Emmys 2014 | Os esquecimentos mais chocantes e as agradáveis surpresas

 

Todos os anos, por altura dos Emmys, ficamos ligeiramente chocados, revoltados e/ou surpreendidos com as nomeações, mas esperamos sempre que no ano seguinte os votantes acertem. O processo é sempre o mesmo: acordamos entusiasmados uma manhã de julho para nos desiludirmos com alguns dos nomes que (não) são lidos. As nomeações de 2014 não são excepção e, diga-se de passagem, foram das piores dos últimos anos.

O processo de seleção dos Emmys não é fácil. Vivemos a era de Ouro da televisão norte-americana e a fasquia está cada vez mais elevada em termos de qualidade. Se por um lado é verdade que não existem boletins de votos perfeitos, por outro a realidade é que assistimos a uma das seleções mais aborrecidas e preguiçosas (sim, isso mesmo!) dos últimos tempos. Os problemas dos votantes – obviamente que não tenho outra opção que não a de generalizar – são cada vez mais evidentes. Escolhas previsíveis, nomeações feitas a papel químico dos dois últimos anos e miopia crónica são as nódoas flagrantes que caiem num pano outrora de prestígio.

Agora é tempo de lamentar as injustiças e de esperar que talvez no próximo ano a Academia de Ciências e Artes Televisivas consiga quebrar o conservadorismo que a pauta. Abaixo estão listadas os esquecimentos (ou ‘snubs’) mais chocantes das nomeações deste ano. Como nem tudo é negativo acrescentei uma secção para os casos em que os votantes dos Emmys, surpreendentemente acertaram.

 

Os esquecimentos mais chocantes


Tatiana Maslany / Orphan Black

Tatiana Maslany

A protagonista de “Orphan Black” é camaleónica conseguindo interpretar num só episódio uma sociopata ucraniana, polícia e uma “soccer mom” com um problema de alcoolismo. Como se não bastasse interpretar oito (!) personagens na série, ela fá-lo brilhantemente. Pelo segundo ano consecutivo Tatiana Maslany foi ignorada nos Emmys, para surpresa do mundo digital que, prontamente criou um TT no Twitter em apoio à atriz e revolta para com a cerimónia. À priori o esquecimento de Tatiana pode não soar como uma grande surpresa, dada a tradicional aversão dos Emmys a tudo o que seja sci-fi e derivados. Mas tendo em conta que a atriz já tinha ganho reconhecimento em circuitos de prémios mais pequenos, seria natural pensar-se que os Emmys eram passo seguinte. Não há duvidas de que a atriz merecia uma nomeação, mas com nomes maiores e mais reconhecidos à sua frente, tal não aconteceu. Quantas mais personagens tem esta atriz que interpretar até merecer algum reconhecimento? Fica a questão.

 

The Good Wife

The Good Wife

A omissão da série da categoria de Melhor Série Dramática foi simplesmente inacreditável. A última temporada de “The Good Wife” foi uma das mais fortes até à data e a série consegue reinventar-se à medida que os anos passam. Contudo, sem qualquer explicação, não recebe uma nomeação nesta categoria desde a sua 2ª temporada. Julianna Margulies, Josh Charles, Christine Baranski e Dylan Baker arrecadaram nomeações individuais mas a série, num todo, merecia. Se os nomeados da categoria de Melhor Série Dramática fossem de tal forma excelentes que se tornaria impossível prescindir de um a favor de “The Good Wife”, era uma coisa. Mas ao nomearem séries como “House of Cards” e “Downton Abbey” que, diga-se de passagem, continuam a beneficiar de alguma boa fé devido às suas primeiras temporadas, claramente não foi o caso. Isto faz-nos pensar se os votantes vêem sequer as séries.

 

The Americans

The Americans

Parte do problema dos Emmys é o hábito institucional de fazer regressar grande parte dos vencedores anteriores, não obstante a qualidade decrescente das séries ou as performances superiores da competição.Downton Abbey” e “Modern Family” são casos em que o génio criativo que as caraterizava nas primeiras temporadas esteve uns furos abaixo e, ainda assim, foram distinguidas. Dizer que “The Americans” não faz parte dos seis melhores dramas da televisão atual é o understatement do ano e roça até o pouco patriótico. Mas é ainda mais patético que Matthew Rhys e Keri Russell não tenham sido nomeados. Julgo que é seguro dizer que Rhys perdeu a nomeação para Jeff Daniels, que é um ótimo ator, mas nem ele nem “The Newsroom” tiveram este ano a qualidade do primeiro ou de “The Americans”. O mesmo aconteceu com Keri Russell que perdeu a nomeação para Michelle Dockery, saída da pior temporada de “Downton Abbey” até à data. Apenas Margo Martindale receber uma nomeação como Melhor Atriz Convidada por “The Americans” não é satisfatório.

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James Spader / The Blacklist

James Spader

Mesmo que as hipóteses de Rhys ser nomeado fossem curtas, as de James Spader não eram. A exclusão do protagonista de “The Blacklist” pode ser qualificada como desconcertante, mesmo numa categoria tão competitiva quanto a de Melhor Ator de uma série dramática. Algum dos votantes viu a performance de James Spader este ano?

 

Dean Norris / Breaking Bad

Breaking Bad

Sim, Aaron Paul foi excelente, mas a segunda melhor performance na última temporada de “Breaking Bad” pertenceu a Dean Norris. Norris teve ótimo material para brilhar e saiu-se lindamente. Contudo, não foi suficiente para o colocar numa categoria que inclui quatro nomeados do ano passado (lugares cativos, anyone?). Quem mais acha que Dean Norris merecia estar nomeado no lugar de Aaron Paul?

 

Hannibal

Hannibal

Esta série pode não agradar a muitos mas é triste ter sido completamente ignorada pela Academia de TV. Um magnífico Mads Mikkelsen, um pungente Hugh Dancy e a imaginação completamente twisted de Bryan Fuller – “Hannibal” tem o pacote completo. A sangrenta adaptação da NBC dos romances de Thomas Harris é tão substancial como é elegante, tem reviravoltas impressionantes e performances incríveis. Compreende-se que a categoria de Melhor Ator está sobrelotada e que não há espaço para todos, mas “Hannibal” deveria ter tido, no mínimo, algum reconhecimento pelos seus efeitos técnicos visuais. Fotografia, maquilhagem, ultrajantes demonstrações de comida! O resultado? Zero nomeações. Shame on you, Academia.

 

Emmy Rossum/ Shameless

Emmy Rossum

O nome dela é Emmy mas, pelos vistos, isso não lhe dá quaisquer garantias de ser nomeada para um. “Shameless” tem aquele “problema” de conter tanto de comédia como de drama. Depois de anos a propor a série para as sobrelotadas categorias de Drama, este ano os produtores decidiram submeter “Shameless” às categorias de comédia, não obstante o facto desta ter sido a temporada mais dramática até à data. Se “Shameless” pertence, este ano, verdadeiramente à corrida das comédias é discutível. O que não é discutível é que Emmy Rossum tenha dado A performance da sua carreira esta temporada. Episódio atrás de episódio fomos surpreendidos com a sua capacidade de ir mais além e de ultrapassar os limites que julgávamos já terem sido atingidos. Rossum pertence à categoria de Melhor Atriz muito mais que Melissa McCarthy, Edie Falco ou Lena Dunham (alguém consegue garantir que Dunham esteja mesmo a representar?). “Shameless” e a sua abundância de talento – excepto William H. Macy – foram ingloriamente esquecidos. Sou fã confessa desta série e facilmente admito que até a nomeação de Joan Cusack é exagerada. A atriz teve um papel menos proeminente que nas temporadas anteriores e a sua storyline foi das mais fracas. Será que os votantes desviaram sequer o olhar de “Downton Abbey” para espreitarem a brilhante Emmy Rossum e até o promissor Noel Fisher?

 

Bellamy Young / Scandal

Bellamy Young

“Scandal” teve a sua dose de reconhecimento nos Emmy deste ano com as nomeações de Kerry Washington, Joe Morton, e Kate Burton. Mas Bellamy Young, aquela que devia de ser a grande vilã de “Scandal”, o obstáculo para a disfuncional história de amor da série, era merecedora de uma nomeação. Excluindo algumas decisões francamente duvidosas da personagem, é por ela que muitas vezes estamos a torcer. A atriz está de parabéns pelas novas camadas de vulnerabilidade que trouxe a Mellie, uma personagem que facilmente poderia ser encarada como unidimensional. Pelos vistos a recente vitória da atriz nos Critics’ Choice Television Award não foi suficiente. Kudos também para Jeff Perry aka Cyrus – os seus monólogos algo Shakespeareanos nunca desiludem.

 

The Walking Dead

Melissa McBride

A recusa da Academia de TV em reconhecer o horrífico, sincero e bastante humano drama zombie e as suas estrelas – o fenomenal Danai Gurira e o menosprezado Andrew Lincoln – continua tão irritante quanto sempre. Onde está Melissa McBride na lista de nomeações para Melhor Atriz em Drama? Não há louvor para a maquilhagem, realização, stunt coordination de “The Walking Dead”? As opções eram muitas e para os fãs da série é frustrante especialmente quando TWD teve um ano tão forte e muitos dos atores/séries continuam a ser nomeados independentemente do que façam.

 

Mindy Kaling / The Mindy Project

Mindy Kaling

Mindy Kaling teve a honra tremenda de anunciar as nomeações dos Emmys 2014 mas não a tremenda honra de receber uma. Foi preciso coragem por parte da Academia para nomear Melissa McCarthy uma vez mais por “Mike and Molly” e escolher a divina Mindy Kaling para anunciar as nomeações. Props para Mindy, que se portou de forma elegante e, nem por um segundo, demonstrou estar desiludida com o esquecimento. Mas que era merecido, lá isso era!

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Andy Samberg / Brooklyn Nine-Nine

Andy Samberg

O reconhecimento da série e do ator nos Golden Globes não foi suficiente para conquistar a Academia de TV. Andy Samberg foi outro dos atores esquecidos nas nomeações deste ano e é uma pena, tendo em conta que protagonizou uma das melhores comédias deste ano.

 

Outros esquecimentos importantes: Elizabeth Moss em Mad Men, Sarah Baker em Louie, Charles Dance em Game of Thrones, Pedro Pascal em Game of Thrones, Chris Messina em The Mindy Project, Hayden Panettiere em NashvilleBoardwalk Empire, Jeffrey Wright em Boardwalk Empire, Vera Farmiga em Bates Motel.

 

A mudança das regras de forma a que reflitam a magnitude da indústria é talvez o maior problema que os Emmys enfrentam. É verdade que haverá sempre histórias de esquecimentos nas cerimónias de prémios. Mas a televisão atual está, claramente, demasiado vasta para que os votantes consigam recompensar de forma justa os participantes. Impõe-se a questão: o que está a impedir que as categorias sejam alargadas? Não falo em impor regras fixas que designem que cada categoria tenha 10 nomeações – embora estejamos numa era em que facilmente as preencheríamos – mas talvez de um alargamento por categoria, por ano.

Com o Netflix e o Amazon e o Hulu a criarem conteúdos originais nas suas plataformas e canais por cabo de nicho a servirem os seus espectadores com dramas e comédias de qualidade e performances enriquecedoras. É bastante óbvio que os Emmys foram apanhados de surpresa pela evolução da sua própria indústria. Algo tem que ser feito para que o que aconteceu este ano, não torne a acontecer nos próximos. Caso contrário, todo o prestígio e credibilidade obtido nos últimos anos, cai por terra.

 

 

As agradáveis surpresas

Cersei Lannister rules!

Lena Headey

Tem sido notoriamente difícil para os atores de “Game of Thrones” fazerem parte da corrida dos Emmy. Emilia Clarke tem sido a escolha feminina dos últimos anos – incompreensivelmente, a meu ver – mas este ano coube a Headey ver o seu soberbo trabalho reconhecido pelos votantes da Academia.

 

Orange is the new black

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No caso da comédia dramática do Netflix, o instinto dizia-nos que ou corria muito bem ou, pelo contrário, as prisidiárias de Litchfield seriam completamente ignoradas. Ficámos felizes por “Orange is the New Black” ter recebido cinco nomeações em categorias de representação, incluindo a de Taylor Schilling para Melhor Atriz, Kate Mulgrew para Melhor Atriz Secundária, e Natasha Lyonne, Laverne Cox (a primeira transsexual de sempre a ser nomeada), e Uzo Aduba para Melhor Atriz Convidada. Com tantas candidatas merecedoras do prémio, é díficil escolher. Mas de uma coisa temos a certeza: cinco nomeações é um número excelente para uma série estreante.

 

Silicon Valley

Silicon Valley

Conseguir fazer parte da categoria de “Melhor Comédia” no primeiro ano de existência é uma grande realização, tendo em conta os votantes dos Emmys. Apesar de não ter conseguido obter outras nomeações importantes, a hilariante comédia da HBO conseguiu roubar a spotlight a séries como “Girls”, “Parks and Recreation” e “Brooklyn Nine-Nine”. Nada mau!

 

Lizzy Caplan / Masters of Sex

lizzy caplan

É uma boa surpresa ver sangue novo na lista de nomeações dos Emmys. Bom trabalho, Academia!

 

The Normal Heart

The Normal Heart

A adaptação da peça Larry Kramer por parte da HBO foi uma demonstração excelente de como representar como deve de ser. É refrescante ver que os votantes não olharam para o cast pela metade e decidiram nomear os quatro atores secundários – Matt Bomer, Jim Parsons, Alfred Molina, Joe Mantello – bem como os protagonistas – Mark Ruffalo e Julia Roberts.

 

O fim do reinado de Modern Family

Modern Family

Longe vão os tempos em que todo o cast adulto de Modern Family eram nomeados nas categorias secundárias (quatro homens e duas mulheres), impedindo o acesso de outros atores merecedores a essa scategorias. Este ano, no entanto, apenas Ty Burrell e Jesse Tyler Ferguson foram nomeados para a categoria de Melhor Ator Secundário e Julie Bowen a única na categoria de Melhor Atriz Secundária – sorry, Sofia Vergara. O fim do domínio de “Modern Family” nestas categorias permitiu inclusões mais que merecidas na corrida: Andre Braugher (“Brooklyn Nine-Nine”), Fred Armisen (“Portlandia”), e McKinnon.

 

Outras agradáveis surpresas: A recém-terminada Breaking Bad teve 16 nomeações, Fargo teve 18 e American Horror Story: Coven recolheu 17.

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