Três Cores: Azul, Mini-Crítica

 

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Três Cores: Azul é um magistral hino à unificação europeia, onde Krzysztof Kieslowski cria uma das mais poderosas obras do cinema do século passado, concebendo um poderoso retrato simbólico através de uma avassaladora tragédia humana.

 

Três Cores: Azul Título Original: Trois couleurs: Bleu
Realizador: Krzysztof Kieslowski
Elenco: Juliette Binoche, Benoît Régent, Florence Perne
Género: Drama
Leopardo Filmes | 1993 | 98 min [starreviewmulti id=18 tpl=20 style=’oxygen_gif’ average_stars=’oxygen_gif’]

 

Ao seguir a esquemática apreciação crítica que se tem desenvolvido em volta das obras tardias de Krzysztof Kieslowski, Três Cores: Azul é um filme que se desenvolve em torno do ideal revolucionário da liberdade. Longe de simplesmente extrapolar e refletir sobre essa ideia central, o autor polaco criou aquele que é, possivelmente, o mais formidável retrato sobre a Europa no período esperançoso que se seguiu à queda da União Soviética, simultaneamente concebendo um poderoso retrato humano da sua complexa figura central.

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A protagonista do filme, interpretada por Juliette Binoche no mais formidável trabalho da sua ilustre carreira, é Julie de Courcy, uma mulher cujo marido e filha morrem logo na primeira sequência do filme num trágico acidente rodoviário. Face à sua catastrófica perda, Julie entra num processo de quási-autoaniquilação. Ela deixa a casa, o nome, as pessoas do seu passado e tenta isolar-se por completo, vivendo num estado de gélida apatia. Num filme, muitas vezes descrito como uma anti-tragédia, a ideia de liberdade é, inicialmente, oferecida num estado de horrenda perversão. Julie torna-se livre da sua própria existência quando confrontada com a perda, mas essa liberdade subvertida acaba por a tornar prisioneira da sua miséria, e, no final, ao renascer para a vida, ao ultrapassar a sua tragédia, Julie alcança a sua suprema liberdade.

Três Cores: Azul

Como estudo da complexa psicologia de Julie, Três Cores: Azul é uma obra de preciosíssimo poder e humanidade, mas o filme, como acontece nas quatro últimas obras de Kieslowski, usa a sua narrativa humana como modo de retratar a Europa contemporânea. O grande desenlace do enredo concentra-se na finalização de um hino de celebração à unificação da europeia, perfeitamente dramatizando a simbiótica relação entre um continente em renascimento político e humano com a sofredora tragédia da protagonista.

A acompanhar um formidável texto, perfeitas interpretações e uma imensa complexidade metafórica vem a brilhante concretização formal de Três Cores: Azul. A cor titular tem lugar de destaque na mise-en-scène de Kieslowski, dominando a magnífica fotografia e servindo como manifestação visual da complicada mente da sua protagonista. De um modo geral, dir-se-ia mesmo que no seu antepenúltimo filme, Kieslowski chegou a algo semelhante à pura perfeição cinematográfica, tecendo uma tapeçaria de impressionantes sensações, onde, como seria de esperar, a música de Preisner é de uma imensa importância, elevando o que já era um filme espetacular ao panteão das melhores criações na história do cinema europeu.

Três Cores: Azul

 

O PIOR – Nos píncaros da perfeição cinematográfica não há lugar para algo ser classificado como “pior”.

O MELHOR – A abertura do filme, que retrata o fatídico acidente de carro que despoleta o restante enredo, é uma sequência de puro cinema, rarefeito até chegar a uma plenitude de sublimes imagens, sons e sensações de um poder difícil de compreender, e ainda mais difícil de descrever.

 

CA

 

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