Cinema Europeu? Sim, Por Favor | O Principezinho


Foi em 1943 que Antoine de Saint-Exupéry publicou aquela que é uma das obras mais bonitas e despretensiosas que a sociedade global já conheceu. O Principezinho narra a história de uma criança muito especial que viaja entre planetas distintos e descobre um particularmente estranho – o nosso – onde desvenda mistérios relativos à existência, à amizade e, fundamentalmente, ao amor.

 

FICHA TÉCNICAO Principezinho

Título Original: The Little Prince
Realizador: Mark Osborne
Elenco: Jeff Bridges Jeff Bridges, Marion Cotillard, James Franco, Mackenzie Foy, Rachel McAdams, Paul Rudd.Género: Animação
PRIS Audivisuias | 2015 | 108 min[starreviewmulti id=18 tpl=20 style=’oxygen_gif’ average_stars=’oxygen_gif’] 

No grande ecrã, é no século XXI que Mark Osborne toma as rédeas de um projeto que desenvolve um filme de animação baseado na obra do autor francês, que não sabemos bem como tardou a ser representada, mas até o podemos desvendar aqui.

Com argumento de Irena Brignull e Bob Persichetti, The Little Prince, apesar de ser uma produção francesa, foi dobrado em inglês na versão original – uma opção de marketing aceitável que se desculpa ligeiramente devido à presença de uma banda sonora que apresenta óculos escuros na cara e uma baguete debaixo do braço.

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Planear, planear, planear. Horários, agendas, planear – check, check, check, por fazer…?! Planear outra vez. Check.

É num mundo de adultos demasiado compulsivos e cegos com os seus deveres e falsas ambições para uma causa que eles próprios não conhecem muito bem, que vive uma pequena rapariga de cabelos negros e olhos invulgares com uma mãe obcecada pelo seu futuro. Numa amálgama doentia e enfadonha, entre estudo compulsivo e horários calculados ao segundo, a pequena muda-se para uma nova casa e vizinhança onde conhece um velhote carismático com uma veia de estranha loucura.

Apesar de ter resistido ao instinto inicial pela descoberta do desconhecido, a rapariga acaba por ceder ao individuo peculiar devido a uma história que a deixou sonhar acordada – e, podendo ter respostas da própria fonte e em primeira mão, para quê ignora-las?

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O Principezinho revela-se na sua originalidade através dos contos do Aviador – o estranho vizinho –, que relata a sua experiência maioritariamente na terceira pessoa, mas com toda a emoção de narrador autodiegético. Criando a ponte entre o mundo moderno e a fantasia, a obra de Saint-Exupéry é amorosamente espelhada no ecrã através de uma animação mais abstrata e difusa, aproveitando, como não poderia deixar de ser, os traços das aguarelas originais do autor.

É com as histórias do Aviador que conhecemos, de acordo com a aura da obra, o mundo (ou os vários mundos) do Principezinho, um pequeno rapaz capaz de ver 44 pores-do-sol, que conhece uma bela flor mas que foge dela por, no fundo, não saber amar – apesar de sentir amor.

Nesta viagem de hétero e autoconhecimento, o Principezinho visita planetas divergentes do seu, onde conhece adultos demasiado esquisitos para poderem ser levados a sério, excessivamente preocupados com dinheiro, vaidade e poder – coisas que nada significam. Eternamente atuais, as simbologias da narrativa vão surgindo como borboletas a abandonar o casulo – simples e naturalmente.

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Quando está demasiado envolvida na história do Aviador e absorve as suas mensagens para o seu mundo real, a pequena rapariga apercebe-se da farsa que a rodeia e da pouca importância de tudo aquilo que deseja conquistar. É a partir deste clique em forma de eureka que a narrativa do filme se dissolve e foca na cumplicidade que os dois novos amigos desenvolvem através da partilha das aventuras. Com o auxílio de uma bonita fábula sobre o amor e a solidão, a rapariga encontra tudo o que é realmente importante: as coisas únicas, mas únicas para nós. Que apenas conseguimos ver com o coração – l’essentiel est invisible pour les yeux.


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A última meia hora do filme torna-se, infelizmente, anticlimática. No derradeiro ápice do climax, onde a heroína vai em busca da salvação simbólica para devolver o espírito ao seu velho amigo, o registo adotado demonstra-se demasiado eufórico e imaturo. Apesar de ser compreensível que a abordagem do filme tenha, claro está, um público-alvo infantil – a história do livro não o tem tanto, sendo ambígua, merecia um tratamento mais consistente e emocional.

Sublinhe-se, contudo, que esta opinião provém de uma apaixonada pela obra que aceita de braços abertos a pseudo-adaptação, e aconselha a qualquer cinéfilo.

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