Double Vies

75º Festival de Veneza (3) | ‘Doubles Vies (Non Fiction)’: O Mundo Moderno

A linha entre a escrita, novas tecnologias e as redes sociais, tocam a vida de dois casais em ‘Doubles Vies (Non Fiction)’, do francês Olivier Assayas, outro dos filmes da competição de Veneza 75.

Double Vies
Vincent Macaigne é um escritor em crise criativa e quer publicar.

O realizador francês é um investigador das subtis contradições e dos sentimentos humanos profundos, como por exemplo em: ‘Tempos de Verão’ (2008) ou ‘Personal Shopper’ (2016), entre outros. Em ‘Doubles Vies (Non Fiction)’, Alain (Guillaume Canet), um bem-sucedido editor parisiense começa uma luta para se adaptar à revolução digital e tem dúvidas sobre a publicação do novo livro de Léonard (Vincent Macaigne), um de seus autores de longa data (e quase um amigo pessoal), pois trata-se de mais uma obra de auto-ficção reciclando um caso de amor, com uma pequena celebridade. Selena (Juliette Binoche), a esposa de Alain, é famosa atriz de teatro (e de televisão por encargo), é de opinião contrária à do marido, que aparentemente resiste à mudança.

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ENTREVISTA DE OLIVIER ASSAYAS

A questão do filme muito bem interpretado e com os magníficos diálogos é de uma espantosa e inteligente actualidade: ‘Doubles Vies (Non Fiction)’ põe à prova a nossa capacidade de estar atentos a este fluxo de novidades, e entender o que realmente está em jogo, para adaptar-nos ou não a este mundo moderno. A globalização e sobretudo a digitalização do nosso mundo e sua redução a algoritmos é efectivamente um paradigma de mudança que incansavelmente nos confunde e domina. A economia digital infringe as regras e às vezes até as leis, por isso temos de estar atentos a esses mecanismo de manipulação, sendo que também há algo de bom nisto tudo.

Doubles Vies
Guillaume Canet é um editor de livros com dificuldade em adaptar-se ao digital.

Além disso, ‘Doubles Vies (Non Fiction)’ questiona que parecia estável e sólido na sociedade em que fomos educados e na realidade à nossa volta: um curso superior, uma casa, um emprego e um casamento para toda a vida. Algo que pode dissolver-se num mero contato ou de um momento para o outro. ‘Doubles Vies (Non Fiction)’  é um filme intimista, quase parece uma peça de teatro, não analisa o funcionamento da nova economia digital, nem o paradigma do negócio dos media tradicionais. A sua intenção mais modesta, pois é apresentar-nos quatro deliciosos personagens que podiam ser nossos amigos, conhecidos ou nós próprios e ajudar-nos a observar essas questões que nos afetam, pessoal, emocional e socialmente, de uma forma muito inteligente e divertida.

José Vieira Mendes (em Veneza)

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