Três Cores: Branco, Mini-Crítica

 

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Num tom mais leve que os restantes filmes da trilogia de Krysztof Kieslowski, Três Cores: Branco é uma perversa comédia negra, onde a ideia de igualdade é subvertida até aos seus limites numa história de complicadas reviravoltas.

 

Três Cores: Branco Título Original: Trois couleurs: Blanc
Realizador: Krzysztof Kieslowski
Elenco: Zbigniew Zamachowski, Julie Delpy, Janusz Gajos
Género: Drama
Leopardo Filmes | 1994 | 91 min [starreviewmulti id=18 tpl=20 style=’oxygen_gif’ average_stars=’oxygen_gif’]

 

O penúltimo filme de Krzysztof Kieslowski é ostentosamente uma reflexão sobre o tema da igualdade, normalmente associado à cor branca na bandeira tricolor de França. Tal como nos restantes filmes da trilogia sobre os valores da Revolução Francesa de Kieslowski, a igualdade de Três Cores: Branco é apresentada de modo imensamente pervertido. Karol Karol (Zbigniew Zamachowski), um imigrante polaco em França, é deixado pela sua mulher francesa, Dominique (Julie Delpy). Depois de ser processado por Dominique, com quem o seu casamento nunca foi consumado, o polaco acaba num estado de completa destituição, a viver como sem-abrigo no metro parisiense. Através de uma série de reviravoltas, Karol acaba por voltar à Polónia, onde o neocapitalismo selvático parece ter substituído a miséria soviética, e aí o protagonista encontra um módico de poder e desenvolve um elaborado plano de vingança contra a mulher que o amou e destruiu.

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Kieslowski concebeu Branco como uma comédia, mas fizeram-no do modo mais estranho imaginável. Ao conceberem uma trama de perfeito extremo miserabilismo social, os autores encontram o ridículo na negrura das situações em que Karol se encontra, mas nunca a tratam com a ironia que seria de esperar de um esforço cómico. Seria mesmo correto afirmar que Três Cores: Branco é uma comédia onde todos os envolvidos parecem ativamente trabalhar no sentido de eliminar ou encobrir o seu humor, não fosse a força motriz da história de Karol a infeliz realidade de uma relação amorosa falhada.

Três Cores: Branco

Para Karol, Dominique é como Daisy Buchanan para Gatsby, uma imagem desejada e distante tão formidável como inalcançável. Branco é completamente dependente da perspetiva do seu protagonista, pelo que Dominique é para a audiência o mesmo que é para Karol, deixando a personagem feminina numa posição de frustrante mas deliberada indefinição. Ele não consegue compreender a humanidade de Dominique, apenas a vendo como a luminosa imagem de uma noiva de estonteante beleza que vai aparecendo pelo filme. O final do filme, apesar de perverso no seu jogo de poder, contém em si uma insinuação de esperança, onde a igualdade de entendimento entre o casal parece ser uma possibilidade no seu futuro, por muito negro que este seja.

Três Cores: Branco é injustamente tido como o pior dos três filmes que compõe a Trilogia das Três Cores, mas, fazer tal juízo de valor, é semelhante a se escolher uma das partes do Requiem de Mozart e apontá-la como a menos magnífica. É verdade que Branco é o mais leve, cómico, intrinsecamente polaco e estilisticamente realista dos filmes da derradeira trilogia de Kieslowski, mas isso não impede esta formidável comédia negra de ser uma das mais formidáveis comédias negras do cinema europeu.

Três Cores: Branco

 

O PIOR – Dos três derradeiros filmes do autor polaco, Branco é o que menos impressiona a um nível formal, uma consequência tanto da sua cor titular como do seu tom mais leve e cómico.

O MELHOR – A surpreendente leveza e comédia do segundo capítulo da Trilogia das Três Cores é um testamento ao absoluto talento de Kieslowski e à sua mestria sobre a exploração da existência humana no cinema. Na obra do autor polaco, a tragédia está longe de ser a única maneira de retratar as complexidades das suas personagens humanas.

 

CA

 

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