Montanha, em análise

 

Elogiado pela crítica, premiado em vários festivais internacionais por esse mundo fora, chega agora às salas ‘Montanha’, a primeira longa metragem do jovem realizador português João Salaviza, uma poderosa história da adolescência, que conta a história de um miúdo de bairro e das suas ‘dores’ de crescimento.

FICHA TÉCNICA

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Título Original: Montanha
Realizador: João Salaviza
Elenco: David Mourato, Cheyenne Dominguez, Rodrigo Perdigão e Maria João Pinho.
Género: Drama
Midas | 2015 | 90 min[starreviewmulti id=18 tpl=20 style=’oxygen_gif’ average_stars=’oxygen_gif’] 

 

Depois dos importantes prémios em Cannes e Berlim pelas suas curtas ‘Rafa’ e ‘Arena’, João Salaviza lança agora numa versão ‘long-play’ a sua primeira longa metragem ‘Montanha’, mais uma história da adolescência que conta a história de David (Mourato), um puto de 14 anos, desiludido e perdido numa Lisboa geométrica e vazia, entre o bairro dos Olivais, a linha do comboio, a escola e as instituições, a morte e a desilusão de um primeiro amor.

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David vive com o avô que adoece gravemente. À primeira vista o seu comportamento parece mais adulto do que qualquer rapaz da sua idade. A mãe (Maria João Pinho) é obrigada a regressar de Londres com Ema, a filha mais nova e irmã de David, para dar conta do estado de saúde do pai que está hospitalizado. No segundo dia de espera, David torna-se mais ansioso e procura companhia do seu amigo Rafa (Rodrigo Perdigão). Ambos decidem roubar uma scooter, e ‘abrir’ com a moto pelas ruas dos Olivais, falarem de um suicídio, partilharem a companhia (e os afectos) de Paulinha (Cheyenne Domingues). A miúda trata de criar ciúmes entre os dois amigos, leva-os a lutarem e a pegarem fogo à moto. Mas depois fazem as pazes, saem à noite, para beber uns copos, e regressados enrolarem na cama os três a ver um filme.

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’Montanha’ é filme que vive sobretudo de profundos sentimentos, das ilusões e desilusões de David um miúdo rebelde e ao mesmo tempo frágil e meigo que apesar de ter sido obrigado a crescer, continua à procura de uma infância perdida. Ele vive intensamente as angústias da adolescência e a perspectiva de um futuro inexistente, num Portugal sem tempo, com traços de agora. O filme é um puro retrato social, que nada tem a ver com aquele estilo que já se tornou aberrante da câmara à mão que segue os protagonistas, como nos filmes americanos sobre adolescentes. Pelo contrário é filmado num estilo clássico, com planos fixos e sem grandes movimentos de câmara, e com a luz e a fotografia (do Vasco Viana) a romperem mesmo com o naturalismo. As imagens difusas por vezes. expressam antes as complexas emoções dos jovens personagens, marcados pela angústia e incerteza, partindo da quase escuridão dos apartamentos, para as ruas  claras e vazias, dos prédios geométricos dos Olivais.

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A interpretação de David Mourato é brilhante e até comovente, como aliás de todos os actores, sempre muito apoiados pela direcção e maturidade autoral de João Salaviza, que consegue sem sair da sua linha de intervenção dar grande margem para a improvisação: os actores que levam muito de si próprios para a construção da narrativa e diálogos do filme. Uma pequena obra-prima do cinema português, que recupera os elementos das curtas anteriores do realizador, o que é excelente e vem reforçar a vocação autoral de João Salaviza.

Montanha’, a primeira-longa metragem de João Salaviza (31 anos), foi estreada na Semana da Crítica de Veneza 2015, curiosamente a mesma secção onde Pedro Costa estreou o notável ‘O Sangue (1990). Aliás, segundo Salaviza, foi um filme que esteve sempre presente na rodagem de ‘Montanha’.

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