via Cinemateca Portuguesa

15ª Festa do Cinema Italiano | Universo Pasolini

A 15ª Festa do Cinema Italiano regressará em abril de 2022 e vai realizar uma homenagem a Pier Paolo Pasolini, que regressa também à Cinemateca Portuguesa—Museu do Cinema, no ano em que se comemora o centenário do nascimento do cineasta.

Uma grande viagem ao ‘Universo Pasolini’ com cerca de uma dezena de filmes d o cineasta italiano Pier Paolo Pasolini (1922-1975) vai realizar-se nas salas da Cinemateca Portuguesa—Museu do Cinema, no âmbito da 15ª Festa do Cinema Italiano. Serão apresentados mais de uma dezena de títulos em que o cineasta colaborou; ou outros que foram inspirados pela vida e obra do realizador italiano. A Cinemateca Portuguesa—Museu do Cinema já lhe fez uma retrospectiva integral em 2006, ocasião em que foi editado mesmo um excelente catálogo bio-filmiográfico. Desta vez, para além da exibição dos filmes de Pier Paolo Pasolini, como realizador e teremos oportunidade de assistir a obras onde colaborou como argumentista ou que foram inspiradas pela sua vida e obra como autor; serão também apresentados, documentários, curtas e longas-metragens, num total de quase 25 filmes. Na Culturgest, passarão alguns filmes, mas haverá ainda espaço para a realização de encontros, conversas, debates, e a estreia de um espectáculo de teatro: Orgia’, de Pier Paolo Pasolini, com encenação de Nuno M. Cardoso; além de várias leituras centradas no universo poético e político, de um dos mais importantes intelectuais do século XX. Igualmente, a partir de Abril, em colaboração com a distribuidora italiana Risi Film, estarão em exibição comercial, com novas cópias restauradas nas principais salas do País, (e em estreia obviamente na 15ª Festa do Cinema Italiano), alguns dos mais emblemáticos, marcantes e extraordinários filmes de Pier Paolo Pasolini‘Accattone’ (1961), ‘Mamma Roma’ (1962), ‘Assembleia de Amor’ (1964) e ‘O Evangelho Segundo S. Mateus’ (1964), ‘Passarinhos e Passarões’ (1966) e ‘Édipo Rei’ (1976).

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VÊ TRAILER DE ‘PASSARINHOS E PASSARÕES’ (1966)

O CORSÁRIO DA CULTURA

Pier Paolo Pasolini nasceu a 5 de Março de 1922 em Bolonha. Filho de um militar, seguiu a família nas mudanças de unidades militares pelo país, mas frequentou o liceu e a faculdade em Bolonha, onde teve como mestres alguns dos maiores intelectuais italianos da época como: o crítico literário Gianfranco Contini (1912-1990) e o historiador de arte Roberto Longhi (1890-1970); e teve amigos como os poetas e activistas culturais Francesco Leonetti (1924-2017) e Roberto Roversi (1923-2012). Até à sua licenciatura, em 1945, sobre a linguagem do poeta Giovanni Pascoli (1855-1912). Quando pequeno, Pasolini passava as suas férias de verão em Casarsa, na região do Friuli, cidade de onde era natural a sua mãe, uma região no nordeste da Itália que faz fronteira com a Áustria, a Eslovênia e o Mar Adriático e onde se situam as Montanhas Dolomitas. Foi aí mesmo, neste lugar isolado, que se refugiou depois do 8 de Setembro de 1943, dia em que a Itália se rendeu e permitiu aos aliados entrarem no seu território. Benito Mussolini tinha sido deposto pelo rei Victor Emanuel III e preso. Porém foi mais tarde libertado pelos alemães, dividindo a Itália ao meio. Pasolini procurou escapar à mobilização do exército e escapar  a um país dividido entre os fascistas a norte liderados por Mussolini e o sul sob comando das forças monarquistas e liberais, lideradas por Badoglio. Entretanto, foi isolado e no campo, que Pasolini teve um dos seus princípios e momentos criativos: compôs os seus primeiros poemas em dialecto friulano: ‘Poesie a Casarsa’ (1942), publicados mais tarde juntamente com outros textos friulanos na colectânea ‘La Meglio Gioventù’ (1958). Em 1945 soube que o irmão mais novo Guido tinha sido morto num conflito entre dois grupos de partigiani, (guerrilheiros anti-fascistas), com ideologias políticas diferentes. Em 1947, Pasolini inscreveu-se no Partido Comunista Italiano. Depois de ter encontrado trabalho como professor, numa aldeia perto de Casarsa, foi despedido e logo a seguir expulso do PCI por um obscuro episódio de homossexualidade, que lhe causou um processo de desvio de menores. Esse foi o primeiro de uma longa lista de processos (mais de 30) que deram a Pasolini a consciência da sua diversidade, opção sexual e que marcaram o seu destino até à morte (e até o seu papel público, que ele próprio criou) de marginalizado, rebelde e perseguido pela justiça italiana. Devido ao escândalo, em 1949 teve de deixar Casarsa, com a mãe — a relação com o pai há muito que estava comprometida —, e mudou-se para Roma, vivendo primeiro num bairro de periferia, ganhando a vida dando explicações e ensinando em escolas particulares. A descoberta do mundo do sub-proletariado romano inspirou-lhe – para além de poemas contidos em ‘As Cinzas de Gramsci’ (1957) e ‘A Religião do Meu Tempo’ (1961), escritos depois de ‘O Rouxinol da Igreja Católica’ (1943-1949,) – sobretudo os romances ‘Vadios’ (1955) e ‘Uma Vida Violenta’ (1959), que provocaram grande escândalo, mas asseguraram-lhe o primeiro êxito literário. Com os seus antigos colegas da faculdade Leonetti e Roversi fundou e dirigiu entre 1955 e 1959 a revista Officina, que contou com outros tantos intelectuais de renome como: Frotini, Volponi e outros importantes estudiosos e críticos militantes como colaboradores.

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VÊ TRAILER DE ‘DECAMERON’ (1971)

Entretanto começou a sua actividade no mundo cinematográfico: colaborou em alguns argumentos para cinema (entre os quais ‘As Noites de Cabiria’, de Federico Fellini), e a partir de 1961 realizou os filmes como ‘Accattone’, ‘Passarinhos e Passarões’ (Uccellacci e Uccellini), ‘Édipo Rei’, ‘Medea’, ‘Decameron’, ‘Salò ou os 120 Dias de Sodoma’. Muitos desses filmes provocaram grandes escândalos que custaram ao seu realizador outros processos judiciais. Nos anos 60, publicou ‘Il Sogno di Una Cosa’ (escrito em 1949), mais poemas (‘Poesia em Forma de Rosa’, ‘1964’, ‘Transumar e Organizar’, ‘1971’), e foi muito activo como crítico militante em vários diários e revistas (entre outras, dirigiu a ‘Nuovi Argomenti’, com Alberto Moravia e Giovanni Carocci), actividade que, depois da colecção ‘Passione e Ideologia’, deu vida a muitas publicações, parcialmente póstumas: ‘Empirismo Herético’ (1972), ‘Escritos Corsários’ (1975), ‘Descrizioni di Descrizioni’ (1979). Uma antologia da sua poesia foi editada em 2005 na editora portuguesa Assírio e Alvim. A sua produção teatral também é imensa: são seis tragédias,  inspiradas nos clássicos greco-latinos, escritas entre 1966 e 1974: ‘Calderón’, ‘Afabulação’, ‘Pilades’, ‘Pocilga’, ‘Orgia’ — esta que vai ser apresentada na Culturgest — e ‘Besta de Estilo’. Pier Paolo Pasolini morreu assassinado num campo em Óstia, a praia nos arredores de Roma, em circunstâncias misteriosas em 1975. 

15ª Festa do Cinema Italiano

No âmbito da comemoração do centenário do nascimento de Pier Paolo Pasolini (1922-1975), a 15ª Festa do Cinema Italiano e a Cinemateca Portuguesa—Museu do Cinema, prestam assim uma homenagem ao poeta, dramaturgo, escritor e realizador, apresentando esta ampla retrospectiva em abril próximo. Em Lisboa, a 15ª Festa do Cinema Italiano, acontece de 1 a 10 de abril, em quatro salas: Cinema São Jorge, UCI El Corte Inglés, Cinemateca Portuguesa e Culturgest. Como habitualmente, o festival acontece em mais de dez cidades portuguesas, estando já confirmada a realização a partir de abril no Porto, Coimbra, Cascais, Setúbal, Penafiel, Alverca do Ribatejo, Beja, Aveiro, Leiria, Tomar, Almada, Caldas da Rainha, entre outras. A programação 15ª Festa do Cinema Italiano será anunciada na próxima sexta, 4 de Março.

JVM

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