Vida Inteligente, em análise
Apesar de (ocasionalmente) entusiasmante e com boas performances, Vida Inteligente não consegue romper convenções no género e criar um novo clássico inolvidável.
Vida Inteligente apresenta-nos a história dos seis membros da tripulação da Estação Espacial Internacional no momento em que a mesma se depara com uma das mais importantes descobertas na história da humanidade: a primeira prova da existência de vida extraterrestre em Marte. O problema é que à medida que a tripulação inicia a pesquisa, os seus métodos acabam por ter consequências indesejadas (e deveras mortíferas) e a forma de vida mostra ser mais inteligente do que alguma vez esperaram…
Se és um apreciador ou entusiasta do género de ficção científica, esta história parece-te, certamente, bastante familiar: de facto, ninguém nega a tremenda inspiração que teve no clássico de culto Alien: o Oitavo Passageiro de Ridley Scott – mas a verdade é que Vida Inteligente é por sua conta, medida e mérito um entusiasmante e claustrofóbico thriller de ficção científica que vem explorar a veia semi-realista de outros filmes do passado recente como Gravidade e Perdido em Marte.
Mas esta semelhança com tantos outros filmes do género tem um preço. O facto de ser difícil distingui-lo, na linha do tempo, com um punhado de outras entradas no género é uma desvantagem no longo prazo. O filme de Daniel Espinosa usa e abusa das referências, inspirações estéticas e temáticas ao ponto de questionarmos se certas sequências não são cópias a carbono de cenas que já vimos algum dia, num outro lugar.
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É certo que Alien lançou um subgénero e, por isso também, um rol de “imitadores” que parece até hoje não ter fim. E se Vida Inteligente sabe perfeitamente que é seu descendente direto, consegue, pelo menos, colocar a seu favor uma abordagem menos tradicional para o enquadramento dos blockbusters neste século XXI.
De alguma forma, o filme de Espinosa evita alguns lugares-comuns das narrativas mais convencionais do género – não há imagens assombrosas do espaço porque estamos permanentemente confinados à claustrofobia do ambiente da nave, que já por si não é tão glamourosa como outras que vimos recentemente no cinema. Assumidamente pessimista, narrativa e esteticamente, Vida Inteligente reforma a usual história espacial ancorada no tema da esperança para a metamorfizar numa reflexão aterrorizadora infetada de terror sobre a inevitabilidade da destruição, da imparcial crueldade do universo e da fragilidade da condição humana.
Gyllenhaal e Ferguson são competentes no limite do que as suas personagens lhes permitem ser (e, verdade seja dita, não permitem grande coisa já que são geralmente bastante unidimensionais) e Ryan Reynolds é entretenimento garantido por tempo limitado a interpretar uma nova derivação de… Ryan Reynolds. Talvez um dos maiores desserviços de Vida Inteligente seja justamente não aproveitar condignamente ou de forma mais inteligente um trio de protagonistas tão talentoso.
A fotografia polida de Seamus McGarvey interliga-se na perfeição com os fantásticos e económicos efeitos visuais da britânica Double Negative que criam um “vilão” que, mesmo sem uma personalidade de traços memoráveis, é incrivelmente eficiente no seu propósito de semeador de destruição por motivos de instinto de sobrevivência.
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O thriller polido de Daniel Espinosa pisca o olho a algumas das mais primitivas ansiedades humanas, remisturando alguns elementos familiares num slow-burner tão inquietante como estranhamente sóbrio.
Sem ser particularmente memorável ou especialmente daninho ou ruinoso para o cânone do género, Vida Inteligente surge como a aula de biologia mais aterrorizadora do ano e, nestas circunstâncias, é mesmo caso para dizer que… no Espaço antes só, do que pessimamente acompanhado.
O MELHOR: Efeitos visuais económicos mas incrivelmente eficientes. Um refrescante pessimismo que permeia a história.
O PIOR: O subdesenvolvimento dos personagens e a derivação excessiva que se sente na narrativa.
Título Original: Life
Realizador: Daniel Espinosa
Elenco: Rebecca Ferguson, Jake Gyllenhaal, Ryan Reynolds
Big Picture Films | Terror, Ficção Científica | 2017 | 103 min
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CO
Sou uma fiel seguidora de Daniel Espinosa. Apesar de não ser um diretor tão reconhecido na indústria do cine, ele é um dos poucos que conseguem boas obras cinematográficas de drama graças ao seu grande profissionalismo. Deve ser por ele que grandes atores como Elle Fanning querem participar nos seus filmes. Vida é o mais recente dos seus trabalhos, um filme que é uma referência do gênero. Seus efeitos especiais estão incríveis, trilha sonora e atuações geram um resultado que consegue captar aos espectadores. Uma dos melhores filmes da sua filmografia, a mescla entre o roteiro e o elenco dá um bom resultado!!