Outlander | Figura de Estilo, T2E05

Manipulações pessoais, furiosas discussões e ressuscitações cruéis caracterizam o último episódio de Outlander. Felizmente, mesmo em momentos de mágoa a série continua a afirmar-se como um glorioso festim visual!

 

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O quinto episódio da presente temporada de Outlander, “Untimely Resurrection” é uma das mais elegantes horas da série até agora. Essa elegância é verificável tanto de um ponto de vista estético, como estrutural e narrativo. Aliás, mais ainda que o isolado esplendor visual dos figurinos, a grande genialidade do trabalho da figurinista Terry Dresbach está no modo como ela complementa e ilustra a evolução e o enredo do episódio. Uma horas em que, depois do desastroso jantar do episódio anterior, Claire e Jamie embarcam em missões diferentes, cada um deles encontrando-se e tentando manipular dois indivíduos. Jamie está a tentar impedir a tragédia coletiva da batalha de Culoden nos seus jogos de influência e mentira, mas Claire, por seu lado, tem motivações muito mais egoístas e moralmente dúbias. Depois do ataque que Mary Hawkins sofreu, Claire está decidida a assegurar que esta se case com o cruel Black Jack Randall, com o intuito de assegurar a existência futura do seu primeiro marido, independentemente do sofrimento que pode germinar de tal união. No final, estas missões encontram-se em mais um dos espetáculos de fausto aristocrático a que esta temporada nos tem vindo a habituar.

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Antes desse esplendor, falemos dos momentos mais íntimos e domésticos do casal Fraser. Por duas vezes vemos Jamie e Claire na intimidade da sua casa na primeira metade do episódio. Em ambas as ocasiões é fascinante observar como os dois protagonistas da série se encontram em estado de desequilíbrio visual. Claire está vestida em robes que copiam as cores dos ambientes que a rodeiam, azul e dourado e mais tarde preto e ouro, visualmente prendendo-a à condição doméstica a que seu sexo a condena no passado. Jamie, contrariamente a Claire, está sempre vestido com roupas de rua, sempre pronto a sair de casa ou acabado de regressar do bordel. O contraste é imenso entre uma figura proactiva e cansada e alguém que quase se funde com a domesticidade pacífica que a rodeia e sufoca.

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Nas suas aventuras individuais, os seus figurinos também se apresentam como marcas de contraste, mas não entre o seio matrimonial. Por seu lado, Jamie encontra-se com o Príncipe Carlos e com o Conde Saint Germain, duas figuras de claro fausto aristocrático, cobertos de bordado, renda e tecidos caros que contrastam com a maior sobriedade que sempre está presente no guarda-roupa deste escocês. O contraste cromático é de particular interesse, sendo que na cena partilhada com o Conde, Jamie está em oposição visual a todo o ambiente envolvente, enquanto o conde, com seus trajes púrpura e ricamente bordados, está perfeitamente no seu elemento.

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Essa escolha cromática nos figurinos do Conde Saint Germain e das prostitutas do bordel é interessante, de um ponto de vista narrativo, pelo modo como é parcialmente emulado por Claire na cena em que esta visita a inocente Mary Hawkins. O contraste entre as duas mulheres não poderia ser maior com Mary nas suas roupas de dormir, xaile tricotado e modesta touca branca, e Claire envergando um redingote simples e de linhas severas, decorado com um alfinete de peito, um lenço masculino e um chapéu de forma exuberante. Severidade quase masculina e vitimização frágil em conflito. Quando se encontra com o jovem irmão de Jack Randall, Claire fica na posição de figura gentilmente feminina, coberta de tecido azul pálido, quase virginal na sua aparência. Nessa ocasião, os visuais contrariam o conteúdo da cena, e chamam a atenção para os comportamentos duvidosos de Claire e suas manipulações.

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Estas duas linhas narrativas unem-se na visita dos Fraser aos estábulos reais, onde ambos são perfeitos peixes fora de água, mostrando-se em abjeta desarmonia para com a aristocracia gálica que os rodeia. Jamie volta a vestir linhas simples e cores terrenas e discretas, sendo que de destacar está o seu rebelde uso do kilt neste contexto faustoso. Claire, pelo contrário, não poderia estar mais exuberante. A cor castanha do seu figurino liga-a a Jamie, mas o padrão floral claramente anacrónico e o uso de berrantes acessórios em amarelo vivo fazem com que ela se assemelhe mais a Joan Fontaine num filme de época que a uma mulher setecentista.

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Veja-se o modo como Claire contrasta com Annalise, amiga de infância de Jamie e nativa de França. A inglesa enverga trajes de gritante estilização em tons quentes e grandes motivos florais, complementado por um chapéu de aba larga. Tendo em conta o estilo da série, a francesa veste um figurino estranhamente fiel a fontes históricas. Em tons de rosa e decorado com renda prateada, o conjunto é completado com um pequeno chapéu tricórnio. Apenas as escolhas de tecido unem as duas mulheres em termos de fidelidade histórica, sendo a seda dupioni de Annalise e o tecido floral de Claire escolhas igualmente distantes da realidade histórica dos têxteis setecentistas.

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Interessantemente, são os homens desta sequência quem mais exige a atenção dos olhos da audiência e não as exuberantes indumentárias femininas. Veja-se o momento em que Claire primeiro vislumbra Jack Randall no seu uniforme militar, em tons escuros de azul e sanguíneo vermelho. Mais tarde na cena, Jamie, o rei Luís XV e sua guarda real juntam-se a este encontro, iniciando um jogo de cortesias falsas e reforço de hierarquias sociais. A figura real, também em traje militar, é como um pavão em forma humana, coberto em cores garridas e simbologia monárquica, uma imagem idealizada de masculinidade poderosa que se impõe tanto à sanguínea qualidade de Randall, como à feminilidade floral de Claire e sobriedade de Jamie.

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No episódio anterior um vestido formal vermelho passou de uma imagem de poder a um símbolo de insegurança. Nesta hora, as roupas de Claire e Jamie, apesar de inicialmente os destacarem como figuras de carisma e confiança no meio do tableau real, rapidamente os marcam como figuras incongruentes e fora da sua zona de conforto. No meio de poder militarista em exuberante espetáculo, os dois heróis de Outlander são figuras que quase parecem transmitir uma desconcertante vulnerabilidade.

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Este episódio acaba com uma volátil discussão entre Claire e Jamie e para a semana parece que poderemos esperar mais lágrimas. No entanto, juntamente com dolorosas mágoas também teremos o prazer de ver como Claire enverga as mais sofisticadas modas maternais do século XVIII.


 

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