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TVCine FEST | Entrevista a Marc Munden, realizador de Help

A MHD esteve à conversa com Marc Munden, aclamado cineasta britânico, responsável por Help que chega ao TVCine FEST.

Festival único no panorama nacional exigia uma conversa igualmente especial. A Magazine.HD em coordenação com os Canais TVCine, falou com Marc Munden, um aclamado realizador britânico, responsável por “Help”, que chega agora às salas de cinema portuguesas durante a 1ª edição do TVCine FEST. O cineasta esteve esta manhã sentado à conversa connosco para abordar um dos filmes mais aclamados da sua carreira e para nos dar a conhecer todo o processo criativo de uma obra rodada durante o confinamento de abril de 2021.

Trata-se, na verdade, de um drama filmado em contexto de pandemia, na qual a COVID-19 tem um papel central. Em “Help” vamos conhecer Sarah (Jodie Comer), uma mulher muito inteligente, que sempre teve dificuldades em encontrar o seu caminho. Inesperadamente, encontra a sua vocação como cuidadora no lar Bright Sky Homes. Sarah tem um talento especial para chegar aos residentes, incluindo um em particular, Tony, de 47 anos (Stephen Graham). O Alzheimer precoce de Tony deixou-o votado ao lar, à medida que a sua mente se deteriora lentamente. A sua doença causa períodos de confusão e explosões violentas com as quais os outros membros do pessoal não conseguem lidar, mas com Sarah ele começa a construir uma verdadeira ligação. O sucesso de Sarah na gestão de Tony e dos outros pacientes ajuda a restaurar a sua autoconfiança. Mas, em Março de 2020, os sucessos de Sarah são postos em causa a com a chegada da pandemia. A partir daí, ela e os seus colegas mal equipados, mal preparados e sem apoios de ninguém lutam por resolver a situação e o isolamento particularmente traumático que acabaram por vivenciar.

Trailer de Help, de Marc Munden

Help” venceu dois BAFTA TV Awards em 2022 nas categorias de Melhor Atriz Principal – Jodie Comer (Killing Eve) – e Melhor Atriz Secundária – Cathy Tyson. Aclamado pela crítica, “Help” vai surpreender os espectadores portugueses e esta nossa conversa com Marc Munden vai certamente abrir-te o apetite de ver este filme no grande ecrã.

Help tem estreia exclusiva no próximo domingo às 13h no âmbito do TVCine FEST. Vai estrear em 9 salas do cinema do país Colombo (Lisboa), Mar Shopping (Matosinhos) Nosso Shopping (Vila Real), Glicínias Plaza (Aveiro), Palácio do Gelo (Viseu), Fórum Coimbra, Almada Forum, Mar Shopping (Algarve) e Forum Madeira (Funchal). Os bilhetes podem ser adquiridos online, no site dos Cinemas NOS, na App ou diretamente numa das bilheteiras.

MHD: Será que me poderia falar um pouco sobre Help e como foi realizar este filme?

Marc Munden: Tudo começou com o Jack Thorne, o nosso argumentista. Decidiu que chegara a hora de escrever uma carta de amor para as pessoas que trabalham em lares. Ele teve um contacto muito próximo desde miúdo com esses ambientes, onde permanecia depois das aulas ou passava o Natal. Ele mais do que ninguém sabe estar com os idosos e residentes de lares.

Eu também tive uma experiência muito semelhante, através da minha mãe, que ficou 10 anos num lar. Esteve lá até ao fim dos seus dias, porque padecia de Alzheimer. Foi nessa altura que eu percebi o quão especial as pessoas que trabalhavam em lares eram. Tinham paciência, amor, persistência para com os residentes e, como profissionais de saúde acabam por receber pouca atenção. Eu até acho que  são muito desvalorizados. Quando o Jack partilhou comigo a ideia eu sabia o que queria. Queria descrever esse mundo de alguma forma. Depois veio a pandemia e isso mudou tudo, porque ele passou a escrever sobre a COVID-19 e como os profissionais de saúde e residentes estavam a ser mal tratados.

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Marc Munden
Marc Munden © NOS Audiovisuais

MHD: Sentiu que estava a realizar Help com alguma pressão por causa da pandemia, ou teve tempo para se preparar e para olhar para a pandemia como alguém que a vê fora da cápsula?

Marc Munden: O filme decorre no primeiro confinamento, em março de 2020, mas foi filmado durante o segundo confinamento, que foi em março de 2021. Ou seja, um ano depois. Ficou muito claro nas nossas cabeças o que tinha acontecido um ano antes com a falta de equipamentos de proteção, a forma como os pacientes dos hospitais não eram testados. Houve uma contínua um falta de preparação geral: das pessoas e também do governo – todos os países passaram por isto.

Sendo uma narrativa com um tempo tão próximo, havia uma certa clareza do que precisava de ser feito. Fizemos muitas pesquisas com profissionais de lares e também residentes. Sentimos que os profissionais de saúde ainda estavam a sofrer pela perda dos seus residentes. Estavam numa espécie de estado de choque. Sentiam-se, de alguma maneira, responsáveis ​​pelo que tinha acontecido.

Eu nunca tinha experimentado tanta morte rápida, e isso levou ao trauma. Tudo isto vai levar algum tempo a curar, porque em algumas pessoas os efeitos da pandemia irão continuar a manifestar-se. Alguns dos efeitos psicológicos provocados pelo confinamento ainda não despertaram em algumas pessoas.

Help
Sarah (Jodie Comer) © The Forge & All3Media International

MHD: E durante a sua pesquisa para Help percebeu alguma história em particular que gostaria de partilhar connosco?

Marc Munden: Muitas das histórias que vemos no filme foram histórias reais. O argumento chegou a ir ao detalhe. Percebemos os erros dos serviços de emergência e como a equipa não estava preparada para a situação. Todos os profissionais de saúde ficaram chocados com isto.

MHD: Como se sente agora em relação ao sistema nacional de saúde no Reino Unido após a pandemia?

Marc Munden: O nosso serviço de saúde ficou carente de financiamento nos últimos 10 anos. Decidiram construir novos hospitais, o que acabou por ser uma situação falhada porque não havia pessoal suficiente para esses hospitais. É claro que o serviço nacional de saúde ficou sobrecarregado, mas as estruturas residenciais foram ignoradas. Este setor está um pouco dependente de dinheiro de um grupo de pessoas. Por exemplo aqui no Reino Unido as casas de repouso são geridas por famílias, com pouco mais de 40 moradores. Acabou por correr tudo mal porque não havia fundos, não haviam equipamentos. “Help” já passou em alguns festivais internacionais e algumas pessoas vêem ter comigo e dizem que também é assim no seu país. Acho que este é um tipo de experiência muito comum e partilhada por tantas.

MHD: Uma das sequências mais intensas acontece entre Sarah, o Tony e o Kenny. Como foi rodar essa sequência? Os atores tiveram tempo para ensaiar?

Marc Munden: Sim, eu sempre faço ensaios. Passámos semanas a ensaiar e também queríamos trazer as histórias dos cuidadores de lares para o local dos nossos ensaios. A Jodi Comer passou algum tempo com cuidadores, a tentar aprender tudo que passaram. O Stephen Graham passou algum tempo com pessoas jovens com Alzheimer na University College London. O Stephen e a Jodi já se conheciam desde há alguns anos e acabaram por trazer características pessoais para as personagens. Muito desse trabalho fez-se durante os processos de ensaio. A sequência de que fala foi realmente interessante e foi feita durante a noite. Tivemos um longo trabalho com a parte técnica, pelos movimentos da câmera e iluminação.

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Marc Munden
Stephen Graham e Jodie Comer em “Help” © The Forge & All3Media International

MHD: Conte-nos algo mais sobre a dinâmica entre Jodi Comer e Stephen?

Marc Munden: O Stephen orientou a Jodi quando ela era muito jovem. Então eles realmente iniciaram o projeto de alguma forma antes de ainda estar no papel, porque ambos disseram ao Jack Thorne para escrever algo para eles. Quando o Jack escreveu o argumento, e eles estavam sempre a bordo. São quase como irmão e irmã. Isso nota-se nas performances e pelo facto de ambos serem de Liverpool.

MHD: O Marc acredita que o cinema e a televisão esqueceram as abordagens mais realistas para histórias sobre o setor da saúde?

Marc Munden: Não vemos muito sobre os cuidadores de lares ou cuidadores informais nas histórias contadas na televisão ou no cinema. Acho que isso já deve ter surpreendido a audiência. Era importante dar um olhar realista, mas que permitisse ao filme ser uma história de amor. Uma história de terror envolta numa história de amor. Eu queria que fosse intenso, que fosse uma experiência cinematográfica profunda. Adoraria ter os irmãos Dardenne a falar sobre o sistema de saúde e como funcionam os lares ou ver o meu colega Ken Loach, que já lidou com isso no passado, e que talvez esteja a pensar fazer algo do género. Estas histórias precisam de ser contadas só que não são suficientemente sexy para a televisão ou cinema.

Marc Munden
Tony (Stephen Graham) em Help © The Forge & All3Media International

MHD: E como se sente agora ao saber que Help vai estrear no grande ecrã aqui em Portugal?

Estou realmente empolgado pela estreia de “Help” no grande ecrã. O meu filme foi rodado para o grande ecrã e é uma honra estreá-lo no lugar que merece, onde terá algum foco. Acho que a ida dos portugueses ao cinema vai funcionar muito como ir ver um filme de terror. Quero que as pessoas estejam conscientes, mas também entrem por aquele mundo adentro, de uma realidade que lhe é dificilmente percebida. Quero que “Help” seja aquele filme que as pessoas vêm numa sexta-feira 13 ou quando estão em casas sozinhas porque vão perceber o quão exigente foi a experiência para profissionais de saúde. Tenho a certeza que experenciaram algum tipo de horror durante a pandemia e eu quis ser absolutamente autêntico em relação à experiência deles. Acho que este filme pode encontrar um lugar dentro desse universo ao ser dedicado às pessoas que trabalham em lares.

MHD: Qual será o seu próximo projeto?

Estou a trabalhar num projeto sobre o estado da nação com Jack Thorne, o mesmo escritor de “Help”, e que será uma série de seis partes sobre a Grã-Bretanha no século XXI. O objetivo é cobrirmos todos os tipos de áreas, naquela que será uma narrativa ao estilo de Charles Dickens, mas para os nossos dias. Teremos uma história multifacetada, onde lidamos com questões políticas e também sociais.

MHD: Boa sorte para o seu projeto futuro. Damos-lhe os parabéns pelo sucesso de “Help”.

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