69º Festival de Cannes (Dia 6) | Noite Americana

Dois americanos em disputa nesta competição: Jim Jamurch com Paterson a história de um motorista de autocarro que também é poeta e Jeff Nichols com Loving, uma história de amor interracial, baseada em factos reais.

Paterson

Paterson de Jim Jarmuch (EUA) com Adam Driver, Golshifteh Farahani (competição)

A história: Paterson (Adam Driver) é motorista de autocarros na localidade de Paterson (Nova Jersey), a cidade que viu nascer Lou Costello e Allen Ginsberg. Todos os dias o jovem Paterson acorda bem cedo às 6h da manhã, junto da sua bela companheira Laura (Golshifteh Farahani) e sem sequer precisar de despertador. Depois entrega-se à sua rotineira e discreta existência, que vai preenchendo igualmente com a escrita de um caderno de poesia, que não é mais que a sua simples e interessante visão do mundo.

Vê Trailer de Paterson

A análise: Depois de Só os Amantes Sobrevivem (2013), o realizador Jim Jarmusch, faz uma dobradinha em Cannes apresentado também fora da competição Gimme Danger, um documentário sobre Iggy Pop. No entanto, dificilmente vamos encontrar aqui um filme tão bonito e tão discreto como este seu Paterson, uma obra passada nos sete dias da semana e onde as rotinas da vida rimam como na poesia. Paterson, o motorista de autocarros interpretado por Adam Driver (o Kylo Ren de Star Wars: O Despertar da Força), é em Paterson uma personagem zen que dá como que uma onda de bem-estar ao espectador. O personagem tem uma luz dentro de si mesmo com a sua vida monótona. Escrever diariamente poesia no seu caderno, parece uma terapia demasiado frágil.

Paterson

No entanto, a sua bela e mimada mulher (Golshifteh Farahani), o autocarro, a cinzenta cidade nos subúrbios de Nova Iorque, o bar e o buldogue, parecem ser os pilares da vida de Paterson. E por isso ele brilha com a sua tranquilidade: no seu relacionamento com a mulher, uma decoradora de interiores, em ouvir o seu pessimista colega de trabalho, nas conversas melómanas com o velho empregado do bar ou mesmo no seu talento oculto para a poesia. Paterson é um filme belo e simples com toque de humor onde Jarmuch consegue encontrar poesia numa vida normal e comum como a do protagonista,  ou seja tornar o trivial algo estimulante e inspirador.

Loving de Jeff Nichols (EUA), com Joel Edgerton, Ruth Negga, Michael Shannon (competição)

Loving

A história: Richard (Joel Edgerton) é um homem branco que foi condenado a um ano de prisão por se ter casado con Mildred Loving (Ruth Negga), uma mulher negra. A sentença  é no entanto suspensa já que o casal apaixonado, abandona o estado da Virginia. Richard e Mildred passarão os nove anos seguintes numa batalha jurídica para regressarem ao seu local de origem e reconhecerem os seus direitos de casal.

Loving

A análise: Inspirado no documentário The Loving Story que Nancy Buirski realizou em 2011 para HBO, esta história é baseada em factos verídicos. Depois do controverso Midnight Special, apresentado na Berlinde, o realizador Jeff Nichols (Take Shelter), chega aqui a Cannes, revendo-se novamente na sua veia social, com esta crónica de amor interracial, passada na América segregacionista dos anos 50. Loving é protagonizado por Joel Edgerton (Midnight Special) e pela etíope Ruth Negga (Warcraft), que marcam aliás interpretações bastante regulares, modestas e sem a química que se quer num casal apaixonado.

Loving

Talvez ainda porque o filme é dirigido com uma tremenda contenção, (em alguns momentos até em demasia) contando esta historia verídica de Mildred e Richard Loving, um casal interracial que se casou em 1958 em Washington DC porque na sua Virginia natal não estavam permitidas essas uniões. Mesmo assim Loving na deixa de ser um filme contundente e apesar do seu classismo, pretende sobretudo gerar um debate sobre as questões da discriminação seja ela racial, sexual ou de género.

JVM


Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *