Insurgente, em análise

 

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 FICHA TÉCNICA

  • Título Original: Insurgent
  • Realizador: Robert Schwentke
  • Elenco: Shailene Woodley, Theo James, Miles Teller
  • Género: Ação, Aventura
  • Pris Audiovisuais| 2015 | 119 min

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Tris Prior está de volta para lidar com o que aconteceu no filme anterior e dar a qualquer Divergente que se preze, a maior desilusão da sua vida.

Insurgente é o segundo capítulo da saga Divergente, inspirado na obra homónima de Veronica Roth, no entanto, a adaptação feita da obra é tão pobre que os argumentistas nem parecem ter-se esforçado. O mais importante em qualquer universo, quer seja um universo cinematográfico ou literário, é dar-lhe consistência. Na sua obra, Roth consegue atingir isso e criar uma ligação lógica entre o primeiro e o segundo capítulo. Em Divergente, perto do clímax do filme, toda a história sofre uma drástica reviravolta que não chega a ser devidamente explicada. A obcecação de Jeanine em relação aos Divergentes nunca nos é esclarecida, tanto no filme como no livro, mas é precisamente isso que Roth esclareceu na continuação. Contudo, no filme esses pequenos detalhes que tiveram um enorme peso no passado, não são endereçados de todo, criando uma disfuncionalidade imediata na saga cinematográfica.

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Por muito que custe, alterações ao livro tinham de ser feitas. Apesar de ter lido os livros e de ter gostado, sempre tive a noção de que o filme não ia ser completamente fiel ao material de base. Ainda assim, há um limite para o quanto se podem distanciar. O mais grave foram as alterações feitas às motivações de Jeanine, pelas razões já referidas. Porém, onde o filme falha redondamente é em abordar as várias relações entre as personagens. Mais uma vez, é normal haver interações que tenham de ser cortadas ou abordadas de maneira diferente, mas isso é aceitável quando são apenas algumas e não todas elas. A questão da amizade de Tris com Christina sofrer um grande abalo quando Tris revela o que aconteceu ao Will; a raiva que o Tobias tem em relação à sua mãe e aquilo que ela quer dele; a relação entre Marcus e Evelyn é cortada por completo; etc. Elas são referidas mas a abordagem que levam é demasiado superficial. Não há qualquer tipo de relação ou sentimento humano que se desenrole de uma forma natural neste filme, falhando em criar qualquer tipo de ligação com o público.

A expectativa estava tão alta como o que o primeiro filme permitiu. É certo que não foi nenhuma obra de arte, mas pelo menos foi capaz de prender a nossa atenção durante o seu tempo de duração. Ao ler os livros, achei que a adaptação feita do primeiro tinha sido bastante satisfatória, e quando cheguei ao segundo a expectativa ficou ainda mais elevada do que estava antes, uma vez que este nos mostra aquele mundo de uma maneira mais ampla e com plot twists que me iam deixando cada vez mais agarrado. Todavia, tudo aquilo que o livro tinha de bom para oferecer foi descartado, nomeadamente as apresentações das restantes fações que ainda não tínhamos tido a oportunidade conhecer. Ver Tris e companhia a tentarem integrar-se com os Cordiais e o julgamento sob o efeito do soro da verdade dos Cândidos, foram momentos chave para que ficássemos a conhecer cada um destes grupos, mas mais uma vez o filme foi incapaz de fazer jus à obra de Roth.

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Com novas aquisições no elenco de grande peso e para os papéis que eram, seria de esperar que tivessem feito alguma coisa resultar. No entanto, a falta de paixão posta no projeto tira qualquer brilho que o filme pudesse ter. No caso de Octavia Spencer, a sua personagem é a líder dos Cordiais, que nos livros desempenha um papel importante na história, e aqui apenas a vemos numa cena ou duas que não chegam para definir a personagem. Outra falha, e a maior, no âmbito das novas personagens, foi a de Naomi Watts. Evelyn é a mãe de Four, que todos achavam morta, mas na verdade ela fugiu de Marcus e tornou-se na líder dos Sem-Fação. Esta sim é uma personagem chave para aquilo que o filme poderia ter sido e para aquilo que se vai seguir. Contudo, aquilo que é desperdiçado aqui não deixa espaço para um futuro muito promissor para a saga.

O elenco que voltou para este segundo filme também não saiu muito bem no meio de tudo isto. Shailene Woodley continua a não conseguir dar grande credibilidade como uma heroína e Theo James perde todo o carisma que tinha no primeiro filme. Quem se conseguiu fazer destacar de todos os outros, assim como daquilo que fez no filme anterior, foi Miles Teller. O sarcasmo e ironia de Peter está toda presente e Teller consegue dar-lhe um encanto tão único que é impossível irritarmo-nos com ele. Peter era suposto ser o Malfoy de Tris; no entanto o ator conseguiu torná-lo numa personagem com a qual simpatizamos facilmente.

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As cenas de ação são outro aspeto do filme que deixam muito a desejar. Lembram-se do teaser e do trailer do Superbowl? Aquelas sequências cheias de efeitos especiais com Tris a saltar e a correr e a partir tudo à sua volta. Pronto, é a isso que elas se resumem. Um espetáculo visual que não passa disso, um espetáculo superficial para deliciar os nossos olhos e tentar fazer-nos acreditar de que o que estamos a ver tem algum tipo de qualidade. A única cena de ação que consegue ser minimamente interessante é a luta inicial entre Tris e Peter à mesa, só que eles já têm idade para saber que não deviam de brincar com a comida.

Insurgente põe o franchise na pior situação possível, e com o terceiro filme a caminho, dividido em dois, voltar a ver algo minimamente satisfatório como foi Divergente pode demorar algum tempo.

 

 

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2 thoughts on “Insurgente, em análise

  • Eu na verdade gostei mais deste do que do primeiro…
    Não li os livros, mas que eu saiba, o filme não tem que ser uma cópia exata do livro (afinal, é “BASEADO no bestseller” nha nha nha, e não “Letras transpostas para imagens”)…
    Aliás, acho que o facto de os argumentistas quererem fazer algumas alterações é interessante. E este fator surpresa até pode ser uma mais-valia (olhemos para o exemplo do “Game of Thrones”), o que pelos vistos não foi para alguns (ou muitos) de vocês…
    Apesar de tudo, eu gostei, e espera ansiosamente pelo(s) próximo(s)!
    Ah, e a “Holes in the Sky”, dos M83 no fim está perfeito!

  • Muito boa análise!

    Nas cenas finais fico sem perceber como é que os argumentistas vão dar a volta ao texto para dar conta do que se passa no 3o livro.
    O mesmo se passa com a importância que Marcus tem, ao longo do 2o livro e, no filme, aparece uma vez. Achei que o filme ridicularizou bastante o livro, depois do bom que tinham feito no 1o filme, este 2o é mesmo para nos atirarmos da ponte.

    Claro que quem não leu os livros achou aquilo um óptimo espectáculo. Onde eu fui ao cinema só havia sessão 3D à noite, que é claramente uma estratégia para ganhar dinheiro. Quem não leu, ficou fascinado com aquilo tudo (e até bateu palmas no fim), eu estava tão chocada que não me consegui mexer da cadeira.

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