de Lisboa.
“The Colors Within”, primeiro filme a integrar a competição de longas-metragens da MONSTRA em 2025, reforça a certeza que é a cineasta japonesa Naoko Yamada. A autora é mais conhecida por “A Silent Voice: The Movie”, obra que assinou em 2016 e que se tem vindo a afirmar como uma das mais bem-amadas obras do anime dos últimos anos.
The Colors Within: Uma obra com legado no Japão
“As Cores Interiores” foi escrita pela argumentista Reiko Yoshida, conhecida por assinar um dos clássicos do Estúdio Ghibli – “The Cat Returns” de Hiroyuki Morita (2002). E o que é que “The Cat Returns”, “A Silent Voice” e “The Colors Within” têm em comum? Uma fortíssima ênfase no desenvolvimento das personagens, as quais carregam os 101 minutos de filme com profunda e inesquecível força.
“As Cores Interiores” estabelece-se como uma metáfora sobre ser diferente e ver o mundo com “cores distintas”. O seu jogo de comparações é bastante claro: a protagonista deste “coming of age tale”, Totsuko Higurashi, é uma jovem insegura, educada e profundamente empática que consegue ver os outros como cores. Totsuko associa uma cor a cada pessoa, conseguindo perceber os seus sentimentos e no fundo interpretar a sua “aura”. Se lermos para lá do óbvio, conseguimos perceber que Totsuko é uma jovem que escapa ao neurotípico e, que para além de ser neurodivergente, é também uma personagem com uma sexualidade com muito que se lhe diga.
Embora nunca nos seja dito, conseguimos ler a sua persona como uma queer e neuro divergente, como alguém que escapa da norma e que sabe, com respeito, estudar o comportamento alheio e a essência daqueles que a rodeiam.
Uma paixão pela música e uma tríade especial
O ponto de partida para o seu elo de ligação com os novos amigos é uma paixão partilhada pela música. É a vontade de formar uma banda que a vai aproximar de duas pessoas em tudo diferentes dela, mas com quem acaba por ter tantos pontos de contacto. Por um lado temos Kimi, uma aluna do quadro de honra que desiste da escola mas que continua a fingir ir às aulas para não desiludir a avó. Onde Totsuko é pia e solicita, Kimi tem uma crise de fé gigante que se manifesta em actos rebeldes. O que é que a motiva? Uma paixão pela guitarra, que fará com que se una a Totsuko para criar música.
Quem também se junta a estas duas alunas de um colégio religioso feminino, de forma ainda mais inesperada, é Rui Kagehira. O jovem rapaz é filho da médica local da ilha, e é o seu destino irredutível tornar-se médico, seguindo os passos da família e herdando a prática familiar. Mas a grande paixão de Rui é compor música, e depois de ouvir Kimi tocar, o jovem tem a coragem de se aproximar da rapariga e inclusive propor um espaço perfeito onde o grupo começará a treinar.
O grande apogeu do filme é ouvir a banda tocar. Conseguimos, maravilhosamente, sentir a paixão que o trio canaliza através da sua arte. A alegria sentida aquando de cada momento de interpretação musical é inegável e o enredo propriamente dito não é o ponto mais relevante. Na realidade, “As Cores Interiores” expressa-se precisamente na efetividade de cada personagem e no superar das adversidades que se colocam pelo caminho.
“The Colors Within” é apenas um dos filmes em competição na MONSTRA 2025, mas é sem dúvida uma das mais badaladas obras, assente na representação de uma espiritualidade interior irredutível. Aqui, há uma musicalidade própria e inerente a cada protagonista que não pode ser esquecida.
The Colors Within, em análise
Movie title: The Colors Within
Movie description: Totsuko consegue ver os outros como cores. Kimi, uma aluna do quadro de honra, desistiu da escola mas finge que continua a ir às aulas para não dar um desgosto à sua avó. Totsuko e Kimi voltam a juntar-se e decidem formar uma banda com Rui, que sonha compor música em sintetizadores analógicos, enquanto a sua mãe espera que ele venha a ser médico. Juntos, encontram liberdade, alegria e amor.
Date published: 25 de March de 2025
Country: Japão
Duration: 101 min
Author: Reiko Yoshida
Director(s): Naoko Yamada
Actor(s): Sayu Suzukawa, Akari Takaishi, Taisei Kido
Genre: Coming of Age, Music, Animation
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Maggie Silva - 80
Conclusão
“The Colors Within” é uma metáfora efusiva e bem ritmada – da sua musicalidade ao seu grande coração, tudo neste filme nos permite conhecer de forma plena os seus três protagonistas e as suas motivações. Para lá das obrigações familiares, os desejos individuais e esperanças ganham aqui o maior destaque. Kimi, Rui e Totsuko musicam as suas vontades – alto e bom som!