Top 2015, guarda-roupas | 01. Cinderela
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A nova versão que a Disney produziu da intemporal história de Cinderela é um delicioso conto de fadas cinematográfico que contém o mais fabuloso dos guarda-roupas do cinema de 2015.
Cinderela, realizado por Kenneth Branagh, não é um dos mais complexos filmes do ano, mas é, sem sombra de dúvida, um dos mais deslumbrantes. A cenografia foi concebida pelo lendário cenógrafo italiano Dante Ferretti, que já trabalhou com mestres como Fellini, Pasolini e Martin Scorsese, e os figurinos tiveram direito a um nome de equivalente magnificência e génio, Sandy Powell.
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Powell iniciou a sua carreira cinematográfica como a figurinista de eleição para Derek Jarman, um dos grandes autores avant-garde do cinema britânico nas últimas décadas do século passado. Desde então, Sandy Powell tem tido uma das invejáveis filmografias de qualquer figurinista de cinema, tendo trabalhado numa série de esplendorosas obras, realizadas por alguns dos maiores mestres do cinema contemporâneo. A mestria no uso dos materiais, da cor e na estilização de silhuetas de época têm marcado o seu trabalho, pelo que seria difícil encontrar uma melhor escolha para vestir o elenco do mais extravagante conto-de-fadas alguma vez filmado pelos estúdios Disney.
Inspirando-se numa genial mistura de elementos do século XIX e do glamour dos filmes americanos dos anos 40 e 50, Powell concebeu um guarda-roupa que foge a quaisquer noções de realismo ou credibilidade, aplicando uma lógica mais próxima do cartoon do que da reprodução de época. Ao mesmo tempo que a figurinista deu asas à sua imaginação com o apoio de um dos mais poderosos estúdios da atualidade, Powell não descurou em termos dramatúrgicos, nunca permitindo que o filme se torna-se um simples desfile de estonteantes modas fantasiosas.
Nenhuma personagem expõe melhor a genialidade que Powell mostra em Cinderela, que Lady Tremine, interpretada por Cate Blanchett. A atriz australiana parece ser Joan Crawford saída de um melodrama de outrora, com uma silhueta que nunca varia, como numa animação tradicional, e uma enorme atenção dada aos mais minúsculos detalhes das suas glamourosas indumentárias. O seu mais memorável figurino é o da sua entrada, pontuado por acídicos verdes, um chapéu de formidável dramatismo e um motivo floral estilizado que parece subverter a estética que domina o vestuário de Cinderela e sua falecida mãe.
Há muitos outros figurinos de absoluta magnificência no guarda-roupa de Cinderela, como o vestido de traços rococós da fada-madrinha, ou as hilariantes explosões de mau gosto que vestem Anastasia e Drizella, mas o mais inesquecível e icónico conjunto de todo o filme será, sem dúvida, o vestido azul que Ella enverga para o baile em que acaba por perder um dos sapatos de cristal.
Feito de numerosas camadas de tecido, tingido em variadas tonalidades cromáticas, este colossal vestido é uma das mais luminosas joias no currículo de Sandy Powell. A cor que emerge da complicada conjunção de materiais é um azul elétrico e intenso que se destaca, mesmo por entre o arco-íris de opulência que é o baile em que se insere, e a sua relativa simplicidade conferem-lhe uma elegância inesperada e um poder iconoclasta admirável. As delicadas borboletas que adornam o decote do vestido, e o polvilhar de cristais Swarowski são os toques finais desta obra-prima do vestuário de cinema.
O trabalho de Powell em Cinderela será certamente um dos guarda-roupas reconhecidos pelos Óscares em janeiro, sendo que a figurinista terá a oportunidade de arrecadar duas nomeações, tendo também desenhado os glamourosos figurinos para Carol que, infelizmente, só estreia em Portugal em fevereiro. Não percas esse filme, ou os restantes trabalhos desta deusa dos figurinos!
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