Cinema Europeu? Sim, Por Favor | Carnage


Carnage, ou nacionalmente falando, O Deus da Carnificina, exercita os nervos mais profundos de qualquer ser humano que se disponha a sobreviver na maré de atentados morais e presunções éticas individualizadas.

 

Carnage é baseado no texto teatral Le Dieu du Carnage da autoria da francesa Yasmina Reza, e foi realizado pelo parisiense de nascimento mas polaco de sangue Roman Polanski. Proibido de entrar em território norte-americano desde a década de 70 devido a um irremediável escândalo pelo qual se recusa a dar a cara, Polanski continuou dentro da indústria do cinema e, mesmo após os grandes sucessos nos Estados Unidos (Repulsion, Rosemary’s Baby, Chinatown), o seu talento cinematográfico mantém-se indiscutível aqui pela Europa.

A narrativa da penúltima película (até à data) do realizador tem origem numa briga entre os jovens de 3º ciclo Zachary e Ethan – de onde Ethan saiu com saldo negativo ao nível da dentição –, que origina a reunião parental mais inédita e aparatosa que os amantes de entretenimento poderiam solicitar.

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A premissa do encontro, que tinha a intenção inicial de debater os acontecimentos entre os respetivos filhos, torna-se rapidamente num duelo verbal onde o casal hospedeiro (Penelope e Michael, protagonizados por Judie Foster e John C. Reilly) simula um ar mais dócil e protetor, procurando a intenção de um pedido de desculpas à injúria ao seu filho Ethan, enquanto Nancy e Alan (Kate Winslet e Christoph Waltz) têm uma posição mais descuidada e se recusam a aceitar que foi apenas o seu filho o único malfeitor na trama inteira.

Com apenas 80 minutos de duração e um único cenário que se mantém fixo durante toda a ação, o filme de 2012 abre-nos a porta para uma discussão deliciosa entre dois casais que raramente se alimentam do mesmo motor, desfilando pelo tema bicudo da moralidade e criando espaço para o conhecimento mútuo das suas personalidades – que se revelam em competição ao nível do absurdo, atingindo o nível máximo de caos que é possível alcançar num só apartamento.

Coproduzido por França, Alemanha, Polónia e Espanha, Carnage mereceu várias nomeações em festivais de cinema europeu e proporcionou a Polanski o prémio de Melhor Realizador no 60º Festival Internacional de Cinema de Berlim, em 2011.

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