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Jovens Mães, a Crítica | Um filme humano sobre a gravidez na adolescência

Está prestes a estrear em Portugal o novo filme de Jean-Pierre e Luc Dardenne. Os irmãos belgas venceram no último Festival de Cannes o prémio de Melhor Argumento com a longa-metragem “Jovens Mães” (2025).

A nova obra dos irmãos aborda uma temática delicada: a gravidez na adolescência. É um filme muito profundo e que deves mesmo ver.

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Qual a narrativa de Jovens Mães?

Jovens Mães
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Para quem já viu algum dos filmes realizados por Jean-Pierre e Luc Dardenne, já sabe (mais ou menos) que vai sempre contar com uma história sensível, íntima e profunda sobre coisas ‘simples’ da vida. E “Jovens Mães” não é (felizmente) exceção!

“Jovens Mães” é um filme que regressa a uma temática já abordada em filmes anteriores dos irmãos, ainda que nunca de uma forma tão ampla. Nesta obra assistimos à vida de cinco mães adolescentes que moram numa casa de acolhimento que as ajuda nesta difícil aventura da maternidade juvenil. Todas elas têm problemas que lhes complicam ainda mais a maternidade: namorados que não aceitam os filhos, problemas de toxicodependência, uma gravidez forçada… Os irmãos Dardenne conseguem dar-nos uma ficção intimista e muito próxima do olhar documental como, aliás, acontece na grande maioria das suas obras.

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Estreia nos cinemas portugueses na próxima quinta-feira 11 de dezembro.

Uma narrativa multiplot muito profunda

“Jovens Mães” é um filme íntimo mas, ao mesmo tempo, muito cru. Jean-Pierre e Luc Dardenne trazem-nos uma narrativa onde nada fica por dizer. Mesmo os silêncios falam por si. Nesse aspeto, por exemplo, esta é uma obra que quase não tem uma banda sonora musical; característica, aliás, recorrente nos seus filmes. Os realizadores optaram por não utilizar música a caracterizar as cenas ou personagens e, assim, toda a banda sonora envolvente dos sons da cena (diálogos e não só) tem toda uma outra leitura próxima do real do nosso dia-a-dia.

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Por exemplo: logo a abrir o filme temos o som de um autocarro a atravessar o plano. Isto é um som natural, estamos automaticamente dentro deste universo de “Jovens Mães”. Por outro lado, a música quando é utilizada – neste caso, na última cena do filme – tem um objetivo claro. É simultaneamente um reencontro/reaproximação entre a aluna e a professora e um momento doce e afetivo para o bebé que escuta o piano.

Mas a grande conquista de “Jovens Mães” é, efetivamente, o argumento. O prémio ganho no último Festival de Cannes foi, portanto, bem merecido. Devo confessar que a montagem (inicialmente) paralela me assustou nos primeiros 25 minutos de filme. Fiquei com a sensação de que os realizadores estavam a desperdiçar uma boa história ao estarem a desequilibrar a duração de cada uma das histórias que nos estavam a ser introduzidas. No entanto, tudo muda quando as personagens se cruzam na instituição onde vivem e a montagem passa, assim, a ser alternada entre as diferentes mães da narrativa.

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Cheguei, depois, à conclusão que esta escolha deliberada de montagem no filme é, de facto, essencial para obtermos a profundidade necessária na apresentação destas mães adolescentes. E, de facto, chegamos ao final da narrativa sem pontas soltas.

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O detalhe é tudo

Jovens Mães
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A temática da maternidade juvenil não é nova na filmografia dos Irmãos Dardenne. Por exemplo, em “A Criança” (2005), também o jovem casal Bruno e Sonia foram pais no início da vida adulta. Por outro lado, outras temáticas abordadas em “Jovens Mães” foram abordadas noutros filmes dos irmãos. Abandono parental em “O Miúdo da Bicicleta” (2011), bem como a adolescência vulnerável e dependências em “Rosetta” (1999) serão os dois exemplos mais próximos de “Jovens Mães”.

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Contudo, não quero com isto dizer que “Jovens Mães” é um filme sem nada de novo. Muito pelo contrário, aliás. Cada uma destas personagens tem uma história e vida próprias com as quais sentimos uma enorme empatia. E o trabalho das atrizes também é fenomenal. Sentimo-las mesmo na pele destas personagens. Mesmo os únicos dois pais adolescentes que nos são apresentados – Robin (interpretado por Günter Duret) e Dylan (Jef Jacobs) – são também excelentes nas suas interpretações. Este não é um filme com um protagonista único. Como tal, cada personagem tinha de ter o seu significado e presença na narrativa. E esse trabalho de caracterização e profundidade nas personagens é também uma mais-valia do argumento de “Jovens Mães”.

Os conflitos a resolver

Todas estas mães estão perante um conflito que terão de resolver e não desistem enquanto não o fizerem. As suas gravidezes precoces também lhes levaram a esta garra. Jessica (Babette Verbeek) não desiste enquanto não conseguir ter uma relação com a sua mãe que lhe abandonou à nascença, Perla (Lucie Laruelle) quer formar uma família com Noé e Dylan, Ariane (Janaïna Halloy Fokan) quer dar a sua filha para adoção porque nunca quis engravidar e Julie (Elsa Houben) está instável porque tem medo de ter uma recaída na sua dependência. Apenas Naïma (Samia Hilmi) é apresentada como personagem secundária. Sabemos que ela também queria dar a sua filha para adoção mas acabou por concluir que seria mãe solteira. O seu conflito já está resolvido na narrativa e, por isso, a sua situação serve de consolo e modelo a seguir para as restantes mães.

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Personagens completas

Jeunes Mères - personagens
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Ao longo da narrativa as histórias de Jessica, Perla, Ariane e Julie vão-nos sendo apresentadas a pouco e pouco. Jessica consegue que a sua mãe a aceite como filha, ainda que não se comprometa a qualquer relação a longo prazo. É a luz ao fundo do túnel que ela precisava. Perla fica sem namorado mas consegue reatar uma difícil relação com a irmã e ter a ajuda dela. Ariane rompe a relação com a sua mãe e dá mesmo a sua filha para adoção, rompendo assim o ciclo que a sua mãe tinha iniciado com ela. Por fim, Julie casa-se com Dylan e conseguem um apartamento; isto mesmo depois de uma recaída que ela tem mas que chega à conclusão que, ainda assim, é uma vencedora. Todas as personagens acabam por ter um final feliz. Certo que, na vida real, isso pode não ser bem assim mas dá-nos uma esperança.

Estamos, portanto, perante personagens frágeis e instáveis mas que conseguem, no final, vencer e aceitarem a sua condição de mães jovens.

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Resta-me ainda falar de um outro ponto importante de “Jovens Mães”: a fotografia do filme. Na verdade, para conhecedores da obra de Jean-Pierre e Luc Dardenne, não há nada propriamente de novo. A câmara à mão e os planos próximos quando são necessários e menos próximos quando o espaço também é importante são uma forma clara de dar uma participação ativa da câmara na narrativa. Não, não há propriamente planos de olhares subjetivos das personagens. No entanto, a instabilidade da câmara cruzada com a instabilidade destas personagens é mais uma forma de tornar este filme uma experiência social e sensorial que nos faz habitar o mesmo mundo destas personagens.

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Algumas conclusões de Jovens Mães

Jovens Mães
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Nos últimos anos, a obra dos Irmãos Dardenne tem estado um pouco esquecida. Inclusive, há dois filmes – “A Rapariga Desconhecida” (2016) e “Le jeune Ahmed” (2019) – que nunca estrearam comercialmente em Portugal… Esperemos que, com o prémio de Melhor Argumento em Cannes, as coisas mudem. Isto é ainda mais estranho especialmente considerando que os irmãos são dos poucos autores a terem vencido duas Palmas de Ouro (com “A Criança” e “Rosetta”).

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“Jovens Mães” é um retrato realista e cru sobre uma problema intemporal: a gravidez na adolescência. Os Irmãos Dardenne não têm medo de esconder as emoções destas personagens e passam para nós, espectadores, todos os sentimentos de pertença e de ligação a esta narrativa.

Este é um filme que nem sabíamos que precisávamos mas que saímos dele com um misto de sensações impagável. Uma pequena janela para refletir sobre a nossa própria vida, mesmo que não estejamos nas mesmas situações destas personagens.

Jovens Mães

Conclusão

  • O novo filme de Jean-Pierre e Luc Dardenne, “Jovens Mães” é mais um drama íntimo e de olhar realista ao qual os irmãos já nos habituaram ao longo da sua filmografia.
  • Cada uma destas mães tem uma presença própria na narrativa e conseguimos sentir uma verdadeira empatia pelas suas difíceis situações.
  • Não sendo uma obra-prima completa, está bem perto disso. Poderia ter havido um equilíbrio ligeiramente maior na apresentação das personagens e, eventualmente, na apresentação da situação de Naïma. No entanto, não é algo que prejudique a experiência do filme como um todo.
  • O argumento e as personagens são, efetivamente, o ‘brilho’ de “Jovens Mães”.
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9/10
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