What’s with Baum? | O primeiro romance de Woody Allen é sobre um neurótico em Nova Iorque
Preparem-se: Woody Allen, aos 89 anos, decidiu estrear-se como romancista: “What’s with Baum?” chega às livrarias a 23 de setembro (em eBook) e dois dias depois em edição hardcover, pela editora independente Swift Press. E, surpresa das surpresas, o protagonista é… um jornalista judeu de meia-idade, agora romancista, a viver um colapso existencial em Nova Iorque. Original, não é?
O alter ego de Allen com nome de Asher Baum
Em “What’s with Baum?”, o protagonista Asher Baum é um homem em crise: o terceiro casamento está a desmoronar-se, os seus romances filosóficos não passam da crítica morna, a editora de prestígio despediu-o sem cerimónias e, para piorar, ele suspeita que o irmão, bem mais bonito e bem-sucedido, lhe anda a seduzir a mulher, que, claro, é formada em Harvard (a narrativa Allen-style exige sempre uma Ivy League pelo meio).
Como se isso não bastasse, Baum tem a brilhante ideia de tentar beijar uma jovem jornalista durante uma entrevista. Resultado: ansiedade em triplo, paranóia em quintuplicado, e muito monólogo neurótico no meio das ruas de Manhattan.
Tudo o que esperaríamos de Woody Allen e mais
A editora Swift Press descreve “What’s with Baum?” como “um retrato de um intelectual paralisado por preocupações neuróticas sobre a futilidade e o vazio da vida”. Ou seja, o material clássico de Allen, agora em forma de romance.
Não é difícil imaginar que, por detrás do Asher Baum ficcional, se esconda o próprio realizador — aquele que nos deu filmes como “Annie Hall”, “Manhattan” ou “Maridos e Mulheres”, sempre entre o drama romântico e a auto-análise cómica. A capa de “What’s with Baum?”, já revelada, é uma piscadela de olho a ‘O Grito’, de Edvard Munch, símbolo máximo da angústia existencial. Pormenor que assenta na perfeição: ninguém pinta (ou escreve) a neurose nova-iorquina como Woody Allen.
Woody Allen, o escritor que sempre lá esteve
Se o cinema é a sua assinatura, a escrita não lhe é estranha. Allen já publicou contos, ensaios e a autobiografia “A Propósito de Nada” (Edições 70, 2020), polémica desde o lançamento, depois de a editora Hachette ter cancelado a publicação original nos EUA.
Como sempre, Allen continuou imperturbável, transformando a vida real — e as suas cicatrizes públicas — em matéria-prima para a arte. Com “What’s with Baum?”, é impossível não ver paralelos com a sua própria biografia: a relação com a crítica, a luta com a fama, os conflitos familiares e os casamentos em série. A diferença? Aqui tudo é filtrado por um humor agridoce, cheio de personagens demasiado inteligentes para serem felizes.
Vale a pena esperar?
Segundo Mark Richards, editor da Swift Press, que edita “What’s with Baum?”, ‘Woody Allen pode ter esperado quase 90 anos até escrever um romance, mas valeu a pena. É divertido, inteligente, cativante e maravilhosamente humano. Se este livro não chegar às livrarias portuguesas até ao final do ano, é provável que os fãs corram para a Amazon.
Lá, já se pode pré-encomendar esta novela de 192 páginas, pronta para mergulhar o leitor numa Nova Iorque onde todos falam demais, amam de menos e se preocupam com tudo.
JVM