"Nomadland" integra a programação do Festival

77º Festival de Veneza: ‘Nomadland’ é Leão de Ouro 2020

‘Nomadland’, da cineasta de origem chinesa Chloé Zhao, uma crónica de outros ‘super-heróis’, que lutam para sobreviver numa América que os rejeita e com Frances Macdormand como protagonista,  é o Leão de Ouro de Veneza 77.  Aqui todos os Leões incluíndo os prémios de ‘Listen’, da portuguesa Ana Rocha de Sousa.

A realizadora de ‘Nomdaland’, Chloé Zhao é efectivamente uma cineasta com uma enorme sensibilidade, embora já tenha participado também em projectos maiores e de grande orçamento da Disney, com o filme da Marvel: ‘Eternals’, em pós-produção, sobre os super-heróis, defensores da Terra, o comic criado por Jack Kirby. Pode ser estranho à primeira vista que uma cineasta-independente habituée do Festival de Sundance,  assine um trabalho no mundo dos blockbusters de super-heróis. Contudo Zhao é uma cineasta que se tem preocupado principalmente em revelar histórias de ‘outros super-heróis’, como Fer (Frances Macdormand) e os outros protagonistas reais de ‘Nomadland’, personagens essas que marcam igualmente os seus filmes anteriores. E isso explica muito sobre os seus novo filmes e o seu talento.

Veneza 77

Por exemplo, ‘Songs My Brothers Taught Me’, um belo filme passado numa reserva indígena em Dakota do Sul, é uma tocante história de  familia e exclusão social de um grupo étnico; e depois o maravilhoso ‘The Rider’, é um obra notável de ficção na estética neo-realista, que conta a história de um jovem cowboy, campeão de rodeios que é forçado a abandonar a sua actividade por causa de um acidente que o coloca inutilizado. ‘The Rider’ é um western crepuscular moderno, com uma nova narrativa sobre o oeste, mostrando que este não é mais uma terra prometida, mas antes um destino fisico onde avança com cada vez mais rapidez o individualismo e a exclusão social, não dando tempo nem espaço para sonhar com uma nova vida aos seus protagonistas.

‘Nomadland’ acaba por ser mais um capítulo desta história dos EUA da actualidade, da grande democracia americana, de um país onde há afinal há muitas pessoas esquecidas, excluídas e entregues à sua própria sorte. E em ‘Nomadland’, Zhao, continua a sua jornada cinematográfica,— ‘see you down the road’ — pelo oeste dos EUA, falando sobre e com essas pessoas reais, usando Frances McDormand para as convencer a desabafar e a se identificar com esse modo de viver (ou sobreviver) daqueles que não suportam o olhar de um mundo e uma sociedade que os ignora e rejeita. A actriz vencedora de dois Óscares da Academia consegue obviamente entrar na perfeição neste papel, dando continuidade às suas personagens de filmes anteriores e a essa sua tradição de representar no cinema mulheres americanas de uma extraordinária força e coragem. ‘Nomadland’ é pois mais um western moderno e uma jornada sem fim feita numa auto-caravana, onde vagueiam ainda muitos fantasmas da crise económica do imobiliário passada e também da actual forçada pela pandemia, onde os pioneiros modernos do oeste, são um grupo de rejeitados, de nómadas motorizados, que buscam pelas estradas do Nevada, ou por outras dos EUA, um emprego, uma forma de ganhar dinheiro ou simplesmente um pedaço de vida e dignidade.

Leões de Veneza 77:

Leão de Ouro: “Nomadlad”, de Chloé Zhao
Grande Prémio do Júri: “Nueve Orden”, de Michel Franco
Prémio Especial do Júri: “Dear Comrades”, de Andrey Konchalovskiy
Realização: Kiyoshi Kurosawa, por “Wife os a Spy”
Melhor Atriz: Vanessa Kirby, por “Pieces of a Woman”
Melhor Ator: Pierfrancesco Favina, por “Padrenostro”
Melhor Argumento: Chaitanya Tamhane, por “The Disciple”
Troféu Marcello Mastroianni de Melhor Actor Estreante: Rouhollah Zaani, em “Sun Children”
Leão do Futuro: “Listen”, de Ana Rocha de Sousa
Melhor Filme da Orizzonti: “The Wasteland”, de Ahmad Bahrami
Prémio Especial do Júri da Orizzonti: “Listen”, de Ana Rocha de Sousa
Prémio da Crítica – Fipresci: “The Disciple”, de Chaitanya Tamhane

JVM

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