NOS Primavera Sound 2016, Dia 3 | Explosões no céu, ver estrelas com os Air e a surpresa Car Seat Headrest

À última noite de NOS Primavera Sound, o público, já cansado, pedia mais e mais. Sofreram com isso Car Seat Headrest e Explosions in the Sky que tiveram de recusar os encarecidamente pedidos encores por limitações de tempo. Sem tempo tão limitado, os Air levaram-nos a ver as estrelas. 

Era o último dia e notava-se que o era. Quem na noite anterior tinha cumprido religiosamente o programa mais normal (passando pela meditação sobre o passado com Brian Wilson, pela explosão de PJ Harvey ou pela viagem espacial dos Beach House), só poderia estar cansado. Mas tal condição física não era obstáculo digno de registo quando havia tanta vontade de ver o que último dia ainda tinha para oferecer.

Desta vez as nossas maratonas começaram mais tarde (infelizmente, acabámos por perder os Linda Martini) e já só conseguimos admirar o futuro risonho dos Algiers por breves minutos. O dia começava verdadeiramente para nós com Chairlift no Palco NOS.

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A banda de Caroline Polachek e Patrick Wimberly só precisou de três álbuns editados para ir colecionando a sua base de fãs e uma ou outra música de reconhecimento quase imediato. Numa estranha mistura de folk, pop, eletrónica e R&B, os Charilift, e em particular a voz de Caroline, não se cansaram de cativar um público quase sempre mais agarrado à relva da colina que enfrenta o palco principal. “Romeo”  e “Ch-Ching” foram pontos altos de um concerto que terminou com uma cover de “Song to the Siren”, de Tim Buckley. O “momento Enya“, como se ouvia ao nosso lado. A melhor forma de receber a noite e refletir sobre o que ainda estava para vir.

Seguimos para o Palco Pitchfork onde uma multidão surpreendentemente grande já esperava pelos Car Seat Headrest e em particular pelo sue líder Will Toledo, um jovem de 23 anos. A sua história já é conhecida: depois de lançar mais de uma dezena de álbuns no seu BandCamp, Toledo chamou a atenção da Matador Records que prometeu gravar um disco “a sério” depois de a banda regravar algumas músicas antigas em estúdio e lançá-las numa compilação introdutória para quem os quisesse conhecer. O resultado for o lançamento de “Teens of Style” em 2015 e o seu seguidor “Teens of Denial”, em maio deste ano, que lhes permitiu atingir a aclamação total.

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Diz o baterista Andrew Katz que apesar da audiência no Primavera Sound de Barcelona ser o dobro daquela multidão presente na noite de sábado no Palco Pitchfork, o público do Porto era duas vezes mais ruidoso. E nisto Toledo pergunta: “vocês estão bêbados ou apenas felizes?“. A resposta não se fez esperar: a cada guitarrada tocada como se não houvesse amanhã (um registo lo-fi, indie rock e psicadélico), seguiam-se coros monumentais de quem já sabia as letras de cor e salteado. Os pulos, as palmas, as cabeças num frenesim constante e o apelo persistente a um encore impossível de se concretizar são apenas demonstrações físicas de que o fenómeno é real e uma estrela estava ali a despontar.

No fim, ouviam-se uivos daquela que é a sua “canção mais ouvida no Spotify“, “Something Soon”. Era de tal forma contagiante que quando regressávamos ao Palco NOS para recebermos os Air, uma criança – certamente com menos de três anos – vinha a entoar um “woah-ah-ah-ohhhh…” acompanhada do seu pai orgulhoso. Naquele momento só nos conseguimos recordar do que contava James Blake ao The Guardian: quando mostrou pela primeira vez o que tinha escrito para a sua colaboração com Beyoncé  à própria Beyoncé (para ser incluída no álbum “Lemonade”), a filha desta, Blue Ivy, não se cansava de repetir “Forward, Forward“. Aí,  Queen B. olha para Blake e diz-lhe que “é assim que percebemos que é catchy” . É certo que vamos ouvir falar muito destes Car Seat Headrest.

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Enquanto no Palco Super Bock já se faziam despedidas dos Battles, e do seu inebriante, geométrico e incansável ataque electro-percussionista, no Palco NOS arranjava-se espaço suficiente para balançar sem restrições ao som dos Air. Os franceses não traziam na bagagem nenhum álbum de originais, mas sim a coleção “Twentyears”, que reúne quase todas as composições mais conhecidas e celebradas. E grande parte delas foram tocadas: desde o instrumental de “Playground Love”, a “People in the City”, passando pela retórica de “How Does It Make You Feel?” e culminando com o obrigatório ” Sexy Boy”.

O som limpo convidava a swings de anca e não abanões descontrolados com a cabeça. É aqui que a doutrina se divide: de um lado, aqueles que têm na ideia de que um concerto em festival é sinónimo de movimento constante e estrondosas batidas, do outro, aqueles que não caem no sofisma nem se deixam adormecer. Com os Air já saberíamos que seria assim. Embora concordemos que o registo musical do duo francês se adeque mais a um ambiente de sala fechada, não somos capazes de deitar fora um “Cherry Blossom Girl” doce e luminoso numa noite de Primavera ao ar livre e muito menos a feroz troca de olhares com as estrelas enquanto ouvíamos “Kelly Watch the Stars”.

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A noite seguia com os Explosions in the Sky, ou Explosões do Céu, tal como se apresentaram num português muito bem planeado. E daí em diante acabou-se o falatório para se dar lugar a uma ininterrupta sequência de composições. Afinal, o tempo era pouco e os trabalhos dos Explosions in the Sky não primam pela curta duração.

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Percorrendo os álbuns “How Strange, Innocence”, “The Earth Is Not a Cold Dead Place” e até o mais recente lançamento “The Wilderness”, os Explosions in the Sky apresentaram-se como um grupo anárquico em palco o que acabava por intensificar as melodias ora leves e espirituosas, ora ruidosas serralharias de fazer saltar o coração. No fim, o público pedia mais, mas não dava. Os Moderat começariam o seu set logo de seguida.

A superbanda de tecno alemã, que é um pedido expresso de longa data do público, resulta da fusão dos Modeselektor e Apparat. Com dois álbuns publicados, em 2009 e 2013, o trio apresentava agora o seu terceiro trabalho (“III”), uma nova incursão a esse ecossistema sintético que eles próprios criaram. O concerto arranca e logo em “A New Error” percebemos que está ali algo de especial. Mas para nós não dava para mais. Abandonámos o recinto ainda “Reminder” tocava e ressoava por entre os edifícios que se opõem ao Parque da Cidade. O som estava no ponto.

O Primavera Sound acabava com promessas de amor eterno e de um regresso nos dias 8, 9 e 10 de junho de 2017, no mesmo local, pois claro!

 

 


 

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