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78º Festival de Veneza | O Poder do Cão

Benedict Cumberbatch é o implacável protagonista de ‘The Power of Dog’, o regresso da realizadora Jane Campion à Competição de Veneza e ao género western, agora numa produção da Netflix.

The Power of Dog de Thomas Savage é um romance sublime que quando foi escrito em 1967 estava definitivamente à frente do seu tempo, na questão da representação da sexualidade reprimida. Por isso, mais tarde ou mais cedo estava destinado a uma adaptação ao cinema. Faz doze anos, desde ‘Bright Star-Estrela Cintilante’ (2009), que a realizadora e argumentista neozelandesa Jane Campion,— que ganhou o Oscar de 1994 por O Piano — não se dedicava a fundo ao cinema. Depois de criar, escrever e dirigir treze episódios da belíssima série de crime e mistério, Top of the Lake’, de 2013 a 2017, regressou ao cinema para adaptar e realizar esta adaptação que marca também o seu regresso ao oeste americano; e curiosamente pela primeira vez para trabalhar com protagonistas masculinos. Neste filme, os temas da masculinidade, nostalgia e traição tornam-se numa inebriante combinação dramática, reforçada com o equilíbrio entre a inquieta interpretação de Benedict Cumberbatch (Phil) e a subtileza de Jesse Plemons (George), nesta historia de conflito entre dois irmãos.

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A história passa-se, nos anos 20, já narra do automóvel, num rancho em Montana, onde os irmãos Phil (Benedict Cumberbatch) e George Burbank (Jesse Plemons), ricos criadores de gado foram criados e dormiam no mesmo quarto, durante quase 40 anos. Juntos, administram o dia-a-dia na sua enorme propriedade de criação de bovinos. George é um homem metódico e respeitável, enquanto Phil é um turbilhão de energia, com aspectos sombrios perturbadores na sua personalidade: apesar de ser um leitor ávido, habilidoso artesão e músico de bandolim, é também um valentão feroz e dominador, atormentado por profunda homofobia. Quando George se casa com Rose (Kirsten Dunst), uma bela viúva vizinha, esta muda-se para o rancho, com seu inteligente mas problemático filho Peter (Kodi Smit-McPhee), pelo menos no que diz respeito aos modelos da masculinidade vigente no mundo dos cowboys. Phil fica bastante perturbado e imediatamente tenta destruir a relação com Rose, que vê como uma intrusa intolerável, acompanhada por um filho que ele considera desdenhosamente ‘afemininado’. Em princípio reina a intolerância mas as coisas vão pouco a pouco e misteriosamente se alterando. Numa história que tem fortes ecos de um filme clássico como A Leste do Paraíso (1955), de Elia Kazan, e do mais recente O Segredo de Brokeback Mountain (2005) de Ang Lee, a realizadora explora subtilmente em tons de mistério, várias facetas da mente humana e suas patologias, bem como de comportamentos que vão da violência aos tabus e segredos em relação à homossexualidade.

JVM

José Vieira Mendes

Jornalista, crítico de cinema e programador. Licenciado em Comunicação Social, e pós-graduado em Produção de Televisão, pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. É actualmente Editor da Magazine.HD (www.magazine-hd.com). Foi Director da ‘Premiere’ (1999 a 2010). Colaborou no blog ‘Imagens de Fundo’, do Final Cut/Visão JL , no Jornal de Letras e na Visão. Foi apresentador das ‘Noites de Cinema’, na RTP Memória e comentador no Bom Dia Portugal, da RTP1.  Realizou os documentários: ‘Gerações Curtas!?’ (2012);  ‘Ó Pai O Que É a Crise?’ (2012); ‘as memórias não se apagam’  (2014) e 'Mar Urbano Lisboa (2019). Foi programador do ciclo ‘Pontes para Istambul’ (2010),‘Turkey: The Missing Star Lisbon’ (2012), Mostras de Cinema da América Latina (2010 e 2011), 'Vamos fazer Rir a Europa', (2014), Mostra de Cinema Dominicano, (2014) e Cine Atlântico, Terceira, Açores desde 2016, até actualidade. Foi Director de Programação do Cine’Eco—Festival de Cinema Ambiental da Serra da Estrela de 2012 a 2019. É membro da FIPRESCI.

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