8 /12 Festa do Cinema Italiano: O Conto dos Contos, mini-crítica

O fantástico e a ilusão de separar o inseparável, está na base de O Conto dos Contos um maravilhosa fábula cinematográfica de Matteo Garrone que é sobretudo uma excelente analogia de que como os excessos nos podem cegar da realidade.

O Conto dos Contos

O realizador de Gomorra, um filme feito a partir do romance de Roberto Saviano, e de Reality (2009), uma farsa sobre os reality shows, virou-se agora para os contos clássicos e para uma obra difícil de definir em termos de género, que abriu a 9ª edição da 8 1/2 Festa do Cinema Italiano.

O Conto dos Contos ou Pantameirão.

O Conto dos Contos é uma livre adaptação do livro O Conto dos Contos ou Pantameirão, do escritor renascentista e napolitano Giambattista Basile. Vale a pena fixar o nome deste autor a quem Italo Calvino chama de ‘Shakespeare napolitano’, que está na base de muitos contos populares e personagens bem conhecidos da tradição europeia, recriados depois por Perrault (e pela Disney e pelo cinema), como entre outros Cinderela ou A Bela Adormecida e até do ogre Shrek.

Vê trailer: O Conto dos Contos

Matteo Garrone parece no entanto ter deixado um pouco de lado o seu realismo ácido, para mergulhar numa mistura de realidade histórica e fantasia, procurando devolver aos contos de fadas, a sua aterradora origem: a perfídia, o macabro e o bizarro, em histórias que na verdade não foram criadas para ajudar as crianças a adormecer. No entanto, os temas abordados, em O Conto dos Contos não deixam de ser familiares a Garrone e aos seus filmes anteriores: não se pode separar o inseparável, a beleza eterna, a perda de poder, o conflito de gerações, o obsessão e a dor de uma mulher que não consegue conceber um filho. E por isso O Conto dos Contos é um filme tão romântico como divertido e tão selvagem como trágico, mesmo sendo um obra insólita e uma verdadeira parada de monstros: há um monstro marinho, uma rainha que devora corações cozidos, um príncipe encantado com as formas grotescas de um ogre disforme, velhas Sherazades que se deixam enfeitiçar por uma ancestral cirurgia plástica, um rei apaixonado por uma pulga mutante, dois gémeos albinos marcados pelo seu nascimento, uma fonte de sangue e vários elementos que deliciam os maiores apreciadores do fantástico e terror.

O Conto dos Contos

Depois tudo é filmado com um impecável rigor histórico, numa mistura de cenários medievais reais com cromáticos, e num discurso que alterna entre o drama ao estilo de Walt Disney e os filmes de terror, com uma belíssima fotografia e uma banda sonora extremamente envolvente. Ou ainda um cruzamento da estética de Pasolini em Decameron ou Os Contos de Canterbury, as turbulentas fantasias de Guillerme del Toro e o fantástico italiano dos anos sessenta onde se destacou o realizador Mario Bava. O elenco não podia ser mais inesperado carregado de estrelas internacionais como Salma Hayek, Toby Jones, John C. Reilly, Vincent Cassel, Stacy Martin, entre outros, que fazem bem  o seu papel, num filme italiano completamente falado em inglês e que curiosamente abre esta Festa do Cinema Italiano. Estreia esta semana nas salas de cinema.

O MELHOR: A magnífica recriação dos ambientes entre a realidade e a fantasia.

O PIOR: O facto de não ser um filme falado em italiano e mais insólito abrir a 8 /12.


 

Título Original: Tale of Tales
Realizador:  Matteo Garrone
Elenco: Salma Hayek, Toby Jones, John C. Reilly e Vincent Cassel 
NOS | Drama | 2015 | 125 min

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JVM

 

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