70 º Festival de Cannes (Dia 3) | ‘Okja’ e a Revolução Netflix

‘Okja’ do coreano Bong Joon Ho, teve a sua projecção de imprensa interrompida por um problema técnico no formato do ecrã e o logotipo da Netflix no genérico inicial provocou reações bem fortes. Apesar dos inevitáveis rumores de uma possível sabotagem, espalhados nas redes sociais logo no momento da pausa, o Festival apresentou de imediato desculpas relativas à questão técnica, em comunicado oficial.

Okja, o terceiro filme desta Competição 70 do Festival de Cannes era um dos concorrentes mais aguardados pela crítica e festivaleiros. Em primeiro lugar porque é um regresso do jovem prodígio sul-coreano Bong Joon-ho (47 anos), realizador do maravilhoso The Host-A Criatura (2006), entre outros filmes brilhantes; e depois por ser quase como sempre nos seus filmes anteriores um conto humanista, este que cruza uma grande história de amor pelos animais e a ecologia, em contraste com os grandes interesses económicos, e a manipulação genética. No entanto, é um dos filme que tem criado mais polémica, devido ao conflito entre os distribuidores e exibidores franceses e a Netflix, que se recusa a estrear o filme nas salas e apenas em exclusivo na sua plataforma de VOD. Depois da reação jurídica do Festival que levou à mudança de regulamentos, a polémica acentuou-se com as declarações de Pedro Almodovar, o presidente do júri na conferência de Imprensa de quarta passada. E por ironia do destino entre os aplausos de uns e apupos de outros a famosa projecção das 8h30 da manhã, foi interrompida passados 5’ de filme, devido a um erro no formato de ecrã, aliás bastante contestado e assobiado pela audiência.

Okja

A partir daí a projecção decorreu normalmente, embora durante a referida pausa para a resolução do problema, começassem nas redes sociais (facebook e twitter) a ser lançadas suspeitas de sabotagem no ecrã de Grand Théâtre Lumière. Um rumor que aliás o Festival reagiu de imediato contrariando através de um comunicado oficial pedido desculpa aos espectadores e à equipa de Okja, que terminou curiosamente com fortes aplausos.

Ver Comunicado do Festival 

Aliás a equipa do filme foi a primeira a defendê-lo na conferência de imprensa de Okja que se segui à projecção e terminou à poucas horas: Há espaço para todos, declarou Tilda Swinton, a cabeça de cartaz do elenco, quando questionada sobre a controvérsia e o facto de Almodóvar ter declarado que uma Palma de Ouro tem de estrear nas salas. É importante que o presidente do júri se sinta livre de dizer o que pensa, acrescentou a actriz britânica. Por seu lado, a Netflix apoiou-me, confiou-me um budget importante e uma liberdade criativa total, em todas as fases da rodagem à montagem. Eles respeitaram o meu trabalho, reforçou o realizador Bong Joon-ho. Pedro Almodovar pode dizer o que quiser e eu estou muito feliz de estrear o meu filme aqui esta noite. Eu sou um admirador de  Pedro e aconteça o que acontecer, bom ou mau, vou continuar a gostar dele, acrescentou Bong Joon-ho, fechando de certo modo a polémica.

Okja
Tilda Swinton faz dois papéis.

Quanto a Okja propriamente dito, trata-se de uma fabula de ficção-cientifica, mesmo passada na actualidade. Okja coloca em primeiro plano a figura de um super-porco (uma terna mistura de bulldog-porco-hipopótamo), criado por manipulação genética pela multinacional Mirando, com o intuito de resolver o problema da fome no mundo. Um exemplar de cada destes animais é enviado para os vários cantos do mundo para crescerem, antes de um regresso à sede da empresa em Nova Iorque, para um concurso que premiaria o mais belo entre todos. Durante dez anos Okja vive e cresce no interior da Coreia, na quinta de um velho homem e da sua pequena neta Mija, inseparável do bicho. Quando Okja é escolhido pela Mirando para ir Nova Iorque, a jovem Mija reage com todas as suas forças. Das belas florestas montanhosas coreanas a Nova Iorque, passando por Seul, a odisseia do bicho e da sua dona vai passar por muitas incertezas e perigos.

Nma farsa grotesca, numa bela história de amizade, numa denúncia ecológica, Bong Joon-Ho mistura em Okja vários géneros e ritmos de cinema, como já tinha feito em The Host-A Criatura (2006). Mas retirando-lhe agora a dimensão terrorífica e acrescentando-lhe sentimentos e emoções doces. O filme tem um bocadinho de Totoro, do grande Hayao Miyazaki e um pouco de King Kong, principalmente na terna relação entre Mija e Okja, um animal criado com um realismo surpreendente através do processo de animação digital.

 

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Entre o clássico e aquele moderno agitado e rápido movimento de câmera, a realização de Bong Joon-ho é como sempre excelente entre o suave e o excitante, entre as belas imagens da montanha coreana — elemento essencial e o habitat quase natural do bicho — e as perseguições dos camiões nas ruas de Seul, colocando novamente a questão do tamanho do ecrã de que falou Pedro Almodóvar na conferência de imprensa do júri. Okja — concorde-se ou não com a decisão da Netflix — é uma obra de cinema e a melhor maneira de a ver é num grande ecrã de cinema. Tal como em The Host-A Criatura, o realizador coreano faz uma apelo às consciências ecológicas. Não é difícil imaginar que  com a empresa Mirando, nos venha de imediato à cabeça a Monsanto — a multinacional alimentar e química, responsável entre outras coisas pela criação do milho transgénico e quem sabe de outras manipulações genéticas que desconhecemos —  e que os activistas da AFA, que ajudam Okja e Mija, sejam por exemplo entre as muitas espalhadas pelo mundo inteiro, a L214, uma famosa organização de protecção dos animais, referida igualmente na conferência de imprensa.

Jake Gyllenhaal é o médico veterinário.

O elenco é global que demonstra também que as portas da grande internacionalização estão escaqueiradas para Bong Joon-ho, passe o filme ou não nas salas. Além dos actores coreanos Byun Heebong, Steven Yeun e onde se destaca a jovem Ahn Seo-Hyun (13 anos), descoberta em The Housemaid (2010), de Im Sang-soo, conta além da britânica Tilda Swinton — também produtora executiva do filme, com Brad Pitt — interpretando a impiedosa patroa da Mirando e com Jake Gyllenhaal, na pele de um ridículo e cabotino veterinário, apresentador de reality show televisivo, contratado pela empresa, para dar aval ao processo de criação dos animais. Paul Dano e Lily Collins interpretam os activistas pelos direitos dos animais. Okja estará disponível na Netflix a 28 de Junho e não creio que venha a estrear nas salas, mesmo que ganhe a Palma de Ouro, o que segundo Pedro Almodóvar vai ser difícil.

Okja
Swinton e Gyllenhaal são os maus-da-fita.

Em resumo Okja é uma aventura futuro-realista, com uma energia louca, que não para de nos surpreender, divertir e emocionar como no cinema e por isso devia passar também nas salas, nem que seja com as pipocas.

Acompanha mais novidades de Okja através das redes sociais da @netflix e @OKJAnetflix. Através de @LucyMirando, recebe mais informações sobre a Mirando Corporation.

JVM


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