Caminhos da Floresta, em análise

 

Caminhos da Floresta (5)

 FICHA TÉCNICA

  • Título Original: Into the Woods
  • Realizador: Rob Marshall
  • Elenco: Emily Blunt, James Corden, Anna Kendrick, Meryl Streep, Chris Pine, Daniel Huttlestone, Lilla Crawford, Johnny Depp
  • Género: MusicalDrama, Fantasia
  • NOS Audiovisuais | 2014 | 125 min

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Caminhos da Floresta”, baseado no musical da Broadway de Stephen Sondheim, combina os enredos de algumas histórias de eleição dos irmãos Grimm, explorando as consequências dos desejos dos seus personagens no destino daqueles que os rodeiam. Mas é muito mais do que isso. É também um caminho fatídico – desconstruindo o formato de conta de fadas – até à felicidade.

Veja-se a Bruxa Má (Meryl Streep) que só desejava ter uma criança que a amasse. Ou o padeiro e a sua mulher (James Corden e Emily Blunt) que tudo o que queriam era ter um progenitor. Atente-se ainda na Cinderela (Anna Kendrick), que apesar da sua contínua hesitação, só desejava estar presente no Festival e arrematar o seu Príncipe (Chris Pine). Príncipe esse que é apenas um semblante de uma personalidade inócua mas que não consegue parar de conquistar corações. Já o Capuchinho Vermelho (Lilla Crawford), desejava secretamente deliciar-se com os doces que trazia para a sua avó. E o pequeno João e o Pé de Feijão é até capaz de enfrentar Gigantes para que a sua vaca volte a produzir leite.

Fazendo jus à taglineI wish”, o filme de Rob Marshall explora os desejos dos personagens mas trata a felicidade individual como a primeira inimiga da felicidade comum, colocando os intervenientes sob uma teia de pecados capitais que vão danificando as suas personalidades e adensando o clima, até que a narrativa se desata da aura familiar que a consume no primeiro ato.

INTO THE WOODS

Mas “Caminhos da Floresta” é, na sua essência, um desfilar de estrelas. No meio de uma breve mas desastrada performance de Johnny Depp como um excêntrico (ninguém diria) e patético Lobo Mau, à qual se junta a presença por vezes irritante de James Corden, há umas quantas interpretações notáveis que, só por si, fazem deste “Caminhos da Floresta” um espetáculo mais agradável do que em diversos momentos se augurava.

Desde logo Emily Blunt e Anna Kendrick, que partilham de uma robustez vocal assinalável – principalmente Kendrick -, mas também de papéis femininos fortes e divertidos à imagem dos musicais clássicos. Quem também se diverte imenso é Chris Pine, numa das performances mais surpreendentes e hilariantes, principalmente quando se junta a Billy Magnussen no grotesco – e satírico – tema “Agony”.

O personagem de Pine é aliás, em última análise, uma antítese do ambiente que o rodeia. É que, na ânsia de obter a sua tão desejada nomeação para o Óscar de Melhor Filme através de uma obra live-action (cinquenta anos depois de “Mary Poppins”), a Disney acabou por rotular o filme com uma falácia chamada Oscar bait. Chris Pine, apesar do seu ar jocoso e aparência de canastrão, é uma das únicas peças que ligam “Caminhos da Floresta” à sua realidade: um filme tão simpático quanto divertido, recheado de referências clássicas, dotado de um visual cuidado (com destaque para o deslumbrante guarda-roupa e adereços) e algumas interpretações de grande calibre, mas que não pode ser levado demasiado a sério.

INTO THE WOODS

Já para Meryl Streep, há um trono de rainha reservado para a sua malvada bruxa (mesmo que esse papel seja, mais uma vez para ela, sinónimo de peanuts). Embora em registos distintos, mas com uma mesma energia avassaladora, ouvimos o seu “Stay With Me” e não nos sai da memória “I Dreamed a Dream”, na voz de Anne Harhaway em “Os  Miseráveis”. E por falar no filme de Tom Hooper, cabe ao pequeno prodígio Daniel Huttlestone uma das mais melodiosas canções de “Caminhos da Floresta”, “Giants in the Sky”, e também uma das interpretações mais seguras e dinâmicas, para espanto dos veteranos.

O elenco, fruto de um casting impecável, não compromete o material base de Sondheim, mantendo-se fiel à sua teatralidade e natureza clássica. Nesse sentido, também o argumento de James Lapine é capaz de reunir o imaginário dos contos dos irmãos Grimm de forma verosímil, mesmo que a sua abordagem moderna o torne particularmente inusitado no último ato e, a espaços, se debruce em diversos clichés para conseguir um avanço fast foward da narrativa.

INTO THE WOODS

No entanto, é de aplaudir a insubordinação de Sondheim à matriz do “viveram felizes para sempre”, transformando “Caminhos da Floresta” num musical indisciplinado, em escape permanente ao finais utópicos da vida. Mas o que Sondheim transporta para o filme é aquilo que já havia concebido para o musical da Broadway, deixando para o tarefeiro Rob Marshall a missão de fabricar o vazio. E talvez apenas por não ter muito que fazer, Marshall acaba por não conseguir arruinar aquilo que estava bem feito.

É ele, porém, que acaba por recolher indevidamente os louros do sucesso. Não que o sucesso seja descomunal, mas parece insofismável admitir que este “Caminhos da Floresta”, fruto do seu melting pot narrativo e criativo, caminha para algo rico e mágico, entre o sonho encantado e a realidade sombria.

DR

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