Os Melhores Actores de 2025 | Contra os Algoritmos e a IA Ganhou o Corpo
As grandes interpretações de 2025, ou como os actores de carne e osso lembraram ao cinema que nenhuma inteligência artificial sabe o que custa envelhecer, sofrer, falhar e arriscar um corpo diante de uma câmara.
Dizem, com uma insistência quase religiosa, que o cinema está a morrer. Que as estrelas perderam peso, que o carisma se diluiu no streaming e que a interpretação se tornou um detalhe secundário entre IPs reciclados, universos partilhados até à exaustão e prompts de inteligência artificial capazes de gerar um rosto, uma voz e uma emoção em segundos. E há quem diga isso com ar de inevitabilidade histórica, como se o fim estivesse escrito num algoritmo. 2025 respondeu de outra forma: respondeu com actores. Actores de carne, osso, memória e risco. Actores que fumam o inferno, dançam a condição humana, perdem a cabeça, o corpo, o estatuto, a beleza e, em alguns casos, a própria imagem pública. Actores que entendem que representar não é ilustrar emoções, mas atravessá-las. Que sabem que o cinema continua a ser, antes de tudo, um corpo colocado em frente a uma câmara, disposto a falhar. Esta não é — nem pretende ser — uma lista “definitiva”. Isso não existe. É antes um mapa possível de um ano extraordinário, em que a interpretação voltou a ser um verdadeiro acto de risco artístico, físico e moral. Um ano em que, contra todas as previsões apressadas, os actores voltaram a mandar e bem.

15. Tânia Maria — “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho
Há actores que entram em cena em 2025 para se afirmarem. Tânia Maria entrou para a História. Bastaram-lhe alguns segundos, um cigarro, um corpo que carrega décadas e um olhar que sabe exactamente onde está e contra quem. A sua personagem não explica nada: simplesmente existe. E essa existência — carregada de resistência, ironia, dignidade e sobrevivência — vale mais do que muitos monólogos premiados. Não é apenas a melhor interpretação de “O Agente Secreto”; é uma daquelas aparições raras que redefinem o que queremos dizer quando dizemos “presença”.

14. Timothée Chalamet — “Marty Supreme”, de Josh Safdie
Durante anos, Timothé Chalamet foi o “quase”: quase grande, quase decisivo, quase lendário. Em “Marty Supreme”, deixa de pedir licença para ser um dos melhores actores de 2025, depois aliás de “A Complete Unknown”. No seu novo filme, cria uma criatura irritante, genial, moralmente intragável e completamente magnética. Não queremos ser este homem. Queremos vê-lo ganhar. É o momento em que um actor deixa de ser promessa e passa a problema sério para todos os outros. Sessões especiais a partir de 8 de Janeiro, estreia oficial a 22 de Janeiro de 2026.

13. Jessie Buckley — “Hamnet”, de Chloé Zhao
O luto raramente é tão físico. Jessie Buckley transforma Agnes num corpo que pensa, reage, se quebra e se recompõe diante da arte como quem descobre o fogo. Há um momento — uma mão estendida, um olhar suspenso — em que o cinema parece lembrar-se de porque existe. Buckley não representa emoções: atravessa-as em 2025. O filme “Hamnet”, tem estreia prevista para 27 de Fevereiro de 2026.

12. Delroy Lindo — “Pecadores”, de Ryan Coogler
Três minutos chegam para Delroy Lindo ter uma das maiores interpretações de 2025. Dentro de um carro. A falar de mortos em “Pecadores”. Delroy Lindo condensa gerações, violência, música e memória num discurso que parece improvisado pela própria História. É uma aula de economia expressiva: tudo o que diz pesa, tudo o que cala ecoa. Um actor em estado de graça tardia, o melhor tipo de graça.

11. Wagner Moura — “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho
Interpretar em movimento é mais difícil do que parece. Wagner Moura faz de Armando um homem que observa para sobreviver. Cada passo é cálculo, cada silêncio é defesa. Quando o filme revela a última camada da personagem, percebemos que estivemos a assistir a uma interpretação em time-lapse e talvez a única do género em 2025. Cinema como erosão lenta, precisa e devastadora.

10. Gwyneth Paltrow — “Marty Supreme”, de Josh Safdie
Gwyneth Paltrow regressa em 2025 não como nostalgia, mas como poder consciente. A sua Kay Stone de “Marty Supreme” é glamour, ironia e cansaço estratégico. Joga com o próprio mito, regula a voltagem do estrelato e lembra-nos que as grandes estrelas sabem exactamente quando usar — e quando esconder — a sua luz. E a luz dela é tremenda.

9. Rose Byrne — “If I Had Legs I’d Kick You”, de Mary Bronstein
Há interpretações que pedem contenção. Esta pede coragem. Rose Byrne cria uma mãe à beira do colapso com tal intensidade que os outros actores parecem figurantes da sua implosão. É comédia que vira terror, maternidade que vira vertigem. Um salto sem rede, visto no Tribeca Festival Lisboa 2025. Também Prémio de Melhor Actriz no Festival de Berlim 2025. Ainda sem data de estreia comercial em Portugal.

8. Julia Roberts — “Depois da Caçada”, de Luca Guadagnino
Julia Roberts como anti-estrela é sempre fascinante. Aqui, em “Depois da Caçada” é ainda mais cruel. Fria, estratégica, fisicamente doente de stress, constrói uma personagem que não quer ser amada, quer apenas sobreviver. É um murro no carisma clássico e um lembrete de que o risco também envelhece bem em 2025.

7. Jacob Elordi — “Frankenstein”, de Guillermo del Toro
Guillermo del Toro deu-lhe em 2025 um corpo remendado. Jacob Elordi deu-lhe uma alma em aprendizagem. Há ternura, medo e uma fisicalidade quase coreográfica nesta criatura “Frankenstein” que aprende a ser humana enquanto o mundo insiste em tratá-la como coisa. Um trabalho corporal raríssimo num actor tão “olhado”, frequentemente reduzido à elegância e à beleza.

6. Kirsten Dunst — “Um Ladrão no Telhado”, de Derek Cianfrance
Kirsten Dunst não actua emoções: vive-as dentro de uma vida banal em “Um Ladrão no Telhado”. A sua Leigh é uma mulher comum a cometer escolhas perigosas sem dramatização excessiva. É isso que torna tudo mais devastador. Cinema sem filtro, sem rede, sem protecção em 2025.

5. Liam Neeson — “The Naked Gun – Onde É Que Pára a Polícia?”, de Akiva Schaffer
O rosto imperturbável como conceito filosófico. Liam Neeson transforma o deadpan numa arma letal, recusando qualquer piscadela de olho ao espectador em “The Naked Gun – Onde É Que Pára a Polícia?”. Também a comédia nasce do rigor absoluto em 2025. Uma aula de como não “fazer graça”.

4. Renate Reinsve, Inga Ibsdotter Lilleaas e Stellan Skarsgård — “Valor Sentimental”, de Joachim Trier
Três actores Renate Reinsve, Inga Ibsdotter Lilleaas e Stellan Skarsgård a construir décadas de relação com uma precisão emocional assustadora, num dos melhores filmes europeus de 2025. Não parecem actores a fingir família: parecem família a fingir normalidade. Um equilíbrio raríssimo, sustentado por escuta, tempo e risco partilhado. “Valor Sentimental” tem estreia prevista para 26 de Janeiro de 2026.

3. Emma Stone e Jesse Plemons — “Bugonia”, de Yorgos Lanthimos
Dois actores Emma Stone e Jesse Plemons que se recusam a jogar pelo seguro e parecem divertir-se com isso. Stone já não tem medo de ir longe demais, pelo contrário, encontrou aí o seu território natural agora e finalmente em 2025. Plemons, por sua vez, descobriu finalmente o centro do caos, onde a apatia e a ameaça convivem. Juntos, em “Bugonia” empurram o absurdo até ao limite e transformam-no, paradoxalmente, numa estranha forma de sanidade.

2. Dwayne Johnson — “The Smashing Machine – Coração de Lutador”, de Benny Safdie
O maior truque de 2025 não foi técnico: foi saber esconder The Rock dentro de um homem frágil em “The Smashing Machine – Coração de Lutador”. Johnson baixa a voz, arrasta o corpo e carrega a vergonha como se fosse peso morto. Não impõe presença; ocupa o enquadramento com desconforto. Não desaparece dentro da personagem, habita-a, com esforço e risco. Num cinema obcecado com força e invencibilidade, esta recusa em ser herói é o seu gesto mais radical.

1. O elenco de “Batalha Atrás de Batalha”, de Paul Thomas Anderson
Quando a interpretação deixa de ser um acto individual e passa a ser um organismo colectivo. “Batalha Atrás de Batalha”, de Paul Thomas Anderson é um filme feito de corpos, vozes, gestos e conflitos que se contaminam e se amplificam. Cada actor parece existir antes e depois do plano, como se a câmara apenas apanhasse um fragmento de uma vida em curso. À maneira dos melhores momentos de Robert Altman, sentimos que aquela gente não foi criada para o filme e o filme é que foi criado para os acolher é sem dúvida também senão o melhor, um dos melhores de 2025.
JVM
