69º Festival de Cannes (Dia 8) | Retratos da Corrupção

Mais um retrato da violência, pobreza e corrupção no terceiro mundo em Ma’Rosa, pelo olhar do filipino Brillante Mendoza; os irmãos Dardenne regressaram desta vez e sempre ao seu estilo com La Fille Inconnu, um filme sobre a ética médica.

Ma'Rosa

Ma’Rosa de Brillante Mendoza (Filipinas) com Jaclyn Jose, Andi Eigenmann, Julio Diaz (competição)

A história: Ma’Rosa (Jaclyn Jose) é uma mãe de quatro filhos dona de uma pequena mercearia num dos bairros pobres de Manila, onde toda a gente a conhece e admira. Para fazerem face às despesas Rosa e o marido (Julio Diaz) são revendedores ilegais de estupefacientes e um dia acabam ambos presos por denúncia. Face à corrupção policial, os filhos de Rosa vão fazer tudo para conseguirem libertar os pais.

Vê trailer de Ma’Rosa 

A análise: Depois de Serbis (2008), Kinatay (Prémio de Realização 2009) e Taklub, estreado aqui ano passado na Un Certain Regard, Brillante Mendoza regressou à competição de Cannes com este Ma’Rosa, um tocante drama familiar, em jeito de thriller, sobre uma família de comerciantes que luta para sobreviver nas pobres e apinhadas ruas de Manila, algo que poucos ocidentais têm noção, sobre as condições de vida dessas pessoas.

Ma'Rosa

Ma’Rosa segue o habitual registo hiperactivo do realizador, com a câmera sobre os rostos suados dos protagonistas, que deambulam no meio da multidão e do calor húmido da escura e poluída cidade, numa espécie de contaminação entre o documentário e ficção. Destaque para as notáveis interpretações para os rostos marcados de Jaclyn Jose, que já teve papéis secundários em outros filmes de Mendoza, (Tirador e Serbis) e para Julio Diaz, um parceiro habitual do realizador manilense. Um filme que vale sobretudo pelo drama exposto e pela sua insistente reflexão, sobre as desigualdades no mundo e a corrupção generalizada.

La Fille Inconnue

La Fille Inconnue de Jean-Pierre e Luc Dardenne (Bélgica) com Adèle Haenel, Olivier Bonnaud, Jérémie Renier (competição)

A história: Num final de tarde, quando se preparava para fechar o consultório Jenny  (Adèle Haene), uma jovem médica de clínica geral, ouve um toque mas decide não abrir a porta. No dia seguinte a policia bate-lhe à porta, informa-a de que encontrou, não muito longe de ali, o corpo de um  jovem rapariga negra, não identificada e que por acaso estava registada na video-vigilância do consultório. Um mistério que vai causar alguns problemas a Jenny.

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A análise: O novo filme dos Irmãos Dardenne, intitulado La Fille Inconnue, começa aparentemente ao ritmo de um thriller policial sobre a crónica de um assassinato e um corpo desconhecido. Mas com muitas hesitações (talvez até demais), acaba por se tornar antes um filme, e talvez mais ao jeito foi activismo social dois realizadores, um drama sobre a ética profissional, já que a consciência da jovem e competente médica é posta em causa quando por acaso um dia e no final do seu árduo trabalho se recusa a dar assistência a uma paciente que aparece pouco tempo depois morta.

La Fille Inconnue

Também nada de novo em relação a este La Fille Inconnue, que segue o habitual registo de crónica social documental de uma câmera nevrótica que segue os protagonistas até à exaustão. Destaque para a competência e serenidade da bela e clássica protagonista Adèle Haenel (L’Apolonie), ao lado de alguns dos actores habituais dos Irmãos Dardenne, como Jérémie Renier ou Olivier Gourmet.

JVM

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