Operação Eye in the Sky, em análise

Extremamente realista, Operação Eye in the Sky é desde já um dos exemplos firmes do ainda recente panorama cinematográfico de 2016. 

“Na guerra, a verdade é a primeira vítima”, Ésquilo. É assim que começa a arrebatadora experiência cinematográfica de Operação Eye in the Sky, filme realizado por Gavin Hood, responsável pelos igualmente interessantes Detenção Secreta (2008) com Reese Witherspoon, Jake Gyllenhaal e Meryl Streep sobre a detenção de cidadãos americanos que são considerados terroristas e de Tsotsi (2005), protagonizado por Presley Chweneyagae sobre a vida da líder de um gangue da capital da África do Sul. Ora, se formos por aí, imediatamente perceberemos a insistência deste cineasta em trazer ao de cima diferentes e angustiantes realidades, histórias que procuram ser verdadeiras, quando sobrepostas pela hipocrisia de algumas produções de Hollywood.

De facto, Operação Eye in the Sky vai além dos banais e desprovidos happy-endings à la americana e confronta-nos, de forma um quanto inquietante, com os dramas sociais que tendem a ser esquecidos. Se não fosse o cinema garantidamente um veículo denunciador, o impacto deste filme jamais seria o mesmo. Então, de que nos fala Operação Eye in the Sky?

Operação Eye in the Sky

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À primeira vista o seu enredo é bastante simples, embora saibamos que por vezes é na simplicidade de algumas histórias longe dos tão excessivos e dominantes efeitos visuais, que encontramos um espelho dos maiores dilemas da humanidade. Sem prolongar este ponto em demasia basta dizer que Operação Eye in the Sky foca-se numa missão de captura de terroristas em Nairobi – África – e, como tanto se insiste, a palavra-chave desta missão é “capturar”, não é “matar”. Contudo, e como mostrado, a missão tende a descair mais pela segunda opção do que pela primeira. Nesse sentido, somos apresentados a um conjunto de personagens que se encontram em diferentes partes do globo, entre elas a Coronel Katherine Powell (Helen Mirren, na pele de uma mulher convicta nas suas ideias), número dois no comando da operação conjunta entre Estados Unidos e Reino Unido, o seu superior o tenente-general Frank Benson (Alan Rickman, num apelativo sarcasmo britânico), sem esquecer o jovem piloto do drone Steve Watts (Aaron Paul, de Breaking Bad), ou o soldado queniano que se encontra no terreno Jama Farah (Barkhad Abdi, ator de Capitão Phillips), todos motivados em capturar Susan Danford, agora conhecida como Ayesha Al-Hady (Lex King) e o seu marido Abdullah Al-Hady (Dek Hassan), membros da organização terrorista Al-Shabaab. A situação intensifica-se quando este casal reune-se em casa de extremistas islâmicos prontos a servir de bombistas suicidas e eliminar civis. Agora há razão de lançar os mísseis sobre a habitação e eliminar de uma vez por todas os terroristas, no entanto, uma rapariga que diariamente vende pão (esse alimento fundamental à vida) está junto ao local, e pode ser fatalmente atingida…estão a ver como funciona?

Operação Eye in the Sky

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Ora, será preferível matar uma criança para minimizar os danos? Será vantajoso os países aliados deixarem os terroristas escapar, destruir um espaço público em vez de serem responsabilizados e criticados pela morte de alguém inocente? São estas, e outras questões assentes em aspetos sociais, morais, políticos, éticos e militares e que se levantam no decurso da projeção de Operação Eye in the Sky e que vão tentar ser respondidas pelas diferentes personagens. Personagens essas que se ligam, que comunicam melhor dizendo, através da extensa rede cibernética e dos seus respetivos dispositivos e, claro, pela montagem cinematográfica. O seu ritmo frenético, mas bem delineado, move-nos de indivíduos em indivíduos, de chefes disto a chefes daquilo com receio de tomar uma decisão e que debatem a melhor forma de agir neutralmente quando sempre existirão artigos-lei – enfim, tanta burocracia – para o contradizer. Além disso, notamos que esta guerra que o filme indica trata-se de uma guerra de comunicação, centrada na utilização das mais inovadoras tecnologias (neste caso, em drones remotamente controlados) que servem para combater o inimigo a milhares de quilómetros de distância. Em direto e ao lado de políticos sentados confortavelmente, vemos como há um preço para o conflito e que os avanços tecnológicos dificultam cada vez o diálogo frente a frente.

Operação Eye in the Sky

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Por sua vez e para salvaguardar esse enfoque mais realista (coincidência ou não, tendo em conta os atentados terroristas dos últimos dias na Bélgica, no Paquistão, no Iraque reivindicados pelo auto-proclamado DAESH – Estado Islâmico) os protagonistas são de nacionalidades e etnias diferentes. Quem disse que uma britânica não pode ser terrorista? Quem disse que o queniano não pode ser agente secreto? Quem disse que entre muçulmanos não poderão existir cidadãos exemplares? Aqui, pela excelência do argumento de Guy Hibbert, denota-se que o mal não se rotula por um género, raça, religião, etnia mas por atos radicais que se tomam ao longo da vida e que para muitos espetadores é ainda difícil de compreender. É preciso colocar um ponto final dessa associação que o ser humano faz, é preciso dar um passo em frente, um cinema que se afirme social sem princípios nacionalistas, daí a importância de Operação Eye in the Sky. Este arriscado projeto consegue afastar-se dos mecanismos ou de pontos de vista americanizados constatados noutros filmes como 00:30 A Hora Negra (2012), de Kathryn Bigelow ou O Corpo da Mentira (2008), de Ridley Scott e orienta o seu espetador pelo impacto que o conflito tem sobre diferentes pessoas que mais do que tudo são sempre pessoas.

Embora valha de imediato pela sua temática, Operação Eye in the Sky interessa ainda a nível técnico, destaque sobretudo para a banda-sonora de Paul Hepker que tanto nos envolve no ambiente angustiante e tensão dramática, e para a direção fotográfica que comprova o elo entre a sétima arte e outras linguagens audiovisuais.

Enfim, Operação Eye in the Sky é um extraordinário retrato dos dias de hoje, de um problema mundial que parece não dar tréguas, ao mesmo tempo que nos confronta com a complexidade de tomadas de decisões conjuntas, espelho do prolongado debate entre seres humanos.


Título Original: Eye in the Sky
Realizador:  Gavin Hood
Elenco: Helen Mirren, Aaron Paul, Alan Rickman, Barkhad Abdi, Ian Glen, Monica Dolan e Gavin Hood
NOS | Drama, Thriller, Guerra | 2016 | 102 min

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VJ

One thought on “Operação Eye in the Sky, em análise

  • Operação Eye in the Sky: 4*

    Vejam pois é muito mais do que um filme de guerra.

    Cumprimentos, Frederico Daniel.

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