Finalmente ‘São Jorge’ !

‘São Jorge’, de Marco Martins chega finalmente às salas comerciais. É talvez um prenúncio de um ano em cheio para os filmes portugueses, que começou com os prémios da Berlinale. Aqui uma antevisão de ‘São Jorge’ e as entrevistas em vídeo, realizadas em Veneza com o realizador e dois dos protagonistas.

São Jorge
Jorge é um homem violento e silencioso.

Nuno Lopes e a sua interpretação são sem dúvida o mais falado deste drama social, intenso e realista sobre um Portugal ‘esmurrado’ pela troika em 2011. Foi essa notável interpretação de Nuno Lopes, que de certo modo focou a crítica e júri internacional em São Jorge e o reconheceu com o Prémio de Melhor Actor na secção Horizonte do Festival de Veneza o ano passado.

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Este tão aguardado filme português protagonizado por um dos mais populares actores da actualidade — esgotou recentemente salas de teatro por esse País fora com a peça A Noite de Iguana, de Tennessee Williams e vimo-lo e ouvimo-lo diariamente nos anúncios da televisão — que é sem dúvida um elogio e uma boa promoção para São Jorge,  estreia ironicamente quando o pior sobre a crise já passou, Portugal começa a dar os primeiros passos para uma recuperação económica e os portugueses estão mais optimistas.

Jorge é um homem em desespero e conflito interior.
Jorge é um homem em desespero e conflito interior.

No entanto, São Jorge é um filme a não perder pois fala sobre a memória recente que convém não apagar, é uma excelente ficção do real em tons de film noir, sobre um homem um homem comum como qualquer um de nós, que numa situação de desespero, fez tudo para sobreviver à crise que Portugal atravessou nos último anos.

O realizador Marco Martins misturou actores profissionais com as pessoas do Bairro da Bela Vista, em Setúbal, por isso tornou São Jorge mais realista, credível e logo mais identificativo com o público. Foram cinco anos de pesquisa e preparação para chegar a este argumento escasso em diálogos, que foram escritos pelo realizador e pelo escritor Ricardo Adolfo. Mas sobretudo sente-se muita cumplicidade com o actor Nuno Lopes, que desde o primeiro filme de Marco Martins (Alice, 2005), o tem acompanhado em vários projectos de cinema e teatro.

É neste contexto — muito semelhante ao tríptíco As Mil e Uma Noites, de Miguel Gomes, outro filme sobre a crise e que inclui igualmente uma passagem pelas vozes dos trabalhadores dos estaleiros navais de Aveiro —, com o boxe em fundo, que se desenvolve esta dura história de um homem à deriva — curiosamente como em Alice —, sobre um pugilista desempregado (Nuno Lopes) que sem mais alternativas para ganhar dinheiro, sujeita-se a trabalhar numa empresa de cobranças difíceis. E para com isso impedir que a sua ex-mulher (Mariana Nunes), regresse ao Brasil com o filho de ambos (David Semedo). O homem acaba por entrar numa vertiginosa espiral de violência e ao mesmo tempo de conflito interior.

Nuno Lopes tem uma interpretação notável, que faz lembrar as actuações inspiradas no método da Actor Studio — passou vários meses de preparação num ginásio de boxe e engordou quase 20 quilos — pois Jorge torna-se num homem violento e silencioso, e pouco dado a grandes conversas. São Jorge é filmado em boa parte à noite focando em grandes planos a nuca e a cabeça de Nuno Lopes, num movimento contínuo, graças à mobilidade da câmera digital, que segue o actor insistentemente.

No elenco destaque para as interpretações secundárias, igual ente marcantes no desenvolvimento deste drama intenso: a da actriz brasileira Mariana Nunes — vimo-la em A Febre do Rato (2012), de Cláudio Assis, um dos melhores filmes brasileiros da actualidade — de José Raposo (como pai de Jorge), do actor luso-francês Jean-Pierre Martins (A Gaiola Dourada), também do miúdo David Semedo.

JVM

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