Moon, 66 Questions

71ª Berlinale: A Selecção de filmes das Encounters e Panorama

Foram anunciadas esta manhã, surpreendentemente as extensas programações da secções Encounters e Panorama da 71ª Berlinale, que acompanharão a competição principal, desta vez online e que será anunciada amanhã.

Recuperando o seu sentido de descoberta de novos valores, a nova secção competitiva  lançada em 2020,  a secção Encounters regressa à 71ª Berlinale  com o seu objectivo de apoiar as novas vozes no cinema e dar mais espaço às diversas formas narrativas e documentais na seleção oficial, complementando a mais importante: a Competição Oficial. Um júri de três membros voltará a escolher pela segunda vez os vencedores de Melhor Filme, Melhor Realizador e Prémio Especial do Júri,— secção onde a ‘Metamorfose dos Pássaros’ de Catarina Vasconcelos, ganhou o Prémio Fipresci — e anuncia-los-á durante o evento da indústria da Berlinale em inícios de março. A entrega dos prémio só acontecerá no Summer Special em junho. O line-up deste ano da Encounters é composto por doze filmes de 16 países, dos quais sete são estreias absolutas. ‘Cada filme desta segunda edição da Encounters é uma linha que atravessa um campo desconhecido. Se algo se relaciona com essas realizações cinematográficas muito diversas, é sem dúvida uma sensação de descoberta. Como os irmãos Lumière 125 anos depois. Esses filmes levam-nos a lugares onde aprenderemos algo sobre o mundo, sobre a humanidade e talvez também sobre nós mesmos. Numa época em que as viagens quase sempre são canceladas, o cinema recupera a sua função’, afirmou o diretor artístico Carlo Chatrian, numa nota enviada à imprensa para justificar esta seleção.

71ª Berlinale
Hygiène sociale (Social Hygiene) [Canadá] de Denis Côté

Seja na praça Tahir no Egito ou nos escritórios, nos hotéis e nas mansões de Los Angeles, no coração da sombria ditadura argentina ou nas maravilhas naturais do Havaí, no passado da aristocracia do Báltico ou numa Teerão futurista, um apartamento suíço comum, mas de sonho, ou um apartamento mal-assombrado no Upper East Side de Manhattan, numa casa grega burguesa ou numa prisão doméstica em Saigão, nos subúrbios de Paris ou nos campos do Quebec rural, a jornada dos Encounters parece ter muitas paragens, por esse mundo fora. Não apenas viajar por esses lugares onde pessoas sofrem, sonham, trabalham, conversam, cantam e dançam, mas antes quase conviver com elas. Através da arte de cineastas descomprometidos — habitués ou recém-chegados à Berlinale, formados em prestigiadas escolas de cinema europeias ou então autodidatas do Vietname. O velho, contraditório e louco mundo que vivemos, conhecemos, amamos e sentimos, regressa aos nossos horizontes cinéfilos, e parece estar na essência desta programação dos Encouters 2021. O destaque vai para a inclusão de dois filmes de realizadores consagrados: Hygiène sociale’ (Social Hygiene) [Canadá] de Denis Côté e o documentário Nous’ (We) [França] de Alice Diop. Os restantes são estreias mundiais e primeiras obras: o documentário As I Want’ [Egito/França/Noruega/Palestina], de Samaher Alqadi; Azor’[Suiça/França/Argentina], de Andreas Fontana; The Beta Test’ [EUA /Reino Unido] de Jim Cummings e PJ McCabe; Blutsauger’ (Bloodsuckers) [Alemanha], de Julian Radlmaier, H Das Mädchen und die Spinne’ (The Girl and the Spider) [Suiça], da dupla Ramon Zürcher e Silvan Zürcher, Mantagheye payani’ (District Terminal) [Irão/Alemanha], de Bardia Yadegari, Ehsan Mirhosseini; Moon, 66 Questions’ [Grécia/França], de Jacqueline Lentzou, dois filmes norte-americanos, um experimental Rock Bottom Riser’ [EUA] de Fern Silva e The Scary of Sixty-First’[EUA], de Dasha Nekrasova, e por último Vị’ (Taste) [Vietname/Singapura/ França/ Tailândia /Alemanha /Formosa), de Lê Bảo.

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Quanto ao Panorama 2021, concebido sobre o tema ‘Entre a Dúvida e a Revolta : um olhar crítico sobre as relações de poder, a programação deste ano, caracteriza-se por um cinema político e combativo, segundo os seus responsáveis. Poderoso olhares de cineastas do novo cinema crítico do Médio Oriente, narrativas indígenas e propostas de filmes queer, definem os pontos-chave desta programação 2021. ‘Os cineastas revelam nesta progrmação, os seus pontos de vista, refletindo-os sobre os conflitos individuais e os traumas coletivos, ao mesmo tempo que questionam as relações de poder político e interpessoal, desafiando os outros a responderem’, refere Michael Stütz, o agora responsável por esta secção, desde o ano passado. Entre os destaques à programação como convidado do Panorama está o novo filme do realizador francês Damien Odoul: ‘Théo et les métamorphoses’, bem como um drama intitulado ‘Okul Tıraşı’ (Brother’s Keeper), do cineasta turco Ferit Karahan, um filme sobre as dificuldades no dia-a-dia dos estudantes curdos num internato, localizado nas terras altas da Anatólia. Um destaque também para os fãs do terror será apresentado o primeiro tomo de ‘Censor, de Prano Bailey-Bond, de uma possível saga que já foi amplamente antecipada e é mito aguardada pelos media. O cinema alemão nesta secção panorama, olha para o passado com ‘Genderation’, de Monika Treut, em que a realizadora viaja para os EUA para procurar os pioneiros e os ativistas transgêneros que inicialmente apareceram em seu filme anterior ‘Gendernauts’. 20 anos depois da estreia do seu filme anterior no Panorama e de um Prémio Teddy, ‘Genderation’ não traça apenas planos de vida alterados pelo sistema, mas pinta igualmente um incisivo retrato dos EUA, no final da era Trump. Em ‘Die Welt wird eine andere sein (Copilot)’, de Anne Zohra Berrached, que já esteve na competição da Berlinale com ’24 Semanas’, explora agora a história de Asli, uma jovem estudante, que se encontra presa entre o desejo de se afirmar, e por outro lado agradar à sua família tradicional e seu abnegado amor por Saeed. A cineastas Henrika Kull regressa com um estudo de personagem, na sua segunda estreia no Panorama: ‘Glück’ (Bliss) que conta a história de Maria e Sascha, duas prostitutas ou melhores duas trabalhadoras do sexo, que conhecem-se e apaixonam-se no trabalho: ’Um ‘negócio’ frequentemente mal representado no cinema é retratado aqui neste filme com objectividade e sensibilidade. Estas personagens são retratadas com profundidade, credibilidade e autenticidade.

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‘Die Welt wird eine andere sein (Copilot)’, de Anne Zohra Berrached, no Panorama.

O Médio Oriente parece estar também particularmente bem representado este ano no Panorama com quatro jovens realizadores do Líbano, Israel e Egito: Em ‘Souad’, o realizador egípcio Ayten Amin explora a tensão entre as restrições sociais impostas e a auto-realização pessoal. Em Miguel’s War’, por outro lado, acompanhamos a história de um homossexual que fugiu da guerra e da repressão do Líbano até à Madrid hedonista da era pós-Franco. 37 anos depois, Miguel regressa com a realizadora Eliane Raheb, ao Líbano para enfrentar seus conflitos internos. Numa estreia como realizador George Peter Barbari apresenta, Death of a Virgin, and the Sin of Not Living’, sobre um grupo de jovens libaneses que viaja para visitar uma trabalhadora do sexo, para seu primeiro encontro sexual num filme que desconstrói um  global rito de passagem masculino. Em Mishehu Yohav Mishehui’ (All Eyes Off Me), o realizador Hadas Ben Aroya explora em cativantes imagens as fronteiras entre desejo e vulnerabilidade. Um olhar crítico sobre as práticas coloniais e a urgência de resistência marca outro foco da seleção do Panorama de 2021. Em ‘Night Raiders’, a realizadora canadiana Danis Goulet, criou uma fábula feminista-distópica sobre umas supostas Primeiras Nações, contando a história de uma luta coletiva contra um regime militar fascista. Na obra híbrida ‘A Última Floresta’, somos convidados a viajar até aos mitos da criação do povo Yanomami no Amazonas, com o realizador brasileiro Luiz Bolognesi, que mostra a luta dos índios, pela preservação de seu habitat e das suas tradições. Os documentários da programação de 2021, fornecem-nos narrativas sobretudo na primeira pessoa: são estudos de personagens e reflexões ficcionais sobre a própria produção de documentários. Após uma longa ausência, Angelo Madsen Minax regressa à sua família no grande sertão americano: em ‘North By Current’ segue-se uma reconciliação familiar após uma perda trágica e reflete-se sobre a masculinidade transgênero de Minax. Produzido pelo italiano Roberto Minervini, o filme de Dirty Feathers’, de Carlos Alfonso Corral retrata as dificuldades e as esperanças dos seus protagonistas, os sem-tecto que vivem das ruas das cidades fronteiriças de El Paso e Ciudad Juárez, no México. Este filme é um retrato enfático de futuros pais, filhas e veteranos, na sua luta pela sobrevivência à margem da sociedade. No filme de ficção japonesa ‘Yuko No Tenbin’ (A Balance), de Yujiro Harumoto aborda-se o equilíbrio perfeito que existe no documentário entre verdades reais e cinematográficas e questiona-se se será permitido colocar uma contra a outra: a ficção e a realidade. Durante este EFM virtual no início de março, haverá ainda painéis e discussões com curadoria da equipa do Panorama, em colaboração com a dos Teddy Awards que serão transmitidos ao vivo diariamente para a indústria e público no site dos Teddy (www.teddyaward.tv). A seguir com atenção!

JVM

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