Veneza 74 (3) | As Noites de Fonda e Redford
Depois de Paul Schrader, hoje voltou a ser um dia de homenagem à velha Hollywood: Jane Fonda e Robert Redford, receberam um Leão de Ouro Honorário e estiveram juntos na estreia do filme ‘Our Souls at Night’, de Ritesh Batra, exibido fora de competição e produzido pela Netflix.
Depois da polémica em Cannes, todos os festivais parece convertidos à Netflix, é o caso da Mostra de Veneza e de Toronto na sua programação que vai inaugurar daqui a dias. Produzido por Robert Redford, originalmente para a Netflix — quer isto dizer com estreia exclusiva marcada para o início de Outubro, na plataforma — Our Souls at Night reuniu as duas ‘velhas’ estrelas, novamente como par romântico desde Descalços no Parque (1967). Our Souls at Night é baseado no livro de Kent Haruf e dirigido pelo realizador-revelação Ritesh Batra (A Lancheira), e serviu de pretexto para esta significativa homenagem a uma Hollywood que já não existe e promovendo uma nova distribuição cinema. Quer queiramos ou não — e ouviu-se uns apupos quando apareceu o logo da Netflix na grande tela da Sala Darsena — o futuro do cinema vai passar muito pelas plataformas como a Netflix.
E depois porque a razão deste Our Souls at Night, serve sem dúvida para contrariar a tendência de mercado, muito voltada para o público mais jovem, e por isso é cada vez mais necessário satisfazer o espectador mais velho. É o marketing da Netflix a funcionar.
VÊ O TRAILER DE ‘OUR SOULS AT NIGHT’
Jane Fonda e Robert Redford, ainda estão em forma, apesar das suas quase seis décadas de carreira. Our Souls at Night descreve o relacionamento de dois vizinhos viúvos, que redescobrem o amor já no fim da vida. Centra-se nas personagens de Addie Moore (Jane Fonda) e de Louis Waters (Robert Redford), dois idosos que vivem numa pequena localidade do Colorado. Apesar de sempre terem vivido perto um do outro, Addie e Louis nunca foram muito próximos, embora tivessem uma certa admiração um pelo outro. Essa relação começa a mudar depois de Addie fazer uma visita inesperada a Louis, procurando estabelecer uma ligação. Com os filhos longe, começam então um relacionamento que se torna tema de conversa no bairro inteiro.
É curioso ver que apesar de serem filmes bastante diferentes, a dinâmica dos personagens Our Souls at Night acaba por ser muito semelhante a de Descalços no Parque (1967): este falava sobre um jovem casal apaixonado que se casa e descobre as idiossincracias do amor; neste vemos dois idosos que tinham esquecido o que era ter alguém e que redescobrem uma paixão.
Our Souls at Night é efectivamente uma história de pessoas comuns tão distintamente específicas que acaba por se tornar um filme universal. No entanto, o filme explora de certo modo a paisagem e o tipo de vida do interior dos EUA, que não será muito diferente de qualquer bairro de uma cidade europeia. Sobretudo é um filme que mostra como esses personagens agem delicadamente para permanecerem juntos, para combaterem a solidão ou como as suas escolhas individuais, ligadas aos filhos acaba por afectar o seu relacionamento. Uma história já antiga. E depois é delicioso ver um drama sobre esse ciclo de amor e sobre a perda, que no fundo mostra a vida como ela é. O grande cinema pode estar igualmente nas pequenas questões do quotidiano e das nossas diferentes fazes de vida.
Our Souls at Night, conta ainda com a participação dos atores Bruce Derm, Judy Greer, Matthias Schoenaerts e Ian Armitage, além de Robert Redford e Jane Fonda. Curiosamente é também na Netflix, que Jane Fonda vive uma outra história de relacionamentos na terceira idade, na já famosa série Grace & Frankie.
José Vieira Mendes