Óscares 2017 | Stuart Craig

Um absoluto mestre da sua arte, Stuart Craig é o lendário cenógrafo que passou a última década a trazer o universo Harry Potter para o grande ecrã.

 


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O HOMEM ELEFANTE (1980) de David Lynch

 

Ao contrário dos outros profissionais de cinema cujas carreiras explorámos, até agora, nesta lista, o cenógrafo britânico Stuart Craig está longe de ser um indivíduo pouco celebrado pela Academia de Hollywood. Com apenas trinta longas-metragens com cenários concebidos por Craig, este cenógrafo já arrecadou onze nomeações para os Óscares e venceu por três vezes o prémio mais cobiçado de Hollywood. Honras e respeito profissional não lhe faltam mas seria erróneo pensar que toda esta aclamação não é merecida pois Craig é basicamente uma lenda viva entre cenógrafos, sendo conhecido pelas suas opulentas criações para filmes de época e fantasias britânicas, tão faustosas e ricas em detalhe como inteligentes e criativas.

 

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GANDHI (1982) de Richard Attenborough

 

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A MISSÃO (1986) de Roland Joffé

 

A sua relação com os Óscares começou logo no primeiro ano em que ele trabalhou como cenógrafo principal em cinema, 1980. O filme que lhe valeu essa primeira indicação foi O Homem Elefante de David Lynch, um pesadelo histórico vitoriano filmado a preto-e-branco e com cenários que misturam o verismo histórico com uma teatralidade trespassada pela bizarria usual do realizador. Dois anos depois, Craig ganhou o galardão pela sua terceira longa-metragem enquanto cenógrafo, o épico histórico Gandhi, em que Craig foi responsável pela recriação de dezenas, talvez centenas de espaços que incluíram humildes bairros indianos, opulentos escritórios imperiais, monumentais tendas, prisões delapidadas e até a austeridade dos ambientes domésticos em que Mahatma Gandhi vivia sua existência fora do olhar do público.

 

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LIGAÇÕES PERIGOSAS (1988) de Stephen Frears

 

A história de amor entre os Óscares e os filmes de época desenhados por Stuart Craig lá continuou pela década de 80 e 90. Em 1986, as marcas de colonização europeia e dos missionários católicos na Amazónia valeram a Craig uma nomeação por A Missão. Dois anos depois, os requintados interiores setecentistas de Ligações Perigosas valeram-lhe o segundo galardão. Saindo um pouco do panorama da história Europeia, Craig foi também nomeado pela sua recriação da Hollywood dos anos 20 em Chaplin de 1992. O terceiro Óscar não demorou muito tempo a cair nas mãos de Craig que arrecadou esse particular prémio pelos seus esforços em O Paciente Inglês, um filme que exigiu ao cenógrafo a criação do glamouroso mundo dos oficiais europeus a viver no Egito dos anos 30 e também a visão de uma Itália reduzida a ruínas fumegantes durante o auge da Segunda Guerra Mundial.

 

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O PACIENTE INGLÊS (1996) de Anthony Minghella

 

Apesar da abundância de nomeações para os Óscares pelo seu trabalho em vistosos dramas de época, a filmografia de Craig denota mais variedade do que possa inicialmente parecer. O seu primeiro filme, antes de O Homem Elefante foi Saturn 3, uma aventura de ficção-científica, por exemplo, e houve projetos em que Stuart Craig desenhou cenários para ambientes completamente contemporâneos como aconteceu em Notting Hill de 1999. Uma coisa é certa, o seu trabalho é sempre impecável, detalhado e perfeito para os filmes em questão. Tudo isso deverá ter estado na mente dos produtores e cineastas que convidaram Craig para desenhar os cenários para o primeiro filme da saga Harry Potter que estreou em 2001.  Foi bem pensado, e Craig mostrou o seu valor, virtuosismo e criatividade ao criar um inteiro mundo de feiticeiros, sua cultura e particular estética de raiz.

 

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Os filmes da saga HARRY POTTER (2001-2011)

 

De todos os criativos responsáveis pela saga Harry Potter, Craig é a única pessoa que, até agora esteve envolvido em todos os filmes e a própria J.K. Rowling reconhece os seus méritos, tendo exigido que Craig estivesse envolvido na criação do Parque de Diversões da Universal pois apenas ele teria a capacidade para criar os espaços característicos do mundo originalmente visionado pela autora. É fácil entender essa exigência pois é impossível imaginar o mundo deste universo sem pensar nas criações de Stuart Craig que, tendo começado a vida profissional como um desenhador num atelier de arquitetura, usou o seu conhecimento e paixão por História de Arquitetura para criar os estilos híbridos que, apesar de tudo, parecem sempre ancorados numa realidade específica e estranhamente credível. Poderíamos escrever páginas e páginas sobre os numerosos cenários individuais que Craig edificou, como os vários espaços de Hogwarts, o Ministério da Magia, a Toca, o Orfanato de Voldemort, Hogsmeade, os esconderijos dos Horcruxes, Diagon Alley e por aí a fora, mas convém falar um pouco do filme que garantiu ao cenógrafo uma nomeação para os Óscares deste ano.

 

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MONSTROS FANTÁSTICOS E ONDE ENCONTRÁ-LOS (2016) de David Yates

 

Apesar de Stuart Craig ter dedicado a última década da sua vida à saga Harry Potter, a Academia de Hollywood ainda não premiou nenhum dos seus esforços para a saga de fantasia com nenhum galardão. Isso poderá mudar este ano, pois Craig está presentemente indicado pelos cenários que criou para o recente spin-off do universo de J.K. Rowling, Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los. Longe do neogótico vitoriano e suas sonhadoras permutações, os novos cenários americanos desta aventura passada nos anos 20 tomam sua principal inspiração da Arte Deco da época, com alguns apontamentos mais românticos inspirados na arquitetura típica da cidade de Nova Iorque e suas igrejas. Cheio do tipo de detalhes deliciosos que marcam presença assídua em todos os trabalhos de Stuart Craig, Monstros Fantásticos é um festim visual que, apesar de tudo, é tristemente afetado por um abusivo uso de efeitos digitais que dão a todo o filme uma pátina de polidez plástica ausente dos filmes centrados nas aventuras de Harry Potter.  Mesmo assim, quase ninguém se ousaria a criticar a Academia por dar mais um Óscar a este incontestável mestre da sua arte.

 

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MONSTROS FANTÁSTICOS E ONDE ENCONTRÁ-LOS (2016) de David Yates

 


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Na próxima página, vamos explorar a carreira de outra das pessoas responsáveis pelo visual fantasioso de Monstros Fantásticos. Não percas!

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